Festival de Teatro de Tatuí reúne 7 mil pessoas

Espetáculos gratuitos, apresentações em praças, oficinas técnicas e palestras transformam a capital da música em capital do teatro

qui, 05/11/2009 - 20h00 | Do Portal do Governo

Todos os anos, durante uma semana, Tatuí, a capital da música, volta seus olhos e atenções para outra forma de arte: o teatro. Durante oito dias, a cidade-sede da maior escola de música da América Latina – o Conservatório Dramático e Musical Dr. Carlos de Campos – poderia se chamar capital do teatro. 

O motivo é o Festival Estudantil de Teatro do Estado de São Paulo (Fetesp), promovido pelo conservatório, em parceria com a Secretaria Municipal de Tatuí. Há 22 anos, o evento promove intercâmbio cultural entre grupos de teatro formados dentro das escolas de várias cidades paulistas e celebra a expressão teatral em suas diversas formas. Os moradores da cidade também ganham com isso: todos os dias assistem a espetáculos gratuitos (ou com preços simbólicos), apresentações teatrais nas praças públicas, além de oficinas técnicas de mímica, teatro de rua, voz e direção, e palestras com profissionais de artes cênicas. Na edição deste ano, realizada entre os dias 10 e 18 de outubro, o evento reuniu aproximadamente 7 mil pessoas. 

Além dos espetáculos montados pelos grupos escolares (mostra principal), houve também apresentações de trabalhos de alunos do conservatório e de grupos convidados, compondo a mostra paralela. Em 2009, a grande atração da mostra paralela foi o espetáculo Bastardo!, do grupo de aperfeiçoamento do setor de artes cênicas do conservatório, restrita a apenas 12 espectadores por noite. 

Depois de exibir o seu trabalho, cada grupo estudantil participou de bate-papo com o dramaturgo Abílio Tavares. Os encontros foram abertos ao público, e os alunos puderam falar do processo de produção, receber orientações e dicas de trabalho. O encerramento do festival foi concorrido, com a entrega dos certificados de participação e a apresentação do espetáculo O Estrangeiro, dirigido pela atriz Vera Holtz, nascida em Tatuí. 

Do ponto de vista educacional, o evento proporciona um mergulho no universo das artes cênicas, ao promover debates a respeito de questões inerentes ao meio e incentivar a formação de núcleos teatrais nas escolas. A cada edição, o Fetesp se renova, seja com a expectativa dos trabalhos das escolas já conhecidas do festival, seja com o surgimento de novas revelações. Na edição deste ano, uma grande mudança: para valorizar a troca de experiências entre os estudantes, o evento deixou de ter caráter competitivo – com a premiação dos vencedores – para se tornar uma mostra, onde cada grupo apresenta os resultados de seu processo de aprendizado e ainda aprende com os outros grupos e com os artistas palestrantes. 

“A ideia é que o foco não fique na consagração das diferenças entre as escolas, mas na ação teatral, sem aquela tensão de determinar quem é o melhor. Quando você tem um júri, tem também um veredicto, e o teatro sempre contestou os veredictos, as verdades absolutas”, esclarece o coordenador do festival, Carlos Ribeiro, diretor do espetáculo Rosa de Cabriúna, que teve pré-estreia na abertura do evento. 

Garra e seriedade – Participaram do evento escolas de ensino médio e fundamental, públicas e particulares, bem como escolas técnicas de ensino de artes. Das 32 inscritas inicialmente, sete foram selecionadas para apresentar seus espetáculos em Tatuí. A Escola Estadual Professora Maria Augusta de Ávila, do bairro Artur Alvim (zona leste da capital), com seu grupo teatral Tal & Pá, foi uma delas. Participante do festival há dez anos, a instituição de ensino venceu cinco vezes consecutivas. Lá, todos os alunos podem participar das aulas de teatro, oferecidas fora do horário escolar, geralmente aos finais de semana. 

A cada ano, alunos e professores mobilizam-se para escolher e ensaiar a peça a ser apresentada no Fetesp. A seleção dos textos, segundo o professor de artes cênicas da escola, Rhobson Salvador, varia de acordo com a realidade do grupo e o que os alunos querem transmitir. “Procuramos escolher peças que realmente expressem o momento vivido pela turma, suas indagações e inquietações”. Ele conta que a participação constante no festival tem servido para aprimorar cada vez mais a qualidade do trabalho desenvolvido pelo grupo. “Na primeira vez em que viemos, ‘apanhamos’ muito. Não tínhamos qualidade, faltou-nos estudo para montarmos uma peça. Todas as críticas, todas as orientações que recebemos, foram de grande valia”, afirma Rhobson, que estudou na escola em que hoje é professor. 

As instruções recebidas na primeira participação do festival valeram tanto que o grupo aprimorou as técnicas, voltou no ano seguinte e foi premiado pela primeira vez. O festival é juvenil, mas os alunos do grupo teatral do Colégio Santo Antônio de Lisboa, do Tatuapé (zona leste da capital), mostraram garra e seriedade profissionais. Durante quase uma hora de espetáculo, os estudantes não perderam de vista o ritmo e o tom denso exigidos para o texto Vereda da Salvação (de Jorge Andrade), que aborda miséria, fé e fanatismo religioso. Poucos sinais lembravam que aqueles atores eram, na verdade, jovens com idade média de 14 anos. A mistura de vozes quase infantis em personagens maduros e grisalhos talvez seja um deles. 

“Vocês não têm medo de ficar malucos, não?”, brinca o dramaturgo Abílio Tavares, no debate logo após a apresentação. “Nossa maior dificuldade foi justamente entender a loucura dos personagens”, responde um dos alunos. Catherine Diniz, 14 anos, relata que durante os ensaios as cenas de morte foram as mais doloridas: “Ficamos todos muito tensos. Mas teatro é assim mesmo: a gente sente medo, alegria, dor, tudo como se fosse real”, reflete. 

Da Agência Imprensa Oficial