Estação de Bondes do Brás é tombada pelo Condephaat

Trata-se da última garagem do gênero que resta em São Paulo

sáb, 29/03/2008 - 17h08 | Do Portal do Governo

No último dia 30 de janeiro, o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico de São Paulo (Condephaat), órgão da Secretaria Estadual da Cultura – marcou um tento importante na preservação da memória paulistana. Nessa data, foi publicada no Diário Oficial do Estado a homologação do tombamento da Estação de Bondes do Brás, última garagem do gênero que resta na cidade. A Estação, que fica na esquina da Av. Celso Garcia com a rua José de Alencar, e dá fundos para a João de Lima, é um marco do bairro do Brás – reduto de imigrantes e operários protagonistas da industrialização de São Paulo, no começo do século XX.

Depois do tombamento, a estação continuará cumprindo a mesma função que tem desde o final do século XIX: garagem de veículos de transporte público. É verdade que, nesta época, os “veículos” tinham quatro patas, e sua manutenção consistia de água e capim. Era a época dos bondes puxados a burro. No local onde hoje está a estação, ficava a cocheira da Companhia Viação Paulista, que, encampando as empresas preexistentes, se tornou a única concessionária do transporte urbano por bondes a burro na cidade de São Paulo, até 1900. Segundo a historiadora do Condephaat e antiga moradora do Brás, Marly Rodrigues, a memória desses tempos persistia no bairro até a década de 60. Nessa época, os moradores do bairro ainda se referiam ao local como “a cocheira dos burros”.

Bondes elétricos

Em 1900, passaram a circular os novos bondes elétricos da Light. Logo depois, a estação de bondes de burros do Brás, que ficava a dois quarteirões da cocheira, seria transformada para abrigar bondes elétricos, ficando conhecida como velha estação, depois demolida.

Em 1906 as duas estações de bondes elétricos em funcionamento (Brás e Barão de Limeira) já não eram suficientes para guardar todo o “material rodante” da Light. Daí começou a ser construída uma nova instalação no enorme terreno que antes abrigava a cocheira dos burros. Este é o edifício que foi tombado pelo Condephaat.

Na década de 1940, a CMTC, empresa municipal de transportes, assumiu a exploração das linhas e as estações da Light; a Estação de Bondes do Brás, portanto, passou à sua responsabilidade. Depois do fim dos bondes elétricos, em 1968, a estação passou a abrigar trólebus. Hoje, o local é gerido pela SPTrans e abriga ônibus a diesel de uma empresa particular que atende à Zona Leste.

Pode-se dizer, portanto, que a Estação atravessou todas as fases do transporte coletivo urbano moderno, dentro da lógica da moderna cidade industrial que se tornou São Paulo na virada do século XIX para XX. “E por transporte coletivo urbano, aqui, entendemos aquele que é organizado por uma empresa capitalista nos moldes modernos, como já era a Companhia Viação Paulista, que explorava os bondes puxados a burro”, explica Marly Rodrigues.

Linha arquitetônica

No aspecto arquitetônico, a Estação de Bondes de Brás espelha as possibilidades de uso do tijolo aparente e a inspiração da arquitetura inglesa adotada pela Light em suas instalações de serviço, oficinas e subestações no início do século. A importância histórica do edifício, entretanto, transcende a história dos transportes. A Estação remete ao Brás dos imigrantes, e à atividade industrial que deu origem à cidade moderna que conhecemos hoje.

Além de sua importância isolada como única remanescente da rede de apoio ao transporte coletivo na cidade de São Paulo no começo do século XX, a Estação faz parte de um conjunto de construções de grande valor histórico dessa época.  Como explica Marly Rodrigues, “a Estação de Bondes do Brás é parte de um conjunto de bens materiais — estações ferroviárias, Hospedaria dos Imigrantes, e inúmeros edifícios industriais –, que compõe um todo representativo da formação histórica do bairro e da capital paulista. No imaginário coletivo, este conjunto está relacionado aos signos do trabalho, imagem de grande importância no perfil da cidade que há décadas começou a ser construído”.

Mais do que o interesse histórico, foi a paixão pelos bondes – veículo que deixou uma marca afetiva importante na memória dos brasileiros – que levou ao pedido de tombamento. Esta foi a motivação de Ayrton Camargo e Silva, da Associação de Preservação de Material de Transporte Coletivo, ao enviar em 1991 ao Condephaat a solicitação de tombamento da antiga Estação de Bondes do Brás. Ele detalha algumas preciosidades ainda existentes no local. “Temos, por exemplo, marcas dos antigos trilhos debaixo do piso, e uma bomba a vapor que ainda pode ser acionada”, conta.

O estado de conservação atual da Estação é considerado bom. “Com umas poucas exceções, como a construção de um muro que impede a visão, e algumas manchas na parede externa, causadas pela ocupação dos sem-teto que dormem por ali, a Estação está em bom estado”, avalia Marly Rodrigues. “Ela pode continuar sendo usada como garagem, o que é ótimo. Nem tudo que é tombado deve virar centro cultural”, diz a historiadora. “Claro que a estação se beneficiaria de um restauro, mas de forma geral o seu estado é bem razoável”, avalia Ayrton Camargo e Silva.  Com o tombamento, agora, uma importante faceta da história da cidade fica preservada para as atuais e futuras gerações.

 

Da Secretaria da Cultura

(I.P.)