Estudo do IAC sobre cultivo protegido de uva aumenta produtividade em 100%

Nova técnica melhora ainda a qualidade dos frutos e gera cachos de uva maiores

qua, 27/07/2011 - 20h00 | Do Portal do Governo

Aumento de 100% na produtividade e redução de 70% na aplicação de defensivos agrícolas. Esses são os resultados do uso do cultivo protegido em “Y” com cobertura impermeável para cultivo de videiras. A técnica foi introduzida e adaptada pelo Instituto Agronômico (IAC-Apta), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, para as condições do Estado de São Paulo. E poderá substituir, mesmo que gradativamente, a condução em espaldeira a céu aberto do cultivo da Uva Niagara Rosada, sistema muito utilizado pelos produtores paulistas.

A nova técnica melhora ainda a qualidade dos frutos, gera cachos de uva maiores e protege a plantação contra chuvas de granizo e ataque de pássaros, que podem acabar com toda a produção ou prejudicar seriamente a qualidade das uvas atingidas. O estudo é inédito no Estado.

A principal contribuição do cultivo protegido está na diminuição da ocorrência das principais doenças da viticultura, diz José Luiz Hernandes, pesquisador do IAC. “O uso de cobertura de plástico ou de outro material impermeável protege as folhas e cachos da incidência direta da chuva e, consequentemente, reduz as condições que favorecem o desenvolvimento de doenças fúngicas.”

Ainda segundo Hernandes, a cobertura impermeável funciona como um guarda-chuva sobre a videira e os fungos não têm como se instalar, já que não há água livre sobre as plantas. “Em ensaios que foram conduzidos sem nenhuma pulverização para controle de antracnose, míldio, mancha-das-folhas e podridão, que são as principais doenças da uva Niagara Rosada, constatou-se a redução de 60% a 70% da ocorrência de enfermidades.”

A queda do uso de defensivos agrícolas tem o mesmo percentual, explica o pesquisador do IAC. “Essa redução, além do retorno financeiro devido à baixa do uso de defensivos, economia de mão de obra, combustível e diminuição do desgaste de equipamentos, gera ainda um retorno que, em geral, não é capitalizado, como a proteção do meio ambiente e também um ganho humano, tanto para a saúde dos aplicadores como dos consumidores finais.”

Normalmente, os produtores utilizam o sistema de condução em espaldeira a céu aberto (parecido com uma cerca com três fios de arame) para o cultivo da uva Niagara Rosada. Neste método, as parreiras ficam um pouco mais baixas e são distribuídas pelas ruas de maneira uniforme. Os ramos anuais são conduzidos na vertical e precisam ser amarrados aos fios de arame para não serem derrubados ou quebrados pelos ventos ou pelo peso da uva, observa o pesquisador.

“No sistema em Y, os ramos ficam quase na horizontal e deitam-se naturalmente sobre os arames. Com isso, reduz-se a necessidade de amarrio para que eles não caiam e ainda os desestimula a brotar – por não ficarem mais na horizontal – reduzindo também a necessidade de desbrota das plantas, uma operação que demanda muitas horas de trabalho no vinhedo.”

Na videira, no sistema usual os cachos ficam a uma altura entre 80 centímetros a um metro do solo, enquanto no “Y”, ficam entre 1,5 m e 1,8 m. De acordo com Hernandes, a diferença na altura das parreiras também reflete na ocorrência de doenças. “Quanto mais próximo do chão, mais perto a planta fica da umidade e do calor refletido e, com isso, há maior incidência de doenças. Se a planta fica mais alta e mais ventilada, esse índice vai diminuir.”

Os cachos das uvas também ficam mais afastados por conta da disposição dos ramos, separados com metade para cada lado do “Y”. Para o pesquisador, essa característica também influencia a aplicação de defensivos e a produtividade. “Na uva, se os cachos ficam muito próximos, quando você aplica o defensivo, um vai impedir que o outro receba o produto aplicado. Quanto à produtividade, se os ramos estão mais abertos, as gemas ficam mais expostas à luz solar. Isso altera a fisiologia da uva e estimula a produção.”

Com a diminuição no número de aplicações de defensivos, redução da desbrota e amarrio, o cultivo protegido em “Y” otimiza o tempo para o cuidado com a plantação, reduzindo significativamente a mão de obra utilizada e influenciando positivamente no custo de produção, acrescenta o pesquisador.

“A circulação dentro do vinhedo é facilitada, possibilitando a mecanização de diversas operações, desde a aplicação de defensivos por turbina, adubações, até a circulação de pequenos veículos na colheita. Some-se ainda o maior conforto do agricultor ao realizar as tarefas com o corpo em posição mais ereta, na sombra e protegido da chuva.”

O sistema já está sendo implantado em alguns municípios paulistas, como Louveira, Jundiaí, Indaiatuba e Itupeva, conta Hernandes. “Há um aumento da procura de informações por parte dos produtores. Eles estão percebendo a vantagem do cultivo protegido em “Y” e querem implantar em seus vinhedos. Por isso já estamos trabalhando na edição de um boletim técnico sobre o assunto” (a íntegra do texto está disponível no site www.iac.sp.gov.br). 

Do Instituto Agronômico