Febem-Tatuapé forma mais 279 menores em cursos profissionalizantes

Alunos da Escola Marina Mesquita, que funciona dentro do Complexo, buscam iniciação profissional para se reintegrarem a sociedade

sex, 27/07/2001 - 16h18 | Do Portal do Governo


Um lugar para pensar. Pensar na família, nos amigos, no mundo, nas atitudes, no passado e, sobretudo, no futuro. Para uma boa parte dos menores que integram o Complexo Febem-Tatuapé refletir é uma atividade essencial no processo de reintegração à sociedade. Vítimas de preconceitos, eles sabem que precisam provar para todos que mudaram e necessitam de uma nova oportunidade.

Arrumar emprego talvez seja a principal dificuldade destes jovens após reconquistar a liberdade. Em sua maioria, são pessoas pertencentes a famílias pobres e que não possuem nenhuma qualificação profissional. Nas unidades da Febem todos os internos contam com escola formal, para não parar os estudos; atividades de recreação; atividades culturais e também com cursos profissionalizantes, para saírem com condições de batalhar no mercado de trabalho.

A Escola Profissionalizante Marina Vieira de Carvalho Mesquita funciona dentro do Complexo Tatuapé e forma todos os anos 1.800 jovens em cursos profissionalizantes.

Nesta sexta-feira, dia 27, foi realizada a formatura de 279 adolescentes, que participaram dos 24 cursos oferecidos no local. A cerimônia ocorreu no teatro da Escola e contou com a participação do governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin.

A Escola está localizada junto às unidades de internação da Febem-Tatuapé, mas distancia-se em muito da imagem pejorativa que a sociedade tem da instituição. São inúmeras salas-oficinas, todas bem equipadas e conservadas.

De acordo com o instrutor Marcos Reinaldo, que coordena o curso da oficina de artes gráficas, os menores contam com 100 horas de aprendizado e adquirem noções básicas de impressão.

A gráfica conta com uma máquina copiadora e duas máquinas off-set. ‘Nós instruímos os alunos para saírem daqui podendo trabalhar como auxiliares em gráficas. Alguns, porém, conseguem se destacar e saem em condições de atuar até mesmo na parte de operação’, afirmou.

O menor G. F. S., 17 anos, é um dos formados no curso de artes gráficas – impressão off-set. Ele elogiou a qualidade do curso e disse se sentir apto para trabalhar como operador, assim que for liberado da unidade. ‘Já conhecia um pouco desta área e fiz o curso para aprender novas coisas’, confirmou.

Segundo o menor, que foi encaminhado à unidade após ser preso em um assalto à mão armada em abril deste ano, o crime é coisa do passado e a saudade da família é a parte mais difícil da internação. ‘Espero sair o quanto antes, mas prefiro nem pensar nisso. Quero aproveitar as coisas boas daqui e sair com uma vida nova, um outro pensamento.’ Ele disse ainda que na unidade em que está internado (UE 2), dentro do Complexo Tatuapé, todos querem se reabilitar para conviver com dignidade e não terem que ficar longe da família.

Para o menor V. P. L, 15 anos, que se formou no curso de fotografia e revelação, perder a liberdade e ficar distante da família faz da Febem um lugar muito sofrido. ‘Passei necessidades e acabei roubando, mas estou me preparando para uma vida melhor. Essa é a primeira e última vez que passo pela Febem’, disse. As oficinas profissionalizantes da Febem-Tatuapé foram retratadas pelo menor V. P. L. e por outros formandos do curso de fotografia, que expuseram seus trabalhos nas dependências da Escola.

Os 279 formandos, que hoje receberam o diploma, foram representados na cerimônia por 33 jovens que tiveram participação de destaque nos cursos. A solenidade foi marcada pela seriedade dos adolescentes e pela comemoração dos seus familiares. Para o presidente da Fundação para o Bem-Estar do Menor (Febem), Saulo de Castro Abreu, a presença de inúmeras pessoas prestigiando a formatura é uma ótima surpresa. ‘É disso que precisamos: gente que acredita que esses jovens podem se reintegrar à sociedade’, destacou.

