Estudo da USP investiga detecção de hormônio associado a tumores

Biossensor auxilia na identificação da melatonina, substância importante para diagnóstico de doenças como câncer e diabetes

ter, 07/08/2018 - 19h42 | Do Portal do Governo

Pesquisadores do Instituto de Física de São Carlos (IFSC), da Universidade de São Paulo (USP), desenvolveram um aparelho que permite identificar o hormônio melatonina, substância importante para a detecção de doenças tais como câncer, mal de Alzheimer, depressão e diabetes, entre outras. Isso ocorre porque os pacientes apresentam alterações na concentração de melatonina usual.

Por isso, o novo biossensor desenvolvido pelo Grupo de Nanomedicina e Nanotoxicologia (GNano) utiliza anticorpos para detectar o hormônio, tornando mais precisa a identificação, o que facilita o diagnóstico. Vale destacar que o projeto foi iniciado há três anos, sob responsabilidade da pesquisadora Laís Brazaca e supervisionado pelo professor Valtencir Zucolotto, em conjunto com a docente Regina Pekelmann Markus, do Instituto de Biociências (IB) da USP.

Efeitos

É importante frisar que os efeitos do hormônio melatonina no organismo humano são analisados por Regina Pekelmann Markus desde a década de 1990. A substância é comumente conhecida como o hormônio do escuro e facilitadora do sono em humanos, porém a molécula exerce outras funções que não estão ligadas ao ciclo ambiental claro-escuro.

Os estudos da docente do IB também apontaram que a melatonina está ligada à atuação do sistema imunológico. Com o intuito de desenvolver um método mais barato para quantificar a substância e continuar as pesquisas, a professora contou com o apoio dos dois colegas da USP. “Cada kit para medir melatonina custa em torno de US$ de 2 mil. Assim, é inviável fazer esse tipo de medida em clínica ou mesmo em pesquisa clínica”, enfatiza Regina Pekelmann Markus.

Já a pesquisadora Laís Brazaca explica que, por exemplo, em um processo infeccioso, não se pode ter um grau elevado de melatonina no sangue, pois as células de defesa não conseguem combater a infecção. Com isso, a produção da melatonina é suprimida temporariamente, permitindo que as células de defesa atinjam os agressores.

Na sequência, o ritmo normal de melatonina deve ser restaurado. Em razão desse e de outros processos, as concentrações da substância podem funcionar como uma espécie de sinalizador, que indica que algo não está funcionando bem no organismo.

Exames

No cenário, o biossensor desenvolvido pode ter um papel muito importante, como auxílio aos médicos para avaliar a presença de algum processo estranho ao organismo. Caso sejam detectados níveis anormais, mais exames devem ser realizados para realizar o diagnóstico preciso.

Um diferencial é que o novo aparelho se apresenta como um imunossensor. O equipamento usa anticorpos para detectar a melatonina, trazendo mais especificidade para a detecção. “É frequente usarem-se polímeros ou outros materiais que têm a particularidade de facilitar a oxidação da melatonina para fazer a detecção. Porém, dessa forma, podem aparecer muitas interferências”, explica Laís Brazaca.

“Quando se utiliza um anticorpo, ao contrário, existe uma ligação mais específica com a melatonina, o que proporciona uma leitura precisa”, completa a cientista. Uma das aplicações da novidade pode ser a avaliação da malignidade dos tumores.

Concentração

Recentemente, o grupo de pesquisa da professora Regina Pekelmann Markus analisou que tumores menos agressivos produzem mais melatonina, enquanto se encontra uma menor concentração do composto em tumores mais agressivos.

Apesar de o sensor desenvolvido pelos pesquisadores já ter se mostrado capaz de quantificar melatonina em amostras biológicas provenientes de fígado de rato, o dispositivo ainda deve ser validado para o uso em outros tipos de tecido. Os testes são necessários para permitir a futura aplicação do biossensor em tumores humanos.