Especialista defende várias formas de “leitura” na escola pública

Consultora do Programa Ler e Escrever ressalta a importância de garantir o acesso a textos de variados gêneros

dom, 22/04/2007 - 12h48 | Do Portal do Governo

Consultora do Programa Ler e Escrever da Secretaria Municipal de Educação e consultora pedagógica da revista Carta na Escola, Maria José Nóbrega ressalta a importância de garantir o acesso a textos de variados gêneros, principalmente na escola pública. Mas, segundo ela, isso por si só não basta. Quem lê insere-se em uma comunidade de leitores e compartilha conhecimentos. Por isso, quanto mais a escola se aproximar disso, mais chances terá de formar leitores. Leia abaixo trechos de sua entrevista.

– Qual é a importância de proporcionar ao aluno o contato com diferentes textos para o desenvolvimento das habilidades e das competências da leitura e da escrita?

Maria José Nóbrega – Lemos e escrevemos com diferentes propósitos. A leitura rápida do jornal é diferente do modo como lemos um bom romance que, por sua vez, é diferente do modo como nos debruçamos sobre os textos que precisamos estudar. O registro de nossos compromissos em uma agenda pessoal, a elaboração de um currículo ou a produção de uma monografia mobilizam investimentos diferentes por parte de quem escreve. É por essa razão que se defende que os estudantes devam ser expostos a textos de diferentes gêneros, para que possam vivenciar a diversidade de práticas de linguagem que caracteriza a cultura letrada.

– A leitura amplia nossas referências de mundo e nos ajuda a escrever. A senhora defende que a escola proporcione experiências diversificadas nessa área. A quais experiências a senhora faz referência?

MJN – O leitor antecede o escritor. É porque nos apaixonamos por autores e textos que sentimos o desejo de escrever como eles. Quando precisamos redigir textos de gêneros com os quais temos pouca familiaridade, ansiamos por encontrar bons modelos que nos orientem em nossa tarefa. Lemos para escrever. As experiências a que me refiro são as proporcionadas pela própria leitura ou pela própria escrita em contextos autênticos.

– Na sua opinião qual é o papel do professor em todo esse processo?

MJN – Muito do que compreendemos de um texto depende do que já soubermos a respeito do assunto tratado, do que já tivermos lido a respeito. O professor é alguém que, em geral, já viveu mais, já leu mais; tem, portanto, condições de repertoriar os estudantes, ler com eles trechos de maior complexidade, ajudando-os a ler de modo menos ingênuo: Quem escreveu? Onde e quando foi publicado? Com que propósitos? Como o autor organizou as informações no texto? Que outros autores também escreveram a respeito? Há outros pontos de vista além do que o autor do texto sustenta? O professor é quem ilumina os espaços obscuros das entrelinhas, permitindo que leitores pouco experientes enxerguem os subentendidos.

– Como a senhora diz, o leitor é como o vinho que precisa de maturação.Trazendo para o universo da sala de aula, que orientação pode ser dada aos educadores para estimulem a maturação de seus alunos?

MJN – Um leitor, em primeiro lugar, precisa de livros, revistas, jornais, acesso à internet etc. Lêem-se objetos. Garantir o acesso aos textos é um aspecto importante, principalmente na escola pública. Mas isso por si só não basta. Quem lê insere-se em uma comunidade de leitores: compartilha com outros leitores o que leu, pede sugestões, indica títulos etc. Quanto mais a escola se aproximar disso, mais chances terá de formar leitores. Quem escreve, contou também com  a ajuda de leitores generosos que deram palpites, sugeriram alterações. Colocar algumas palavras no papel é apenas o começo de um longo processo de reelaboração: cortar, substituir, inverter, acrescentar. Esse é o trabalho de quem escreve. Aprendemos a escrever, escrevendo em resposta às múltiplas demandas da vida pessoal e profissional.

Joice Henrique

(R.A.)