Fapesp financia pesquisa para Embraer desenvolver aeronaves

Com isso aviões fabricados pela empresa poderão ser mais silenciosos e confortáveis

dom, 04/12/2011 - 17h00 | Do Portal do Governo

Três projetos de pesquisa financiados pelo Programa de Apoio à Pesquisa em Parceria para Inovação Tecnológica (Pite) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), em conjunto com a Embraer, poderão tornar as aeronaves fabricadas pela empresa brasileira mais confortáveis, silenciosas e seguras.

Os resultados parciais dos projetos foram apresentados durante o workshop Fapesp-ABC sobre Pesquisa Colaborativa Universidade-Empresa, em São Paulo. O programa Pite, iniciado em 1995, tem apoiado projetos de pesquisa desenvolvidos em cooperação entre centros de pesquisa de empresas e instituições acadêmicas e institutos de pesquisa, em regime de cofinanciamento entre a Fundação e as empresas.

O evento, promovido pela Fapesp e pela Academia Brasileira de Ciências (ABC), ocorreu paralelamente à Feira de Negócios em Inovação Tecnológica entre Empresas, Centros de Pesquisa e Universidades (Inovatec), realizada pela Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) e pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo.

Tendências inovadoras

Jurandir Itizo Yanagihara, professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo apresentou, durante o evento, o projeto Conforto de cabine: desenvolvimento e análise integrada de critérios de conforto.

Segundo ele, o projeto – que envolve a USP, a Universidade Federal de Santa Catarina e a Universidade Federal de São Carlos – realiza diversos estudos para incorporar às aeronaves tendências inovadoras de conforto no interior da cabine.

“A construção de uma aeronave tem requisitos de mercado, de estrutura, mas também de conforto. Dentro desse aspecto do conforto, estudamos parâmetros operacionais como o conforto térmico, a pressão, o ruído, a vibração, a iluminação, e também a ergonomia dentro da cabine”, disse Yanagihara. Ele
Informou ainda que o projeto foi iniciado em 2008 e sua primeira fase está sendo finalizada. O foco principal é integrar os vários aspectos do conforto humano e estabelecer critérios que serão utilizados como parâmetros de projeto e design.

Os cientistas desenvolveram um ambiente que simula uma cabine, especialmente construído para que a integração seja possível. “Esse equipamento (o segundo a ser construído no mundo) é muito sofisticado. Só existe outro semelhante no Instituto Fraunhofer, na Alemanha.

Leves e baratos

Ao fim do estudo, o objetivo é que não tenhamos apenas resultados de cada tecnologia, mas uma análise integrada, medindo como cada critério compromete o resultado final de conforto. A primeira fase terminará no início de 2012, com um pacote de análise integrador”, explicou.

“A tendência é fazer com que as pessoas tenham um espaço adequado para descansar ou trabalhar. A iluminação também é um dos critérios que nós trabalhamos, analisando o uso de leds para proporcionar modificações no ambiente”, declarou.

Sergio Müller Frascino, do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), apresentou o projeto Estruturas aeronáuticas de materiais compósitos.

“O projeto tem o objetivo de desenvolver soluções para estruturas feitas com materiais compósitos para aplicação aeronáutica. Estimamos que esses materiais podem proporcionar redução de 10% a 15% do peso e de 10% do custo da aeronave, em comparação com os materiais convencionais”, ressaltou Frascino.

O projeto faz a validação de novas tecnologias, processos, métodos e critérios de projeto, cálculo, manufatura e ensaios com materiais compósitos, a fim de comprovar seus benefícios e limitações.

“A programação inclui a implementação de um laboratório de última geração no Parque Tecnológico de São José dos Campos, a fim de gerar competência, nas universidades, nas áreas críticas de tecnologias de materiais compósitos. O projeto envolve a Poli-USP, o Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE) da USP, a Escola de Engenharia de São Carlos (EESC-USP), a Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), da Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá (FEG), da Universidade Estadual Paulista (Unesp), do ITA e do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). “Acredito que projetos de real relevância para o Brasil precisam envolver muitas instituições”, disse Frascino.

Menos barulho

Aeronave silenciosa: uma investigação em aeroacústica foi apresentado por Júlio Romano Meneghini, da Poli-USP. Segundo ele, as discussões em torno do projeto começaram em 2005, e a primeira fase já foi encerrada.
“Houve aumento dos vos em todo o mundo. E a previsão é que até 2016 o número de aeroportos cresça 5%. As restrições legais contra ruídos estão cada vez mais rigorosas. Nesse contexto, é fundamental para a Embraer satisfazer as exigências internacionais, especialmente dos Estados Unidos e Europa, mercados centrais para a indústria aeronáutica”, disse Meneghini.

O objetivo principal do projeto, segundo o pesquisador, é propor métodos e equipamentos supressores de ruído. “Não se trata da geração de ruído na cabine, mas no entorno dos aeroportos. Uma pista de dois quilômetros gera um ruído que pode chegar a 20 ou 30 quilômetros do aeroporto. Precisamos de muita pesquisa para conciliar o aumento do número de voos e as restrições de ruído”, declarou.

“Nosso projeto procura simular e medir ruídos da superfície aerodinâmica, jato e trem de pouso, principalmente. O foco está nesses aspectos porque a Embraer é totalmente responsável por eles. A indústria aeronáutica, ao contrário do que ocorre na automobilística, projeta seus componentes no Brasil e, eventualmente, os fabrica no exterior”, informou.

Núcleo de excelência

A iniciativa conta com financiamento de R$ 10,5 milhões e, segundo Meneghini, grande parte dos recursos foi usada para a aquisição de um supercomputador. Uma grande parte também é investida na vertente experimental dos estudos, como as medições de ruído realizadas com grandes conjuntos de microfones na cabeceira de uma pista experimental, de cinco quilômetros de extensão, localizada em Gavião Peixoto, no interior paulista.
No final de sua primeira fase, o projeto já solicitou duas patentes relacionadas aos atenuadores de ruídos. Os estudos têm participação de 70 pesquisadores da Embraer, da USP, da UFSC, do ITA, da Universidade de Brasília (UnB), da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

“Conseguimos cruzar a fronteira tênue entre estudos básicos e inovação. E alcançamos um objetivo importante: gerar um núcleo de excelência para cada especialidade em cada instituição de pesquisa. Hoje, temos centros de excelência com reconhecimento internacional que não tínhamos no início do projeto”, afirmou.

Da Agência Imprensa Oficial e da Agência USP de Notícias