Férias na Unicamp: hora de estudar e refletir sobre vocação profissional

Vivência na universidade mostra aos alunos de ensino médio como é o trabalho em cada área

ter, 20/01/2009 - 12h09 | Do Portal do Governo

“Foram as melhores férias de minha vida e abriram as portas para que eu definisse meu futuro profissional”, avalia Cintia Paliari, 21 anos, ao recordar sua participação no Projeto Ciência e Arte nas Férias da Unicamp, em janeiro de 2004. Durante um mês, Cintia atuou numa pesquisa, com orientação da professora Nelci Fenalti Hoeher, de Farmácia, para descobrir se o excesso de certa substância no organismo resulta ou não no agravamento de doença pulmonar obstrutiva crônica.

Cintia, na época indecisa sobre a carreira, conta que aprendeu procedimentos técnicos no Laboratório de Bioquímica do Hospital das Clínicas da Unicamp. “Foi uma experiência única porque nunca usei laboratório na escola (pública). Fiquei encantada e decidi ingressar no curso de Farmácia”, conta.

Em 2009, está no último ano de Farmácia na Universidade São Francisco de Campinas e trabalha num laboratório farmacêutico. Nos últimos dois anos, ajudou a professora Nelci em projetos científicos e participou de congressos na cidade de São Paulo. Em 2010, pretende fazer mestrado na Unicamp.

Assim como Cintia, centenas de outros alunos dos dois últimos anos do ensino médio já passaram pelo Projeto Ciência e Arte nas Férias da Unicamp, hoje na 7ª edição. “Não temos estatísticas da impressão causada, mas a vivência na universidade, com professores experientes, mostra ao jovem como é o trabalho em cada área”, diz o químico Rogério Custódio, coordenador da iniciativa e assessor da Pró-Reitoria de Pesquisa da Unicamp. Ele diz que os estagiários descobrem sua vocação e ingressam numa faculdade.

Concorrência – Custódio, professor do Instituto de Química, conta que uma garota se inscreveu para participar de projeto de Letras, mas só havia vaga em Química: “Ela aceitou o convite, mas admitiu aversão pela matéria”. No final do curso, a aluna mudou o conceito sobre  Química e pensava em seguir carreira na área.

O Ciência e Arte agrada aos alunos do ensino médio, pois as vagas são concorridas. A primeira seleção começa nas escolas estaduais de Campinas e região. Neste ano, cada uma das 67 instituições inscritas elegeu cinco a seis candidatos para participar. Ao todo, foram cerca de 400 jovens.

A etapa seguinte, comandada pelos organizadores do evento, avalia o histórico escolar (ensinos fundamental e médio) e escolhe as melhores redações sobre o tema “O que você pode fazer com seu conhecimento para melhorar o mundo em que vive?” “Eles se expressaram de forma clara e os textos chamaram a atenção”, frisa Custódio.

Alguns destacaram a importância do conhecimento para disseminá-lo na sociedade, outros acham que projetos em áreas da Biologia e da Química são úteis à saúde. Há ainda quem escreveu sobre a expectativa de saber mais sobre Meio Ambiente para preservar a natureza.

Ao todo, 130 jovens (um e até três de cada escola) foram aprovados para o Ciência e Arte, que começou em 9 de janeiro. Este ano, 63 projetos nas áreas de Humanas, Biológicas e Exatas foram distribuídos entre os alunos de acordo com a preferência.  

Cada pesquisa é integrada por dois ou três estagiários e é concluída no final do curso, que termina em 6 de fevereiro. “Formamos pequenos grupos para não sobrecarregar o educador, que assim oferece mais atenção e estimula o interesse máximo de todos no projeto”, explica Custódio.

Inovação – As atividades ocorrem de segunda a sexta-feira, o dia todo, com orientação de professores voluntários, apoio de alunos de graduação, pós-graduação e funcionários da Unicamp.

No Instituto de Artes, por exemplo, um dos destaques é a oficina de animação com técnicas de sombra chinesa, animação com pessoas e bonecos. Outra opção na Faculdade de Ciências Médicas é aprender técnicas de biologia molecular aplicadas na investigação de patologias humanas. Um dos experimentos do Instituto de Biologia aprofunda o tema “Estudo microbiológico da água: coliformes fecais e saúde do homem”.

Em exatas, visita-se o Museu Exploratório de Ciências da Unicamp para participar da Oficina Desafio, Nanoaventura e Praça Tempo Espaço. Na Faculdade de Educação, um dos projetos é “Construindo arte através de histórias – uma prática possível entre o real e o imaginário”. Já no Centro de Tecnologia, há pesquisa sobre caracterização mecânica, metalúrgica e química de ligas metálicas.

Outra ação do Arte e Ciência é a oficina com diversas atividades, oferecida uma vez por semana, para grupos de 30 integrantes. Custódio diz que os projetos são inovadores e os professores, voluntários. Cada estagiário recebe almoço, seguro de acidentes pessoais, transporte, assistência médica e odontológica para urgência.

Livros – A iniciativa da Unicamp rende outros frutos. Desde 2007, existe parceria com a Anglo Vestibulares, que concede 60 bolsas de estudo de cursinho aos estagiários do terceiro ano do ensino médio. No final do projeto, a escola People Computação, de Campinas, sorteia 10 vagas para cursos de informática gratuitos.

Há apoio financeiro de agências de pesquisa (Fapesp e CNPQ) e patrocínio do Banco Nossa Caixa. A Fundação de Desenvolvimento da Unicamp (Funcamp) doa 130 livros sobre literatura.

Educadores contam experiência de participação

Esta é a primeira vez que a professora de química Luciana Gonzaga de Oliveira participa do Ciência e Arte. Ela esmiúça o tema “Isolamento e avaliação da produção de antibióticos por linhagens de Streptomyces” e conta com o apoio de Leila Regina Giarola, aluna de Farmácia da Unicamp. A universitária apresenta o assunto aos alunos e expõe a diferença entre bactéria, fungo e levedura.

Streptomyces é bactéria comum no solo, usada no setor farmacêutico. Luciana diz que os estagiários colherão amostras do solo e executarão procedimentos de laboratório para identificar a bactéria Streptomyces. “É bom interagir com a comunidade e mostrar aos estudantes o trabalho científico que fazemos. Em muitas escolas públicas não há laboratórios, acho esse contato estimulante”, diz a professora.

O professor de química Roberto Rittner Neto, 68 anos, atua no Projeto da Unicamp desde a primeira edição: “É importante motivar os alunos do ensino médio para melhor formação universitária”. Ele fez pós-doutorado em Química no exterior e, desde 1997, quando se aposentou, é professor voluntário da graduação de Farmácia e pós-graduação de Química da universidade.

O mestrando Adílson Roberto Brandão e a doutorando Lidiane Raquel Verola Maraveli auxiliam alunos num projeto de Química. Os alunos aprenderão algumas atividades desenvolvidas num laboratório de pesquisa, entre elas procedimentos para preparar soluções e uso de vidrarias, cuidados com a segurança, equipamentos e materiais.

Viviane Gomes – da Agência Imprensa Oficial