Fapesp promove homenagem ao centenário do sociólogo Antonio Candido

Crítico literário, professor e protagonista político foi nome referencial da intelectualidade no território brasileiro

qua, 29/08/2018 - 10h18 | Do Portal do Governo

A sede da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) recebeu, nesta segunda-feira (27), a solenidade que marcou o centésimo aniversário de nascimento do professor e sociólogo Antonio Candido. Na ocasião, também foi celebrada a nova reedição do livro mais influente do homenageado, “Formação da Literatura Brasileira: momentos decisivos, 1750-1880”.

Antonio Candido de Mello e Souza nasceu no Rio de Janeiro, em 24 de julho de 1918, e faleceu em São Paulo, em 12 de maio de 2017, aos 98 anos. Crítico literário, sociólogo, professor universitário e protagonista político, foi nome referencial da intelectualidade brasileira.

Vale destacar que a cerimônia começou com a saudação do presidente da Fapesp, professor José Goldemberg, que lembrou o papel da antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras como catalisadora da estruturação da Universidade de São Paulo (USP). “Na unidade, a grande contribuição de Antonio Candido foi, a meu ver, o estabelecimento de um padrão de qualidade compatível com o das melhores universidades do exterior”, enfatiza.

Painel

O evento teve um painel com foco na vida e obra do sociólogo. Coordenada pelo professor Celso Lafer, ex-presidente da Fapesp, a ação contou com a participação do ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso, dos professores eméritos da USP José de Souza Martins e Walnice Nogueira Galvão e da editora Ana Luisa Escorel, filha primogênita de Antonio Candido e responsável pela reedição de “Formação da Literatura Brasileira”, além de toda a obra do pai, por meio da editora Ouro sobre Azul.

Fernando Henrique Cardoso lembrou a convivência pessoal com o homenageado. “Antonio Candido pegava um autor e, com simplicidade, ia direto ao ponto, dizendo mais do que a maioria daqueles que falavam pedantemente sobre o assunto”, avalia o ex-presidente.

Já o professor emérito da USP José de Souza Martins traçou um paralelo entre as duas obras mais importantes de Antonio Candido, “Formação da Literatura Brasileira” e ‘Os Parceiros do Rio Bonito”, escritas praticamente no mesmo período, mas que apresentam diferenças no tratamento.

“Na Formação da Literatura Brasileira, o que chama minha atenção, como sociólogo, é perceber a literatura brasileira como a documentação da nossa inautenticidade. Nada era autêntico, nada era nosso, nada tinha raiz. Tudo foi copiado da Europa. A pesquisa que resultou em ‘Os Parceiros do Rio Bonito’, aparentemente, funcionou como um contraponto disso, na busca de uma autenticidade de referência”, analisa o docente.

Preferências

Aluna e, em seguida, assistente de Antonio Candido, Walnice Nogueira Galvão abordou as preferências literárias do professor e mentor. “Ele se definia como um proustiano fanático. A ele consagrava a mais recheada das estantes da biblioteca pessoal. Tão cedo quanto 1950, Sérgio Buarque de Holanda já anotava, em seu artigo Proustiana, o quanto Antonio Candido era um especialista na obra do francês, citando um artigo de 1944”, relata.

“Esse artigo de Antonio Candido de 1944 celebra a liberação da França no fim da Segunda Guerra Mundial e dedica um trecho a Proust. Entre 1958 e 1960, publicou quatro resenhas, distribuídas por dois anos, mostrando a segurança com que se movia pela bibliografia proustiana e quão vasto já era o seu repertório”, afirma a professora.

O painel foi encerrado por Ana Luisa Escorel, que combinou lembranças de família com uma descrição do processo de redação, edição e reedição de “Formação da Literatura Brasileira”. “Em uma das casas em que moramos, não se podia usar banheira em nenhuma circunstância, apenas o chuveiro. Anos a fio, a banheira ficou cheia até o topo com material relativo ao livro: manuscritos, fotocópias, microfilmes, textos datilografados em mais de uma versão, pastas, cadernos, conjuntos de originais, que, na minha lembrança, e a certa altura, ele jogou fora em um rompante, não sem antes, com certeza, rasgar minuciosamente tudo, como era hábito nessas ocasiões”, revela.