Estação da Luz comemora 107 anos

Uma das mais antigas de São Paulo e de maior aparato técnico, estação se destaca pela arquitetura neoclássica ainda conservada

qui, 13/03/2008 - 11h28 | Do Portal do Governo

A Estação da Luz é a cara de São Paulo. Bela, imponente, movimentada. Reúne, ainda, outras características que fazem o seu diferencial com relação a outros espaços de transporte coletivo no País. É uma das mais antigas, a de maior aparato técnico e se destaca pela arquitetura neoclássica.

Em seus 107 anos de vida – foi inaugurada no dia 1º de março de 1901 – viveu épocas áureas, como a da expansão cafeeira paulista, períodos de charme e elegância quando pertencia à The São Paulo Railway Company, criada na Inglaterra, e que lhe valeu o apelido de A Ingleza.

Passou por momentos dramáticos como o de um incêndio em 1946 que comprometeu parte do seu edifício. Enfrentou tempos de decadência, reergueu-se e, hoje revitalizada, é considerada um dos mais importantes monumentos arquitetônicos de São Paulo.

E, como a cidade, não pára. Com 13,2 mil metros quadrados de área e 500 funcionários, a instalação dá acesso a três linhas da Companhia Paulista de Transportes Metropolitanos (CPTM): A (Luz-Francisco Morato), D (Luz-Rio Grande da Serra) e E (Luz-Estudantes). Nos dias úteis, são realizadas cerca de 720 viagens, sendo a estação ponto de partida ou de chegada de pessoas de várias regiões do Brasil. Por lá circulam, em média, 320 mil usuários.

Doces lembranças 

A passagem de tanta gente pelos corredores, catracas e trens é, no mínimo, intrigante. O que fazem? Aonde vão?

“Tudo na Luz me atrai”. Quem afirma é Antenor Pinotti, aposentado, 76 anos. Ele freqüenta a Luz todos os dias, primeiro porque mora a poucas quadras dali, depois porque o conjunto o remete a boas lembranças da infância e juventude.

Conhece a estação como a palma da mão há, pelo menos, 70 anos, quando vinha do interior na companhia do pai. Na primeira vez, aos 6 anos, ficou a noite toda sem dormir, tal a ansiedade. Naquela época, as viagens eram todas de trem, lembra. Ele morava numa cidade pequena, Neves Paulista.

De lá, iam até Mirassol para, depois, embarcar. Vez ou outra, “era como presente de aniversário”, o pai gostava de sofisticar e o levava até Araraquara, de onde partiam trens chiques, com toalete, quarto com guarda-roupa, restaurante. “Não havia nada que substituísse aqueles momentos de felicidade”.

Já em São Paulo, em 1952, Pinotti não só intensificou as viagens, mais longas, como de São Paulo ao Rio, como acabou se tornando um próspero exportador de café. “Mandei muito café para a França, Itália e outros países. Ganhei dinheiro, perdi tudo com a derrocada do café, mas fui feliz”.

Dois casamentos lhe deram cinco filhos, cinco netos e dois bisnetos. Para ele, a estação melhorou com o tempo. “Muita coisa boa veio para somar: a revitalização, o jardim em frente, tudo está bonito”. Agora, mais do que nunca, tem um motivo a mais para não dispensar o passeio diário: a namorada Rafaela, que vem todos os dias encontrá-lo no mesmo lugar, diz, em tom de confidência.

Atento a mil detalhes

Assim como Antenor Pinotti, o pernambucano Raimundo Alexandre da Silva está dia após dia na Luz. “Para ser preciso, há exatos 27 anos na CPTM, oito dos quais como chefe de estação”. Sob sua responsabilidade, um time de 150 funcionários que atuam em diversos setores – administração, operação, segurança, limpeza, estagiários e bolsistas. Atento a mil detalhes para que a estação funcione cem por cento, ele conta que cada dia é diferente, cheio de surpresas. “Temos de estar preparados para enfrentar todo tipo de situação”, diz ele, que começou como auxiliar de agente de estação, na venda de passagens.

Segundo Raimundo, esse tempo a que Antenor se refere, das viagens interioranas nos chamados trens de passageiros, na verdade ficou pra trás, em 1996, quando a Luz passou a ser apenas uma estação dos trens metropolitanos da CPTM. “Quando vim para a chefia, havia, em circulação dez trens para o interior de São Paulo, dois para Santos, dois para o Rio de Janeiro e um com destino a Brasília, com conexão em Minas”. Ainda hoje, conta, muitas pessoas ligam e perguntam se há trem para Marília, Rio Preto, Oswaldo Cruz e outras cidades.

Maria das Graças Leocádio, da Agência Imprensa Oficial

(C.C.)