Estudo da USP de São Carlos auxilia no diagnóstico da hepatite C

Dispositivo realiza identificação de pessoas com a infecção viral que afeta o fígado de modo mais rápido e com custo menor

seg, 23/07/2018 - 17h16 | Do Portal do Governo

Uma pesquisa conduzida pela Universidade de São Paulo (USP) pode ser uma ferramenta importante para o diagnóstico da hepatite C, infecção viral que afeta o fígado. Vale destacar que a identificação o quanto antes é fundamental para evitar a progressão e impedir que a pessoa contagiada transmita a doença para outras.

No entanto, atualmente, os exames convencionais não são totalmente precisos, o que pode comprometer o resultado da avaliação médica. Soma-se a isso que alguns exames custam caro e levam dias até os resultados ficarem prontos.

Uma solução para o panorama pode ser o trabalho do pesquisador João Paulo de Campos da Costa, da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP. O cientista criou um dispositivo eletrônico mais rápido, exato e barato, que revela em poucos minutos se a pessoa está com hepatite C.

Procedimentos

É importante frisar que a pessoa infectada com o vírus da hepatite C (VHC) tem no sangue o anticorpo que combate a doença, chamado de anti-VHC. Para que o equipamento detecte se a pessoa contém esse anticorpo, a partir do sangue extraído são realizados procedimentos em laboratório até que uma gota do composto final seja pingada sobre um pequeno sensor eletroquímico que contém uma proteína do VHC.

“Caso a pessoa possua os anticorpos contra o vírus, eles irão ‘se ligar’ com a proteína viral, gerando uma reação que diminui a corrente elétrica que passa pelo aparelho. É justamente essa redução na corrente que indica a infecção da pessoa”, explica o pesquisador João Paulo de Campos da Costa.

De acordo com o cientista, o equipamento tem mil vezes mais sensibilidade para detectar o anti-VHC na comparação com os modelos convencionais. Por vezes, os exames não são capazes de identificar pequenas quantidades de anticorpos. De acordo com o pesquisador, o dispositivo custou cerca de R$ 430 e exibe o diagnóstico em, no máximo, dez minutos.

Os resultados obtidos pelo aparelho são transmitidos por rede sem fio diretamente para um aplicativo de celular que poderá ser utilizado por profissionais da saúde. O app também é capaz de armazenar o exame do paciente em um cartão de memória e enviá-lo, por e-mail ou redes sociais, ao médico responsável que irá interpretar o diagnóstico e definir o melhor tratamento da pessoa infectada.

“Alguns exames levam até uma semana na rede pública e aqueles que utilizam sistemas eletroquímicos para diagnóstico são muito caros, podendo chegar a mais de R$ 20 mil”, afirma João Paulo de Campos da Costa. O pesquisador desenvolveu a tecnologia durante o mestrado no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica da EESC.

Ferramenta

O estudo recebeu financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), no âmbito do Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF). De acordo com especialistas, a pesquisa surge em um momento fundamental pelo fato de o Brasil ter lançado um plano para erradicar a hepatite C até 2030.

Segundo o Ministério da Saúde, a meta é tratar, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), todos os pacientes diagnosticados e apresentar iniciativas para testar o máximo de pessoas de forma simplificada. Nesse sentido, o novo dispositivo pode ser mais uma ferramenta útil para o diagnóstico precoce da doença e tratamento mais eficaz.

Atualmente, o diagnóstico da hepatite C pode ser feito por meio de exames sorológicos, testes moleculares, além da biópsia hepática, realizada para determinar o grau do processo inflamatório, o estágio de fibrose e se há presença de cirrose no tecido hepático.

Contudo, os procedimentos exigem tempo, equipamentos especiais, laboratórios com infraestrutura adequada, profissionais especializados e qualificados. Além disso, a biópsia é um exame invasivo e que pode trazer complicações para a saúde.

Doenças

O sistema desenvolvido pelo pesquisador também pode ser programado para quantificar os anticorpos encontrados no soro sanguíneo, além de atuar no diagnóstico de outras doenças crônicas virais, como o HIV e outros tipos de hepatite.

“É uma plataforma muito completa, que permite diversas aplicações e agiliza o processo de diagnóstico da hepatite C”, ressalta Paulo Inácio, biomédico e professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Araraquara (FCFAR) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), que participou do estudo.

O dispositivo pode ser facilmente replicado pela indústria, uma vez que é composto por um microcontrolador, amplificadores de sinal, bateria e sistema de recepção e envio de dados sem fio. “Criar um aparelho de baixo custo e que pudesse ser produzido em larga escala era um dos meus objetivos desde o início do trabalho”, revela João Paulo de Campos da Costa, que já atuou em um estudo na área de nanotecnologia aplicada à saúde em 2016.