Estudo da Unesp Botucatu revela novo grupo de grilos

Mestrado descreve 16 espécies encontradas na Mata Atlântica

dom, 09/09/2007 - 17h56 | Do Portal do Governo

Em sua pesquisa de mestrado, apresentada no câmpus de Botucatu, Márcio Bolfarini descobriu um novo táxon de grilos, com 16 espécies ainda desconhecidas. A região onde os insetos foram recolhidos fica no distrito de São Francisco Xavier, em São José dos Campos (SP), numa área de proteção ambiental da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica da Bacia do Rio Paraíba do Sul, na região da Serra da Mantiqueira. O trabalho foi orientado por Francisco de Assis Ganeo de Mello, professor do Departamento de Zoologia do Instituto de Biociências (IB).

Um táxon envolve um agrupamento de indivíduos com características comuns. Algumas das espécies encontradas por Bolfarini se inserem em três novos gêneros, identificados pela pesquisa.

O biólogo ressalta que o local onde o táxon foi descoberto se tornou um remanescente de Mata Atlântica, por seu difícil acesso. Há algum tempo, o lugar era constantemente ameaçado pela plantação de eucaliptos, prática que tem devastado outras regiões de mata no Estado de São Paulo. “Três anos atrás, conseguimos fazer com que o estado realizasse o zoneamento da região, impedindo que plantadores de eucaliptos invadissem a área”, afirma Bolfarini, que é presidente do Instituto Muriqui, organização não-governamental que luta pela preservação da Serra da Mantiqueira.

Processo de coleta – Bolfarini apanhou os grilos à noite, com o auxílio de um holofote a gás. Ele capturou os animais ora manualmente, ora com uma armadilha terrestre conhecida com “pitfall”, que consiste em uma garrafa de plástico enterrada no chão, formando um buraco. Dentro desse recipiente, é colocado um composto de melaço de cana, água, álcool e sal, fazendo com que os animais fiquem presos. “O sal é importante porque impede a deterioração dos indivíduos pela ação de microorganismos”, explica o pesquisador.

O processo de estudo desses insetos é minucioso. Primeiro, Bolfarini fez a análise morfométrica, isto é, o levantamento de características físicas medidas em milímetros, tais como comprimento do corpo e largura da cabeça. Depois, o biólogo aplicou o método merístico, que envolve a contagem de estruturas notáveis, como espinhos e esporas, por exemplo.

As genitálias são retiradas e conservadas em frascos com álcool. Com esse recurso, é possível identificar os respectivos macho e fêmea: a genitália dos grilos machos se encaixa apenas nas fêmeas de sua espécie, impedindo que haja cruzamento de espécies diferentes. Conservando as genitálias, o pesquisador pode encontrar com exatidão o par sexual de cada tipo de grilo.

As espécies catalogadas foram preservadas em álcool e enviadas ao Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, ao Departamento de Zoologia do IB, à Academia de Ciências Naturais da Filadélfia (EUA) e ao Museu Nacional de História Natural de Paris, França.

Cinthia Leone

Da Unesp

C.M.