Fapesp: ciclo de palestras debate papel da ciência na luta contra o câncer

Evento é fruto de parceria entre Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo e Instituto do Legislativo Paulista

sáb, 29/09/2018 - 9h11 | Do Portal do Governo

A edição de setembro do Ciclo de Palestras ILP-Fapesp, promovido em parceria do Instituto do Legislativo Paulista (ILP) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, reuniu especialistas que debateram o tema “A Ciência Contra o Câncer”. O evento foi realizado nesta segunda-feira (24).

Vale destacar que o ciclo é realizado mensalmente na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, de modo a promover eventos de divulgação científica voltados à sociedade, legisladores, gestores públicos e outros interessados.

“O Brasil vive uma importante transição demográfica, que acarreta também uma transição epidemiológica. Com o envelhecimento da população, o câncer se tornou a segunda causa de morte de brasileiros. E logo será a primeira”, alerta Roger Chammas, professor titular de Oncologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), que também é presidente do Conselho Diretor do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) e membro da Coordenação de Área de Saúde da Fapesp.

Na apresentação, o docente da USP traçou o cenário da pesquisa sobre câncer no Estado, ressaltando os programas de vacinação contra o HPV, os avanços no diagnóstico por meio de biomarcadores moleculares, o uso de novos fármacos e de cirurgias minimamente invasivas e o desenvolvimento de terapias alvo-dirigidas.

Integração

Segundo os participantes, a integração entre unidades de saúde é fundamental para que os resultados das pesquisas de vanguarda desenvolvidas nas universidades e institutos cheguem à população. De acordo com Maria Ignez Saito, professora da FMUSP, os veículos de imprensa também possuem papel importante papel na transmissão de informações confiáveis.

A docente comentou os sucessos e desafios do programa de vacinação contra o HPV (vírus do papiloma humano), associado a vários tipos de câncer (colo do útero, vulva, vagina, pênis, ânus, boca e pescoço).

“O HPV é um vírus extremamente disseminado entre a população. O risco de contágio por contato, durante as relações sexuais, é de 50%, principalmente em adolescentes. A vacina quadrivalente recombinante é altamente eficaz e segura no combate ao HPV”, explica a professora. No entanto, a má informação tem prejudicado o programa de vacinação. Notícias sensacionalistas, sem qualquer fundamento científico, provocaram uma retração da população no comparecimento aos serviços de saúde para a administração da segunda dose”, acrescenta Maria Ignez Saito.

Segundo especialistas, os cânceres provocados por HPV estão em terceiro lugar na ordem de prevalência. A peculiaridade é que podem ser efetivamente evitados por meio da vacinação. Mas isso requer a adoção de programas de educação e de conscientização.

Prevenção

Emmanuel Dias Neto, pesquisador do Centro Internacional de Pesquisas do A.C.Camargo Cancer Center, abordou as questões emergentes em relação ao câncer gástrico e correlacionou a modalidade à distribuição populacional.

“Há uma alta incidência de câncer gástrico na Ásia, em especial, no Japão, China, Taiwan, Coreia do Sul, e na América ameríndia. Isso sugere a existência de componentes moleculares, selecionados ao longo do processo evolutivo, predispondo essas populações à enfermidade”, salienta.

O cientista coordena o Projeto Temático “Epidemiologia e genômica de adenocarcinomas gástricos no Brasil”, que tem como objetivos conhecer as causas para promover a prevenção, implementar medidas que permitam o diagnóstico precoce, entender a diversidade da doença e apontar as terapias mais efetivas para cada caso.

Daniela Baumann Cornélio, fundadora da Ziel Biosciences, empresa que conta com apoio do Programa Fapesp Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe), ressaltou a baixa eficácia do exame de papanicolau na detecção precoce do câncer de colo de útero. Esse método tradicional de diagnóstico pode deixar de detectar células alteradas em até 35% dos casos, com um alto índice de falsos negativos.

“Nosso estudo teve foco na identificação de novos marcadores da neoplasia, de modo a compor um método alternativo ao papanicolau”, afirma a empresária. Além disso, a Ziel Biosciences desenvolveu um dispositivo simples, o SelfCervix, que permite à própria usuária colher amostras de células do útero para exame de HPV e outros biomarcadores.