Febre amarela: Médico sugere vacinação apenas em áreas de risco

Pesquisador da USP afirma que doença é fruto de mudança climática e não de falta de política pública

qui, 24/01/2008 - 9h59 | Do Portal do Governo

Nos primeiros 20 dias de 2008, a febre amarela matou 7 pessoas em 10 casos notificados ao Ministério da Saúde. Em todo o ano passado, foram registrados 6 casos que ocasionaram 5 mortes. Mas não há razões para entrar em pânico. É o que garante Eduardo Massad, especialista em Epidemiologia da Faculdade de Medicina da USP.

“Não creio que haja motivos para alarme. A população deve sim ter cautela”, afirma. Ele reconhece, no entanto, a existência de um surto da doença. “Pode-se até discutir a sua magnitude, mas é inegável que o surto já se instalou”, assegura.

Segundo o pesquisador, o crescimento acentuado se deve a mudanças climáticas que influenciam o comportamento dos mosquitos silvestres transmissores da doença. O aumento do regime de chuvas e as altas temperaturas são apontados como favoráveis à maior reprodução dos insetos e, por isso, do seu maior contato com seres humanos em áreas de visitação pública.

O especialista nega haver problemas com a vacinação de habitantes das áreas endêmicas. “Acho que essas áreas são, na verdade, sobre-vacinadas. O que faltou foi uma política de esclarecimento para viajantes que estiveram nessas áreas sem vacinação prévia”, afirma Massad. Ele sustenta a afirmação argumentando que a maioria dos casos registrados é de turistas.

De acordo com o pesquisador, não há falhas nas políticas públicas da prevenção da doença. “O problema não é em relação à febre amarela em si. Não há como prevenir ou controlar a forma silvestre [transmitida por mosquitos encontradas na mata]. Problemático é, na minha opinião, o controle do Aedes aegypti [transmissor da forma urbana da febre amarela]”, diz o epidemiologista.

Riscos da vacina

Sobre a corrida aos postos de vacinação, Massad diz ser contra a vacinação em massa fora das áreas endêmicas da doença: “Teoricamente, a vacinação em áreas urbanas ajudaria a inibir uma eventual epidemia. Mas levando-se em conta os riscos da vacina e seus efeitos colaterais, eu não recomendaria a vacinação massiva”.

Na opinião de Massad, a corrida aos postos de saúde é desnecessária. “Só aqueles que visitarão áreas endêmicas devem ser vacinados. É necessário lembrar sempre que a vacina tem efeitos colaterais sérios podendo inclusive levar a morte”, diz o especialista. Em seu sítio na internet o Ministério da Saúde informa que a vacina causa efeitos colaterais como febre, hipersensibilidade e encefalite.

São consideradas áreas endêmicas os Estados do Acre, Amazonas, Roraima, Amapá, Pará, Maranhão, Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia e o Distrito Federal. O especialista alerta, no entanto, que “praticamente todos os Estados do País tem áreas endêmicas, mesmo nas regiões Sul e Sudeste”.

Da USP Online