Febem 1: Aulas de audiovisual melhoram a auto-estima de jovens internas

Adolescentes da unidade Parada de Taipas aprendem a filmar, conhecem a história da música e já planejam uma vida melhor

sex, 18/08/2006 - 13h37 | Do Portal do Governo

“Aqui no áudio e vídeo eu conheci o professor Slim. Foi ele quem ensinou a rimar assim: Mostrar à sociedade todo nosso talento / pra ela perceber que nada se joga ao vento”. O trecho da música Saudade, composta por G.P., 18 anos, e suas colegas ilustra alguns desabafos: vontade de melhorar, dar a volta por cima, adquirir conhecimentos e conseguir um futuro diferente. As adolescentes aprendem a escrever rimas de hip hop (estilo de música de rua apreciado por muitos jovens), recebem dicas de construção poética e técnicas de operação de câmera filmadora. “As aulas de áudio e vídeo são um meio para a discussão de cidadania e a melhoria da auto-estima”, resume Paulo Santiago, fundador e diretor-executivo da Associação Novolhar, entidade que desenvolve o Projeto Comunicação Audiovisual em quatro unidades da Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor (Febem).

G.P., mineira de Poços de Caldas, é órfã de mãe há nove anos. Cursa a 7a série do ensino fundamental, gosta de skate e de grafite. Dentro da Febem, na unidade de Internação Parada de Taipas, na Cohab Brasilândia, zona oeste da capital, descobriu seu dom para rimar frases e transformá-las em hip hop. “O curso traz muito conhecimento. Já manuseio a câmera, mas gosto mais das aulas de áudio. Estou aqui para arcar com as conseqüências das coisas ruins que fiz”, resume.

Poesia e rima

A mineirinha diz que, com a ajuda da Febem, se alimenta bem, faz cursos, recebe assistência médica e não pensa mais em drogas. Quando sair, a garota pretende melhorar de vida e ajudar a família. Duas câmeras de vídeo, equipamentos de áudio (mesa e caixa de som e amplificador) são as ferramentas utilizadas para as aulas, que ocorrem duas vezes por semana – duas horas semanais para cada modalidade. Com duração de quatro meses, o curso é ministrado por equipe da Associação Novolhar, formada por técnicos da área e psicólogo.

Com o auxílio do técnico de vídeo Elton Santana, as jovens aprendem a operar uma filmadora e a produzir documentário, videoclipe, ficção e reportagem.

História da música, hip hop e suas influências, relação da música com o ser humano, composição musical que trata de preconceito, discriminação e violência são alguns dos temas que Valter Araújo de Souza, 27 anos, conhecido como professor Slim Rimografia, aborda nas aulas de áudio. Ele auxilia as adolescentes na construção poética e de rimas, e oferece técnicas vocais e exercícios para melhorar o fôlego.

Slim é músico e possui um selo independente. “Acho que elas são bem talentosas e criam músicas fantásticas. Muitas gostam da experiência e dariam certo nessa área”, opina o professor. Mas, em sua opinião, o mais importante é que as adolescentes, ao sair da Febem, tenham opções de sobrevivência diferentes das que tinham quando entraram na instituição.

Documentário

Slim conta que sua figura na sala de aula não é a de um “professor ditador”. Com linguagem que o aproxima das adolescentes, ele se considera “um amigo que dá força e entende o que cada uma é capaz de criar”.

Aprender a trabalhar em grupo, exercitar a paciência e respeitar os prazos são algumas virtudes incentivadas durante o curso.

Ao final dos quatro meses de treinamento, o grupo apresenta um trabalho. A turma anterior, com 20 alunos, produziu documentário de 12 minutos sobre os direitos e deveres contidos no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O material foi editado na Associação Novolhar e reuniu algumas das canções criadas pelas próprias jovens.

Viviane Gomes

Da Agência Imprensa Oficial