Estudantes oriundos de povos amazônicos realizam pesquisas na Unicamp

Em 2020, Universidade Estadual de campinas deve ter cerca de 200 indígenas alunos, incluindo os ingressantes deste ano

sex, 17/01/2020 - 18h26 | Do Portal do Governo
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A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) promoveu, nesta terça-feira (14), o início das atividades do programa Ciência e Arte dos Povos da Amazônia (Capa). Estabelecido por uma parceria entre a Unicamp, a Universidade Federal do Pará (UFPA) e o Santander, o Capa leva ao campus 20 estudantes da UFPA, oriundos de povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos e extrativistas, para atividades de estágio de pesquisa e oficinas.

As atividades do programa terão duração de seis semanas, com encerramento no dia 20 de fevereiro. Durante o período, os alunos realizarão oficinas, às segundas-feiras, e participarão de projetos de pesquisa, entre terças e sextas-feiras. As pró-reitorias de Pesquisa, na Unicamp, e de Pesquisa e Pós-graduação, na UFPA, estão a cargo da organização do evento.

Um dos 20 estudantes que participa do Capa é o aluno de Biomedicina da UFPA Onésio Aaka Wai. O aluno afirma que este será um período de grande aprendizado. “É uma oportunidade de aproveitar, aprender o máximo possível e levar daqui tudo que absorvi para compartilhar na UFPA com outras pessoas”, revela.

O estudante, da comunidade Wai localizada na cidade de Caroebe, na região leste de Roraima, também compartilha os planos que o ingresso em uma universidade o ajudou a construir. “Quero trabalhar na área da saúde, cuidar da saúde das pessoas, pois o atendimento ainda é precário e pretendo ajudar de qualquer forma”, acrescenta.

Edital

Para compor as atividades do Capa, a Unicamp lançou um edital de seleção em outubro de 2019. Foram selecionadas nove propostas, em diversas áreas do conhecimento. Um dos projetos é o Ciência, Tecnologia, Sociedade e Inovação “Povos da Amazônia no Instituto de Geociências” intercâmbio de experiências e conhecimentos interculturais”, desenvolvido pela docente do Instituto de Geociências (IG) Leda Gitahy, junto a um grupo de mais 23 pessoas, entre professores, pós-graduandos e graduandos.

A professora destaca que a programação no IG foi pensada a partir da interculturalidade. “É uma experiência de troca. Não só eles aprendem, nós também aprenderemos”, afirma. Leda, que é docente na Unicamp desde 1984, elogia o enriquecimento cultural e científico que preocupação com a diversidade propiciou à instituição.

“A produção de conhecimento se dá a partir da diversidade. Quanto mais diverso é um ambiente, e no IG nós somos multidisciplinares, mais chance se você tem de produzir conhecimento novo e de qualidade”, analisa.

O cronograma de oficinas e atividades de pesquisa no IG envolve temas como mudanças climáticas; saneamento; direitos dos agricultores, agrobiodiversidade e agroecologia. Além disso, serão oferecidas visitas aos laboratórios, trabalhos de campo e oficinas de audiovisual e sobre os povos indígenas da Guatemala.

Outras unidades e institutos que oferecem as vivências em pesquisa e oficinas são: Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA); Instituto de Química (IQ); Faculdade de Ciências Médicas; Faculdade de Enfermagem; Faculdade de Engenharia Agrícola; Núcleo de Informática Aplicada à Educação (NIED); Faculdade de Engenharia Elétrica e Computação (FEEC) e Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas (CEPQBA).

Abertura

A cerimônia de abertura contou com a presença de representantes da Unicamp, da UFPA e do banco Santander. O reitor da Unicamp, Marcelo Knobel, enfatizou a relevância da diversidade na instituição de ensino, que, em 2020, terá cerca de 200 indígenas alunos, contando com os ingressantes deste ano.

“Acreditamos muito na diversidade, na importância de ter a sociedade brasileira representada aqui dentro da universidade pública. Precisamos juntar forças. A melhor maneira, na minha opinião, é tendo a possibilidade de colaborar e compartilhar experiências”, salienta.

O pró-reitor de Pesquisa da Unicamp, Munir Salomão Skaf, também frisou a necessidade de maior representatividade no Ensino Superior. “Temos que criar mecanismos para que essa inclusão, que é um funil tão apertado, não seja demasiadamente elitista”, enfatiza.

A pró-reitora de Pesquisa e Pós-graduação da UFPA, Maria Iracilda da Cunha Sampaio, destacou que a instituição possui a mesma preocupação e, atualmente, tem cerca de 1,5 mil estudantes quilombolas e 200 indígenas, além de ser composta por 80% de estudantes de baixa renda.

“Lutamos para romper as dificuldades e manter esses estudantes na universidade, com assistência estudantil. E agora temos esse privilégio de trazê-los à uma das melhores universidades da América Latina”, pontua.

Mariana Von Zuben, gerente do segmento de universidades do Santander, instituição financeira que proporcionou o auxílio financeiro para os 20 estudantes do Capa, parabenizou a Unicamp e a UFPA por assumirem o compromisso de apoiar o desenvolvimento da região amazônica e da educação no país. “Esperamos que, através de programas como esse, possamos apoiar o desenvolvimento da universidade e dos seus estudantes”, diz.