O Saulo anunciou que a Febem irá implantar uma gráfica de primeiro mundo em parceria com a Imprensa Oficial do Estado de São Paulo (Imesp). Ele agradeceu a parceria que a instituição tem conseguido manter com inúmeras empresas da iniciativa privada. ‘Isso é essencial para conseguirmos manter nossos projetos.’ Muitos jovens que participaram destes cursos conseguiram bons empregos. ‘Segundo os próprios empresários, estes menores são dedicados e esforçados e acabam sendo os melhores profissionais das empresas que vão trabalhar’, ressaltou. Disse ainda que a Febem gera retorno para as empresas que participam dos projetos. ‘Os empresários que colocam a Febem no seu projeto social conseguem um ótimo retorno.’

A participação das empresas também foi elogiada pelo diretor da Escola Profissionalizante Marina Vieira de Carvalho Mesquita, José Moreira da Silva. ‘A parceria com o Senai, com outras instituições e empresas é fundamental para a compra dos materiais que são usados nas oficinas. Quem ganha com a parceria são os professores e principalmente os jovens’, afirmou.

O modelo pedagógico-educacional adotado atualmente pela Febem, que possibilita aos jovens se reabilitarem, é fruto de um trabalho antigo. Para o governador do Estado de São Paulo, esses bons resultados se devem à iniciativa do governador Mário Covas, que implantou uma agenda educacional pedagógica em todas as instituições de ensino, inclusive na Febem. ‘Nós vamos estimular ainda mais essa formação.’

Segundo ele, a formatura é um dia de conquista e consagração para os alunos, pois é a premiação do esforço, do trabalho e da dedicação. ‘É um novo futuro que bateu à porta e entrou. Todos estão de parabéns: a Febem, os professores, os alunos, os pais, as mães, as namoradas, enfim, todo o time que joga com a garotada’, brincou.

O secretário estadual da Assistência e Desenvolvimento Social também acredita na abertura de uma nova perspectiva na vida dos menores infratores. ‘Eles iniciam uma nova caminhada e todos ficam com a sensação boa de dever cumprido. Essa é a Febem que faz bem. Faz o que tem que ser feito’, elogiou.

Informática e outros cursos

Dos 24 cursos oferecidos na instituição, o curso de Informática e Cidadania foi um dos que tiveram maior procura. A primeira turma de informática se formou no dia 18 deste mês. De acordo com o instrutor deste curso, Júlio César Signorini, além de profissionalizar os menores, as aulas proporcionam lições de cidadania dos pequenos gestos, como higiene e relações pessoais. ‘Eles aprendem a mexer com o Windows, com o Word, a desenvolver o próprio currículo e, sobretudo, como se portar em uma entrevista e conviver com a sociedade.’

As atividades do curso também envolvem a elaboração de dois produtos periódicos, um jornal e um gibi. A primeira edição do jornal UE (Unidade Educacional) já está circulando internamente pela instituição, com reportagens elaboradas pelos próprios jovens. As matérias são revisadas pelos professores quando os alunos solicitam, mas o conteúdo e as pautas são escolhidas pelos próprios internos.

Júlio César Signorini informou que no próximo mês os alunos que obtiveram os melhores desempenhos nesta primeira edição da oficina de informática poderão participar de um novo curso. ‘Estão sendo criadas mais duas salas para aulas mais aprofundadas, com multimídia e noções de Internet’, anunciou.

Além do curso profissionalizante de informática, os menores também contam com oficinas de mecânica geral, mecânica de automóveis, construção civil, funilaria, pintura de automóveis, cerâmica, serigrafia, costura, acabamento de móveis, artes gráficas, lapidação, cerâmica, fotografia, tapeçaria, digitação, encadernação, panificação e confeitaria, entre outros. Todos os cursos contam com sala especializada para orientação dos trabalhos. Os produtos fabricados pelos menores são utilizados na própria instituição e também vendidos em uma lojinha dentro da unidade.

Rogério Vaquero