Fazenda florestal de Itatinga é o grande celeiro de eucalipto no Estado

Técnicos e pesquisadores do Brasil e do mundo procuram a estação florestal da Esalq

qui, 14/06/2007 - 9h20 | Do Portal do Governo

Quem ouve falar em fazenda pensa logo em plantação de soja, café ou criação de gado. Na Estação Experimental de Ciências Florestais de Itatinga, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP, plantam-se árvores. E são muitas, com destaque para eucaliptos e pinus (pinheiros). Há também espécies nativas e exóticas (estrangeiras), que formam um tapete verde nos seus 2.120 mil hectares, onde se desenvolvem atividades científicas, culturais, acadêmicas, comerciais e até de entretenimento. 

Quase 70% dos projetos em Itatinga, cidade de 17 mil habitantes, a 220 quilômetrosda capital paulista, referem-se ao melhoramento genético de espécies tropicais e subtropicais. O objetivo principal é adequar a produção comercial com respeito ao ambiente, colocando fim ao desmatamento clandestino que retalha as matas brasileiras e extingue a flora nativa.

A árvore que melhor se adapta ao desenvolvimento sustentável é o eucalipto, por crescer rapidamente, o que não ocorre com as nativas, e fornecer madeira para quase todo tipo de uso: energia (para queima), serraria (diversos tipos de tábuas), móveis, estruturas (mourões, postes, etc.), celulose, sem contar sua essência aromática para perfumes, remédios e alimentos. Restam ainda as floradas da árvore, ideais para a produção de mel.

Nas pesquisas de silvicultura (ciência das florestas) destacam-se as atividades de manejo das espécies, adubação, controle de pragas, usos múltiplos, espaçamento no plantio, etc. Outras linhas de atuação são os cursos oferecidos a pesquisadores, professores, alunos, produtores rurais e outros profissionais da área florestal.

Há ainda espaço e tempo para abrir as porteiras da propriedade e atender à comunidade local, com trilhas e uma cachoeira deslumbrante. A estação é conhecida na região como O Horto. É a maior das duas fazendas florestais da Esalq. A outra é na cidade de Anhembi, a 100 quilômetrosde Itatinga.

O engenheiro florestal da Esalq e diretor das duas estações experimentais, João Carlos Teixeira Mendes, informa que há em Itatinga 119 experimentos em execução. “Muitos em parceria com as iniciativas privada, pública e institutos de pesquisas brasileiros e estrangeiros”, assegura João Carlos.

Vários projetos – O projeto Bio-sólido estuda o aproveitamento do resíduo de tratamento do esgoto da Sabesp, para a fertilização do solo. O material, proveniente da estação de Barueri, na Grande São Paulo, é utilizado como adubo na plantação local de eucalipto. A Ciclagem Biogeoquímica da Floresta Plantada (Cirad) trata do balanço hídrico na floresta. Pesquisa a quantidade de água de chuva absorvida pelas árvores e aquela que vai para o solo e, por conseqüência, alimenta as bacias hidrográficas da região.

O programa de Microbacia Experimental é executado em parceria com o Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais (Ipef), com participação de técnicos da Esalq. Há 19 anos, semanalmente, coletam-se amostras da água de uma floresta de eucalipto, para análises qualitativa e quantitativa do líquido presente no local. A intenção é determinar se há impacto da plantação sobre a bacia hidrográfica.   

João Carlos conta que esta atividade científica provou que o eucalipto não é o vilão que muitos acham. “Não degrada o solo, não elimina a água da terra nem impede o crescimento de gramíneas ao seu redor.” Lembra que a espécie australiana, nos três primeiros anos, cresce a todo vapor e absorve bastante a umidade, mas não a ponto de secar o solo.

Após o período vertiginoso, o eucalipto se harmoniza com o ambiente e cresce moderadamente. Para celulose, uma plantação da espécie dura 21 anos e possibilita três cortes a cada sete anos. O primeiro é o normal e os dois seguintes, por brotamento. “Porém, a cada etapa a produção diminui, por isso é necessário replantar depois do terceiro corte”, ressalva o engenheiro da Esalq.

O uso do eucalipto e de alguns pinheiros para a obtenção de resina é um projeto encampado pela Associação dos Resinadores do Brasil (Aresb). A entidade pesquisa a utilização de pastas químicas no corte do caule da árvore, para inibir a cicatrização na casca e propiciar maior coleta do material, que em nada prejudica a planta. A resina é matéria-prima para uma enormidade de produtos – de perfumes a chicletes.

Há ainda a parceria com um apicultor local, que utiliza a florada de eucaliptos de Itatinga para obter mel. Pelo contrato, o produtor paga a utilização das plantas com mel, que é vendido na Esalq de Piracicaba.

Irradiando conhecimento – No ano passado, 300 estudantes participaram de atividade de um dia no local e outros 28, oriundos de escolas técnicas, fizeram seus estágios ao longo de seis meses e de um ano e mais 65 deles participaram de treinamento prático de férias (janeiro e julho). Para quem permanece por períodos mais extensos, a fazenda oferece 40 vagas gratuitamente em sete alojamentos e refeição.

Itatinga foi durante anos propriedade da antiga Estrada de Ferro Sorocabana, que ali plantava eucalipto para suas locomotivas e dormentes de trilhos.

Com o óleo diesel, aposentadoria da maria-fumaça e declínio do transporte ferroviário, a fazenda virou terra-de-ninguém, por anos, até ser incorporada à Esalq/USP em 1988. Até hoje, há no local uma estrada no traçado que antes era dos trilhos da ferrovia e um prédio em ruínas de uma antiga estação.

Pioneirismo – O Estado de São Paulo foi o primeiro a plantar eucalipto no Brasil, no início do século passado, para atender às ferrovias. O silvicultor pioneiro, Navarro de Andrade, buscou espécies no mundo todo e testou várias delas em Rio Claro, onde muitas ainda se encontram no Horto Florestal da cidade.

Após muitos plantios, Andrade constatou que o melhor para a ferrovia era o eucalipto saligna, plantado em Itatinga, único refúgio em que a espécie ainda existe no País. A partir dos anos 60, dezenas de outros tipos da árvore se espalharam pelo Brasil, que hoje é o maior produtor do mundo, com área plantada de 3 milhões de hectares.

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Da Agência Imprensa Oficial