Fapesp: Identificação de região do núcleo do Trypanosoma cruzi pode combater ao mal de Chagas

Matéria da Revista Fapesp número 118

seg, 26/12/2005 - 19h40 | Do Portal do Governo

Acostumados a ser mal recebidos durante milhões de anos, os parasitas da família do Trypanosoma cruzi , causador da doença de Chagas, desenvolveram mecanismos próprios de funcionamento que lhes permitem escapar das defesas dos organismos que invadem e se reproduzir com rapidez. No momento de se dividir e originar outra célula idêntica, esses protozoários não seguem a estratégia de outros organismos formados por células com núcleo.

Na etapa inicial de produçãode proteínas, em vez de decodificarem um gene por vez, os parasitas da família do Trypanosomacruzi lêem todos os genes de uma vez. Nesse momento, a longa molécula espiralada de DNA, que contémos genes, esparrama-se pela periferia do núcleo do parasita. Só depois que essa cópia simultânea dos genes termina é que a mensagem de cada gene é separada e começa a produção de proteínas que vão formar seus descendentes.

Biólogos da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) identificaram a região do núcleo onde seconcentram centenas de cópias de um único gene, o SL ( spliced leader ou seqüência líder), essencial para organizar essa aparente bagunça. É ele que vai marcar, em cada um dos outros genes já copiados, o ponto a partir do qual deve começar a produção das proteínas. Os genes SL se acumulam em uma região bem central do núcleo da célula: a fábrica de transcrição do gene SL.

Essa descoberta pode criar alternativas para a busca de compostos mais eficientes para o protozoário que infecta cerca de 18 milhões de pessoas na América Latina. “Se conseguirmos evitar que essa fábrica de transcrição se forme, talvez possamos impedir que esses parasitas se reproduzam”, diz o biólogo Sergio Schenkman, coordenador do grupo que desvendou as peculiaridades dessa família de protozoários, que inclui o Trypanosoma brucei , causador da doença do sono, e representantes do gênero Leishmania , que provocam a leishmaniose.

O mecanismo especial de reprodução é bem diferente do funcionamento clássico de uma célula – seja a de um ser humano, seja a de uma esponja. De certo modo, uma célula normalmente lembra uma cidade grande. Só queem vez de carros e pessoas transitando por ruas há milhões de estruturas que carregam ou interpretam os genes – além de moléculas de proteínas, açúcares e gorduras –, sendo transportadas otempo todo para fora ou para dentro do núcleo, por sua vez cercado por um espaço superpovoado, o citoplasma.

O núcleo equivale a uma prefeitura e coordena as atividades executadas continuamente na célula. É de lá que saem os comandos que indicam se é hora de aumentar os estoques deproteínas e se preparar para a reprodução ou se é tempo de descansar e economizar energia.

Ricardo Zorzetto – Agência Fapesp

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