Fapesp apoia pesquisa sobre medicamento oferecido a pacientes do SUS

Quimioterápico paclitaxel é indicado em diversos casos de câncer, como de mama, pulmão, ovário e outros tipos de tumores

seg, 17/09/2018 - 8h34 | Do Portal do Governo

Com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), cientistas brasileiros descobriram um novo efeito para o um O paclitaxel, medicamento quimioterápico amplamente utilizado e oferecido aos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS).

Vale ressaltar que o remédio é indicado em casos de câncer de mama, pulmão, ovário e outros tipos de tumores. Além de inibir o desenvolvimento do câncer, ao interromper o ciclo celular, o novo trabalho indica que o medicamento também pode reativar a resposta imune, combatendo o tumor em duas frentes.

Em artigo publicado na revista Cancer Research, integrantes do Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias (CRID), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) financiado pela Fapesp, e da Universidade Federal do Ceará (UFC) descrevem como o paclitaxel auxilia na resposta imune inata.

Efeito

Pesquisas já apontaram que o remédio teria um efeito alternativo de estimular o sistema imunológico de roedores. Também é conhecido que macrófagos, células de defesa do sistema imune, apresentam dois fenótipos: um com ação pró-inflamatória e antitumoral (M1) e, outro, com propriedade anti-inflamatória que atua como um estimulador do crescimento do tumor (M2).

“Reunimos esses dois conceitos e descobrimos o efeito alternativo do quimioterápico. Identificar que o paclitaxel modula a resposta imune abre uma nova perspectiva de uso do medicamento”, explica à Agência Fapesp o primeiro autor do artigo, Carlos Wagner Wanderley.

Caso seja confirmada em testes clínicos, a descoberta possibilita associar o paclitaxel a tratamentos mais modernos contra o câncer, como, por exemplo, a imunoterapia, estratégia de tratamento que estimula o sistema imune do paciente a combater o tumor.

A iniciativa é resultado do doutorado de Carlos Wagner Wanderley, da UFC, que realizou o estudo em parceria com pesquisadores do CRID, nos laboratórios do centro, em Ribeirão Preto, interior paulista. “O estudo começou com uma ideia simples. Sabia-se que o paclitaxel tinha entre seus efeitos colaterais a dor neuropática e agora acreditamos que essa descoberta tenha um impacto grande na clínica também”, destaca Thiago Mattar Cunha, professor associado da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto e um dos autores do estudo.

Resposta

Além dos experimentos in vitro e in vivo, os pesquisadores fizeram análises de bioinformática a partir de um banco de dados de expressão gênica de amostras de tumores de pacientes com câncer de ovário que receberam o tratamento com o paclitaxel. Os pesquisadores querem avançar nos estudos e fazer testes clínicos com o quimioterápico.

“Vamos trabalhar em duas linhas: estudar outros medicamentos quimioterápicos mais antigos para ver se eles também têm ação imune antitumoral e fazer testes clínicos com o paclitaxel. No CRID, trabalhamos com assessores internacionais, que demostraram interesse em fazer pesquisa clínica para saber se o medicamento funciona como um adjuvante nas terapias”, salienta Fernando Queiroz Cunha, coordenador do CRID.

A descoberta também pode ter um efeito relevante no custo dos tratamentos. “Estima-se que o custo total do tratamento com inibidores de checkpoint pode atingir hoje R$ 1 milhão por paciente. Já o custo dessas drogas mais antigas como o paclitaxel, que entrou no mercado no início dos anos 1990, é muito mais baixo. Com base na descoberta, é possível propor a combinação de fármacos em busca de algo a mais do que o previsto no passado”, enfatiza Roberto Lima-Junior, professor do departamento de Fisiologia e Farmacologia da UFC, que também participou da pesquisa.