Fapesp apoia pesquisa sobre infecção por fungos em seres humanos

Cientistas brasileiros e estrangeiros analisam os hábitos reprodutivos de espécie causadora de micoses de pele e unha

qua, 11/07/2018 - 17h39 | Do Portal do Governo

Uma bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) realiza, em colaboração com cientistas de outros países, uma investigação que obteve destaque na revista Genetics. Os pesquisadores analisam os hábitos reprodutivos do Trichophyton rubrum, fungo causador do “pé de atleta” e de outros tipos de micose de pele e de unha, infecções comuns que acometem os seres humanos.

Os resultados da pesquisa indicam que a reprodução assexuada é a regra na espécie. Em situações do tipo, o acasalamento entre os indivíduos não é comum e, se ocorre, necessita de condições muito específicas. Como consequência, a variabilidade genética da população é pequena.

“Podemos concluir que se trata de uma população clonal, isto é, praticamente não existe cruzamento entre os indivíduos. Desse modo, são geradas poucas variações no genoma”, explica Gabriela Felix Persinoti, primeira autora do trabalho, realizado com bolsa de pós-doutorado da Fapesp.

Conhecimento

De acordo com a supervisora da pesquisa, Nilce Martinez-Rossi, professora da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, entender como os fungos se reproduzem é um conhecimento de ciência básica, mas sem o qual não se consegue avançar em relação à pesquisa aplicada.

“A variabilidade genética é um fator a ser considerado, por exemplo, quando se desenvolve uma nova droga, pois pode indicar o risco de o patógeno desenvolver resistência ao tratamento”, destaca a docente.

O trabalho faz parte de uma das linhas coordenadas na USP por Nilce Martinez-Rossi, com objetivo de compreender como os fungos capazes de causar infecções em pele, pelos e unhas de animais e de humanos (conhecidos como dermatófitos) interagem com os hospedeiros.

Mecanismos

Ainda de acordo com a supervisora, a espécie em análise infecta exclusivamente humanos. Em geral, trata-se de uma infecção crônica e superficial, pois o fungo alimenta-se da queratina presente na pele e na unha. Há desconforto, coceira e danos estruturais às unhas, resultando na diminuição da qualidade de vida dos indivíduos acometidos.

Em casos raros, associados, por vezes, à baixa imunidade, a infecção pode se disseminar pelo organismo e se tornar uma ameaça à vida do paciente.

“Buscamos desvendar os mecanismos moleculares de patogenicidade desses dermatófitos, ou seja, entender como eles causam a infecção. Revelar as ‘armas’ que estes fungos utilizam durante o processo infeccioso auxilia no desenvolvimento de fármacos para combatê-los”, diz Nilce Martinez-Rossi, que coordena um projeto temático financiado pela Fapesp.

A investigação foi realizada no laboratório de Christina Cuomo, do Broad Institute, ligado ao Massachusetts Institute of Technology (MIT) e à Harvard University, nos Estados Unidos, durante estágio no exterior com apoio da Fapesp.

A conclusão sobre a reprodução assexuada foi reforçada por análises segundo as quais o índice de similaridade no genoma dos indivíduos analisados foi superior a 99%.