Especial do D.O.: Unicamp testará nova técnica de transplante de medula óssea

No transplante haploidêntico o portador de leucemia não depende da disponibilidade de doador totalmente compatível

sex, 21/07/2006 - 14h29 | Do Portal do Governo

De forma experimental no Brasil, pesquisadores da Unicamp testarão nova modalidade de transplante de medula óssea, destinada ao tratamento de pacientes com leucemias agudas. A técnica, denominada transplante haploidêntico, consiste na manipulação das células de um doador parcialmente compatível para serem toleradas pelo organismo do receptor.

A vantagem do novo método é que o doente não depende da disponibilidade de um doador totalmente compatível, situação cada vez mais rara. Embora não seja alternativa de cura para a leucemia, o transplante haploidêntico é uma técnica promissora, na opinião do hematologista e professor da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, Cármino Antônio de Souza.

Essa modalidade, explica, é empregada experimentalmente em importantes centros de pesquisa do mundo, como os de Seattle (Estados Unidos), Munique (Alemanha) e Perugia (Itália). O hematologista afirma que, no Brasil, a opção de transplante é estudada por dois grupos: um da USP de Ribeirão Preto e outro de especialistas do Hemocentro e da Unidade de Transplante de Medula Óssea do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp.

Localização de doador – Na técnica convencional, quando o portador de leucemia aguda precisa de transplante de medula óssea, um dos maiores desafios é encontrar pessoa totalmente compatível. Normalmente, o material é cedido por um parente próximo, como irmão. Mas a probabilidade de encontrar doador compatível entre os familiares é de apenas 25%. “Como as famílias brasileiras estão se tornando cada vez menores, a dificuldade de localizar um doador completamente compatível tem se tornado mais difícil”, explica Souza.

Uma alternativa, nesse caso, é tentar localizar um não-aparentado, mas 100% compatível, por buscas em registros de medula óssea no País e no exterior. O doente enfrenta, porém, dois problemas: o custo (investimento de cerca de US$ 70 mil, algo em torno de R$ 160 mil) e a demora da investigação, que pode comprometer o tratamento, com a morte do paciente antes da localização.

Rejeição – O que é necessário para que não haja rejeição do material transplantado, quando o doador não é totalmente compatível? De acordo com o hematologista Cármino Souza, a resposta está na manipulação das células. O que os médicos fazem no transplante haploidêntico é coletar do doador uma dose elevada de células-tronco e reprimir de maneira importante as células imunologicamente competentes: aquelas responsáveis pela defesa do organismo.

Com esse material, os especialistas fazem uma espécie de “enxerto”, que é administrado no receptor. “Se por um lado não agridem o organismo do paciente, essas células também não o protegem num primeiro momento”, explica. Por isso, o transplantado receberá cuidados, com acompanhamento clínico-laboratorial, por dois anos.

Com pouca imunidade, um dos maiores riscos da fase de recuperação é que a pessoa contraia infecção provocada por vírus ou fungos. Os resultados dos transplantes haploidênticos experimentais do exterior, reafirma o docente da Unicamp, estão sendo considerados promissores: “Os médicos constatam que, adotados os cuidados necessários, o transplante proporciona rápida recuperação do paciente”. Antes da modalidade de transplante ser incluída entre os procedimentos do Hemocentro e da Unidade de Transplante de Medula Óssea do HC, prevista para o primeiro semestre de 2007, será necessário cumprir algumas etapas.

Entre elas, a aprovação da proposta pelo Conselho de Ética e Pesquisa da FCM (em andamento), e a obtenção de recursos para o aparelhamento de laboratórios, com projeto encaminhado à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

A idéia é selecionar 20 portadores de leucemia mielóide aguda com indicação para cirurgia que não encontraram doador de medula óssea compatível. Essas pessoas serão possivelmente escolhidas para o teste. Se os transplantes tiverem sucesso, poderão beneficiar mais pacientes. “É importante que a sociedade saiba que o novo método não é a solução definitiva para o problema da leucemia aguda, nem vem para substituir as terapêuticas existentes. É apenas mais uma possibilidade de tratamento da doença”, avisa o hematologista Cármino Souza.

Da Agência Imprensa Oficial