Evento online destaca a produção de alimentos no município de São Paulo

Especialistas destacam bons exemplos de geração de renda e emprego no setor de agronegócio da maior cidade do país

ter, 01/09/2020 - 13h34 | Do Portal do Governo
DownloadDivulgação/Secretaria de Agricultura e Abastecimento

Em encontro virtual realizado pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento em agosto, extensionistas da Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS) – Regional São Paulo reuniram técnicos da Prefeitura e produtores rurais em um debate sobre a realidade e os desafios da atividade agropecuária no maior centro urbano da América Latina. O vídeo da transmissão ao vivo do dia 4 de agosto está disponível no Youtube: https://www.youtube.com/c/CDRSagricultura.

Acesso ao mercado, escoamento da produção, comercialização na pandemia, regularização fundiária e de propriedades e acesso às políticas públicas foram temas da conversa. Segundo Hemerson Calgaro, diretor da CDRS Regional São Paulo e mediador do debate, as ações em prol da produção de alimentos ganham força quando são resultado da integração de uma Rede Sociotécnica que engloba os atores envolvidos dos segmentos público e privado e da cadeia produtiva.

“O trabalho conjunto de entidades de Assistência Técnica e Extensão Rural [Ater] como nós da CDRS, a Prefeitura Municipal, entidades ligadas ao segmento agropecuário, associações, cooperativas e outros atores, como empreendedores que atuam em atividades não agrícola, mas correlacionadas, constitui uma soma de valores e força que abre caminhos e garante que o agricultor tenha seus direitos garantidos e suas necessidades atendidas”, avaliou.

De acordo com Hemerson, a cidade de São Paulo possui mais de quatro mil hectares de área rural. “Há centenas de iniciativas agrícolas nas áreas urbana e periurbana, destinadas à produção de alimentos, totalizando mais mil locais no município, em especial em Parelheiros, Marsilac e Grajaú. Baseado nessas premissas, podemos direcionar ações que sejam eficazes para atender esse público”, informou.

Articulação

De maneira coordenada com outros atores, explicou Hemerson, são realizadas capacitações voltadas para produção agroecológica; ao amplo trabalho de assistência técnica rural, com ênfase na difusão de tecnologias de produção e gestão; e à orientação técnica para regularização de áreas.

“Atuamos como facilitadores e articuladores do acesso às políticas públicas, orientando quanto às documentações necessárias e emitindo Declarações de Aptidão ao Pronaf [DAP] e de Aptidão ao Programa Paulista da Agricultura de Interesse Social [PPAIS], imprescindíveis no acesso ao crédito rural e a processos de compras institucionais, um excelente canal de comercialização”, diz.

Somente a olericultura ocupa mais de 105 mil m² de estufas na área rural da cidade, com produção variada de hortaliças, sendo que legumes, tubérculos, ornamentais, medicinais, aromáticas e Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs) são as de maior interesse e volume. “Os agricultores apresentam diversas formas de cultivo, do convencional ao agroecológico, orgânico, natural, biodinâmica, permacultura, sistemas agroflorestais, entre outros”, disse Hemerson.

Ações municipais

Uma ação chamou a atenção dos participantes do encontro: o Projeto Ligue os Pontos, o qual, segundo a gestora, Nicole Gobeth, foi desenhado a partir do Plano Diretor Estratégico como um instrumento de desenvolvimento territorial sustentável.

“Ao ligar os pontos na cadeia de valor da agricultura local, tornando a produção de alimentos uma atividade mais rentável, os agricultores são encorajados a permanecer em suas terras e até mesmo a expandir a produção. Por isso, o Projeto atua com três eixos estruturantes de ação: Fortalecimento da Agricultura, Cadeia de Valor e Dados e Evidências”, explicou.

Para valorizar a agricultura, o projeto oferece assistência técnica aos agricultores da Zona Rural Sul. No âmbito da Cadeia de Valor, busca fomentar o acesso ao mercado e incentivar novos negócios relativos à agricultura e à cadeia do alimento, dentro e fora da propriedade. Por último, apoia a formulação de melhores políticas públicas para a região, que sofre intensa pressão imobiliária.

“Existe um ecossistema na região que contempla a diversificação, por isso um dos nossos objetivos é fazer os links necessários para que tenham maior visibilidade e acessem melhores mercados, os quais valorizem essa produção e os serviços sustentáveis”, disse Nicole.

Jose Antônio Teixeira, do Departamento de Agricultura da Prefeitura de São Paulo, destacou a infraestrutura à disposição dos produtores. “No tocante à orientação técnica, a parceria com os extensionistas da CDRS tem permitido apoiarmos a transição agroecológica, agregar valor à produção e facilitar a comercialização de alimentos saudáveis e sustentáveis”, afirmou. Neste período de necessidade de menor deslocamento, muitos consumidores procuraram por hortas urbanas próximas às suas casas, com consequente aumento das vendas relatado pelos produtores.

Atividade agrícola

A produtora Joelma Marcelino dos Santos, membro do Grupo Agricultoras Urbanas (GAU), no bairro de São Miguel Paulista, diz não ter muita intimidade com as ferramentas digitais, mas demonstra grande familiaridade do grupo com a produção de alimentos.

“Começamos de maneira tímida, em uma área cedida pela Companhia de Habitação e Urbanização (CDHU), hoje temos orgulho de ser produtoras de frutas e verduras orgânicas, que além de vendidas frescas (in natura), se transformam em pratos deliciosos e nutritivos na cozinha comunitária do GAU, que são servidos em eventos e mantêm a renda das integrantes, muitas mantenedoras da família ou que contribuem com a maior parcela do sustento”, revelou Joelma.

O grupo tem reinventado as formas de comercialização, com apoio de parceiros, como a venda de cestas de produtos e marmitas para entidades assistenciais. Após deixar a profissão de professora infantil, Ana Zilda Coutinho, a Ana do Mel, encontrou a missão de vida no cultivo das plantas e na produção de mel.

“Sempre gostei da área rural e pensei em obter uma renda para minhas despesas. Hoje, tenho a alegria de ver toda a família trabalhando junto, tendo a atividade como principal renda”, relata a produtora. Por conta da pandemia, ela buscou alternativas, como o “balaio da Ana”, cesta de produtos que teve grande procura.

Cooperação

Vindo de família de agricultores, Mauri Joaquim da Silva produz hortaliças orgânicas em sistema biodinâmico, com viveiro próprio de mudas (cuja estufa foi adquirida com recursos do Projeto Microbacias II, executado pela CDRS) e comercialização por meio da cooperativa da região.

“Após anos trabalhando no sistema convencional, fiz a transição agroecológica, com o apoio dos extensionistas da CDRS e da Prefeitura. Isso fez toda a diferença na vida da minha família, pois ganhamos em qualidade de vida e saúde. Como produtores em uma cidade como São Paulo, enfrentamos muitos desafios em relação à logística, distribuição e comercialização, por conta das distâncias e do tráfego intenso no centro, onde estão muitos consumidores. Eventos como esse são importantes para discutir problemas e buscar soluções”, enfatizou.

Já Luciano Aparecido dos Santos, presidente da Associação dos Produtores Rurais de Parelheiros e Região, diz que a questão organizacional no meio rural é de extrema importância. “Isolado, o agricultor tem mais dificuldade em acessar as políticas públicas, como compras governamentais e financiamentos, entre outros”, pontuou.