Estudo da USP comprova que professores melhoram aulas com curso de formação continuada

Professores pesquisados desenvolveram novas competências e mudaram atitudes e prática pedagógica

sáb, 29/05/2010 - 19h00 | Do Portal do Governo

Alguns professores de ensino médio tiveram a possibilidade melhorar a qualidade de suas aulas a partir de um curso de formação continuada, quando passaram a escrever em seus diários as atividades, conteúdos aplicados e experiências vividas dentro da sala de aula. A afirmação é resultado de um doutorado defendido em abril na Faculdade de Educação (FE) da USP pela professora Ana Emilia Fajardo Turbin.

Segundo a pesquisadora, a escolha do tema vem de suas inquietações como professora de inglês, na medida em que a profissão leva a uma necessidade de contínua renovação linguística e metodológica. “Decidi buscar os efeitos de um curso de formação continuada (CFC) na prática dos professores-alunos que pesquisei” conta. O objetivo foi descobrir se, com o curso, esses professores mudavam de atitude em sua prática profissional e se tornavam mais reflexivos quanto às aulas.

Ana entrevistou 22 professores de inglês da rede pública de ensino que buscavam aprimoramento em um CFC de um centro binacional, na cidade de São Paulo, ao longo do ano de 2008. “A pesquisa contou com a minha observação, entrevistas e coleta de diários dos professores durante o curso em questão. A metodologia teve um cunho etnográfico”, explica, “as transcrições nos diários, as entrevistas e anotações de aula foram as pistas que deram a materialidade para o trabalho de interpretação realizado posteriormente”.

A professora esclarece que o CFC tem como objetivo a expansão do conhecimento linguístico-metodológico do professor. Eles passam por testes a fim de serem avaliados em sua capacidade linguística e são levados a conhecer novas teorias de ensino-aprendizagem do inglês. “À medida que seus conhecimentos sobre o ‘como dar uma aula de inglês’ vão se expandindo, os professores vão adaptando suas realidades aos novos conhecimentos e desenvolvem novas competências, podendo mudar concepções, atitudes e sua prática pedagógica”, explica Ana.

No decorrer do curso, Ana observou mudanças registradas nos escritos dos diários e nos registros das observações: “o professor, que inicialmente se lamuriava e nem sabia o que escrever, mostrou sinais de mudanças em seu discurso oral e escrito passando a mostrar indícios de reflexão e controle de suas aulas”.

Segundo a pesquisadora, não se pode afirmar que todos sofrem os mesmos efeitos do curso, mas entre os 22 professores-alunos entrevistados uma professora teve uma notável mudança que se refletiu em seu discurso escrito em diário no decorrer do curso, e outros quatro professores, que mostraram mudanças bastante relevantes apreendidas em seus discursos orais e escritos.

Resultados práticos

Ana explica que as mudanças começavam a partir do momento em que os professores descobrem que tem o que escrever. Até durante a metade do curso eles não sabiam o que escrever sobre aulas de inglês que ministravam. “Aos poucos eles vão incorporando palavras em inglês a seu vocabulário e organizando as aulas em pré-aula, durante aula e pós-aula, escrevendo a respeito de atividades que ‘funcionaram’ em sala de aula e mostrando que conseguem, pelo menos por algum tempo, ter a atenção de alunos ditos indisciplinados”, explica.

A pesquisa mostrou também que planejar a aula ajuda a controlar a indisciplina e como resolver problemas como perguntas mais complicadas dos alunos. “Ouvir a voz dos professores e descobrir como eles resolviam seus problemas na prática foi a estratégia que permitiu compreender os indícios de controle e autonomia durante as aulas. Não podemos afirmar que os professores se tornaram reflexivos, seria uma conclusão muito abrangente mas observamos indícios de reflexão e controle”, finaliza Ana.

Ana explica que a pesquisa contribui para a identidade do professor de língua inglesa da rede pública e que, consequentemente, beneficia os alunos, uma vez que os professores terão ampliado seu conhecimento linguístico-metodológico. Ao mesmo tempo eles estarão lidando com seus alunos de forma mais autônoma desenvolvendo suas próprias teorias durante o planejamento e as aulas.

Da USP