Há pouco menos de três anos, os policiais da Base Comunitária de Segurança Oscar da Silva, na Vila Guilherme, zona norte da capital, iniciaram um projeto que foi o marco na mudança no relacionamento entre a Polícia Militar e a comunidade. Os moradores se reúnem, na esquina das ruas Maria Cândida com Coronel Jordão, todas as sextas e sábados, para assistir os filmes do ‘Cinema na Praça’. Desde abril de 2005, cerca de 200 filmes já foram exibidos gratuitamente no local. “Já teve sessão com 80 pessoas”, conta orgulhoso o sargento Luis Carlos Pereira, de 41 anos, que ressalta que as cópias são cedidas por uma locadora da região.
Às 19 horas da última quita-feira, 24, véspera do feriado do aniversário da Cidade de São Paulo, que motivou a antecipação da exibição, cerca de 20 pessoas marcaram presença na Base Comunitária. Eles ficam sabendo detalhes da programação por meio de folders colocados na unidade e pela propaganda “boca a boca” das crianças, que representam a maioria do público. “Elas chegam aqui cedo, por volta das 13 horas, e ficam ansiosas perguntando quando começará o filme”, declara Pereira. Ricardo Gomes da Silva, de 7 anos, é uma dessas crianças. “Aqui é muito legal. Tenho muitos amigos aqui. Venho com meu padrinho, meu primo e minha tia.”
Os idosos apóiam a iniciativa e também estão entre o público cativo. O senhor Aníbal Freire, de 57 anos, conhecido por Xuxa, que visita a praça há seis meses e já se tornou amigo de todos os policiais, é um bom exemplo disso. Xuxa chega a base sempre por volta das 9 horas da manhã, retorna para sua casa para almoçar, e depois volta para a praça onde fica até umas 17 horas. “Se você vier aqui, pode ver que nunca me pegará triste. E se perguntar pelo Xuxa, verá que todo mundo aqui me conhece” diz o animado senhor, que é diabético e anda em uma cadeira de rodas motorizada.
O sargento Pereira ressalta que o evento ocorre também em datas festivas, como Natal, Páscoa e Dia das Crianças. “No Natal de 2007 sorteamos uma bicicleta e distribuímos brinquedos para a criançada. Mais de 80 crianças compareceram na Base Comunitária de Segurança”. Ele informou que aos sábados o movimento é sempre maior, principalmente em dias ensolarados.
O projeto ‘Cinema na Praça’ contribuiu muito, de acordo com Pereira, para a integração entre a PM e a comunidade. “As crianças freqüentam a Base o dia inteiro, antes nem passavam na porta. Elas têm liberdade para brincar e a relação com os policiais é bem próxima”, declara o sargento, que em seguida é abraçado por Jonatas Brás, de 8 anos. “É por isso que eu gosto dele”, diz o garoto. O sargento informou que os 17 policias da unidade participam voluntariamente do projeto.
Inclusão social
“Mães vêm pedir orientação sobre drogas. Elas pedem para irmos até a casa delas e conversar com os filhos para tentar trazer eles de volta a sociedade. Nós indicamos o Departamento de Investigações sobre Narcóticos (DENARC) e tratamentos. Muitos não possuem condições de pagar uma clínica particular, por isso procuramos conversar com os jovens. Hoje veio uma senhora pedindo que fossemos conversar com o filho dela que é usuário de drogas. Através desses projetos, mesmo sendo usuários de entorpecentes, eles vem à praça. A gente tenta dialogar, mas se o jovem não quiser se ajudar, não adianta” relata o sargento.
Os policiais ainda estão tentando realizar outro projeto com ex-internos da Fundação Casa que estão em liberdade assistida. Pereira conta que eles vão todo mês assinar e assistir aulas de música “Falta patrocínio para colocar esse pessoal na música. Queremos fazer com que eles aprendam a tocar um instrumento para tirá-los dessa vida”.
Carolina Ionta
Da Secretaria Estadual de Segurança Pública
(I.P.)
