Feira do Dia da Consciência Negra trouxe o campo aos paulistanos

O evento se desdobrou numa feira paralela, com agricultores de assentamentos

sex, 21/11/2008 - 20h12 | Do Portal do Governo

Mais de 60 produtores e quase duas dezenas de comunidades remanescentes de quilombos participaram na quinta-feira, 20, no Parque da Água Branca, na zona Oeste da Capital, da Feira Quilombos em São Paulo. Este ano, o evento se desdobrou numa feira paralela, com a presença de agricultores familiares de assentamentos.

O evento mostrou para os paulistanos a produção agrícola e artesanal das comunidades quilombolas e dos agricultores familiares de todo o Estado, em comemoração ao Dia da Consciência Negra. A feira foi organizada pela Fundação Itesp, instituição ligada à Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania.

Os quilombos do interior e do litoral paulista trouxeram para a capital desde alimentos como mel, pães, banana e outras frutas, alimentos processados, como farinha de mandioca. As ostra de Cananéia, quilombo de Mandira, foram uma atração à parte.  O artesanato, fabricado a partir da folha de bananeira e outras fibras vegetais, com predomínio de palhas variadas, competiu em pé de igualdade com objetos de decoração em madeira e a partir de conchas. No coreto do parque, ainda houve apresentação de danças típicas como o maculelê, uma tradição da comunidade quilombola do Jaó, localizada no município de Itapeva.

Os trabalhadores rurais assentados pelo governo paulista venderam frutas, legumes, doces de leite, compotas, queijos, mel, cachaças artesanais e objetos como vassouras naturais. Eles representaram mais de 10 mil agricultores familiares do Estado que recebem assistência técnica da Fundação Itesp.

“O sucesso dessas duas feiras revela a importância da agricultura familiar paulista, responsável pela geração de renda e trabalho digno para milhares de produtores rurais, dentre os quais cabe ressaltar as comunidades remanescentes de quilombos e os assentados, todos beneficiários das políticas públicas estaduais”, afirmou o diretor executivo da Fundação Itesp, Gustavo Ungaro.

“A feira, que mostra a cultura dos quilombos paulista e está em sua segunda edição, já virou uma tradição na cidade de São Paulo. Além de estimular a comercialização e o crescimento da agroindústria familiar e a produção artesanal, o evento mostra a força viva dos descentes de escravos do interior paulista”, disse o secretário da Justiça e da Defesa da Cidadania, Luiz Antonio Marrey, satisfeito também com a feira paralela dos assentamentos.

Quilombos paulistas

Cerca de mil famílias vivem em núcleos remanescentes de quilombos no Estado de São Paulo. São 22 comunidades reconhecidas pelo Governo paulista, seis delas já tituladas. No século XVII, os mineradores batizaram de Eldorado uma pequena cidade na região Sul de São Paulo, hoje conhecida como Vale do Ribeira. Muitos escravos, trazidos para a exploração do ouro, foram morar no local e hoje a região concentra o maior número de comunidades remanescentes de quilombos do Estado.

“Nós temos muitas histórias para contar”, afirmou dona Jovita Furquim de França, de 65 anos, bisneta de escravos e moradora da comunidade quilombola do Galvão, em Eldorado. “Hoje a gente faz artesanato para vender, mas antigamente era para uso da casa, como pilão de madeira, trabalho com argila, com barro, pote para carregar água na cabeça”, explicou.

A comunidade quilombola de Ivaporunduva, localizada no município de Eldorado, no Vale do Ribeira, exibiu artesanato de fibra de bananeira, transformada em bolsas, tapetes e almofadas, entre outros objetos. De Cananéia, o quilombo do Mandira também trouxe artesanato, além de ostras. A comunidade de Sapatu vendeu mel, doces e banana chips. André Lopes, Nhunguara e Galvão mostraram cestarias à base de fibras naturais.

Do Litoral Norte vieram objetos de decoração em madeira, bijuterias de sementes, peças de bambu, taquara e cipó das comunidades quilombolas de Caçandoca, Caçandoquinha, Cazanga, Camburi e da Fazenda, no município de Ubatuba. “Não demos conta dos pedidos, vendemos quase tudo”, comemorou Maria Lúcia Dias, artesã da comunidade da Fazenda.

Assentamentos

A região do Pontal do Paranapanema sempre foi conhecida pelo histórico de conflitos pela posse da terra que colocou em lados opostos fazendeiros e trabalhadores rurais sem terras. No entanto, a partir da década de 90, o Governo paulista implementou um amplo processo de reorganização das terras que resultou no maior aglomerado de assentamentos de trabalhadores rurais ali, com 5,5 mil famílias. São 104 os assentamentos que recebem assistência técnica do Governo do Estado nos municípios do Oeste paulista e, no Estado, este número chega hoje a 170 assentamentos.

Os assentados são produtores que no passado viveram em barracas de lona à beira da estrada e hoje moram em casas de alvenaria cuidando de sítios com média de 15 hectares. Criam gado e pequenos animais, produzem leite e derivados e plantam mandioca, frutas, legumes e hortaliças. A produção é usada para sustento da família e abastece cidades da região.

Um exemplo de criação de alternativa de renda é dado por Valentim Degasperi, do assentamento Che Guevara, no município de Teodoro Sampaio, que transforma bucha em arte. Suas coloridas peças foram grande atração na Feira dos Assentamentos Paulistas. Valentim e sua família criaram uma técnica de tingimento natural das fibras da bucha que, depois de manipuladas e amaciadas, tomam a forma de bichos como macaco, onça-pintada, tartaruga, sapo e também de frutas: são as “eco-buchas”, nome registrado pelo assentado para um produto ecologicamente correto, usado para o banho. Na feira de ontem, não sobrou uma para contar a história…

Do ITESP – Instituto de Terras do Estado de São Paulo