Especial do D.O.: Revista norte-americana publica estudo inédito da Polícia Científica de SP

Especialistas do Brasil desenvolvem técnica que facilita a constatação das características da munição usada num disparo

seg, 05/02/2007 - 11h12 | Do Portal do Governo

Peritos e pesquisadores brasileiros desenvolveram método inédito e preciso de análise e identificação de resíduos de disparo de armas nas mãos de suspeitos de crime. A metodologia inovadora foi inicialmente testada com armas calibre 38 e publicada no Journal of Forensic Science, de novembro de 2003, com o título A new method for collection and identification of gunshot residues from the hands of shooters (Um novo método para coleta e identificação de resíduos de pólvoras nas mãos dos suspeitos).

Recentemente, novo estudo com pistolas e munição clean range (munição ecológica) foi publicado na revista americana Forensic Science International com o título “Measurements of Gunshot Residues by Sector Field Inductively Coupled Plasma Mass Spectrometry – Further Studies with Pistols” (Análises de resíduos de pólvora de espectrômetria de massa de alta resolução com fonte de plasma indutivamente acoplado).

Esse artigo leva a assinatura do diretor-técnico do Centro de Exames, Análises e Pesquisas (Ceap), perito Osvaldo Negrini Neto, da diretora do Núcleo de Balística, perita Sônia Viebig, ambos do Instituto de Criminalística da Polícia Científica de São Paulo, do pesquisador do Instituto de Pesquisas Energéticas (Ipen) Jorge Eduardo de Souza Sarkis, e do professor Steven Durrant, do Laboratório de Plasmas Tecnológicos, do Câmpus Experimental de Sorocaba da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

Munição ecológica

O Ceap é responsável pela análise laboratorial de vestígios em locais de crime, análise da natureza de substâncias para evitar transgressões como falsificação de combustíveis e envenenamento. Tem seis núcleos de pesquisas: Análise Instrumental, Balística, Biologia e Bioquímica, Física, Química e Exames de Entorpecentes.

Para iniciar a pesquisa publicada no periódico, 200 voluntários dispararam cem tiros nas pistolas calibre 38, 50 mm e 9 mm. As armas tinham munição convencional – metais pesados, como chumbo, bário e antimônio. Houve ainda 30 disparos com munição clean range –  conhecida como munição ecológica porque não contém metais pesados. Não deixa cheiro desagradável no ambiente nem vestígios nas mãos do atirador. Isso dificulta a identificação do autor de um disparo pelos métodos convencionais do Núcleo de Balística.

Peritos do Ceap realizaram os testes residuográficos nos voluntários antes e depois dos disparos. Esse exame consiste na retirada de vestígios da arma de fogo das mãos dos atiradores com cotonete no algodão embebido em EDTA (substância que agrupa as partículas).

Esse método permite agrupar 400% mais partículas de resíduos que o convencional (cotonete embebido em água destilada), que é empregado na rotina da polícia científica. “Quanto mais partículas agrupadas, mais fácil a constatação das características da munição usada no disparo”, explica o perito Negrini.

Entenda a técnica adotada na pesquisa

Todas as amostras do teste residuográfico foram analisadas no espectrômetro de massa de alta resolução com fonte de plasma indutivamente acoplado (HR-ICPMS), instalado no Grupo de Caracterização Química e Isotópica do Ipen. De forma resumida, os cotonetes utilizados na coleta do material são imersos em soluções ácidas para a retirada dos resíduos. A solução resultante é introduzida no equipamento, onde sofrem processo de ionização. São transportados a um campo magnético e se separam de acordo com a massa. Com isso, são analisados os elementos presentes no resíduo e, a partir da relação entre eles, ocorre a identificação do disparo.

“Com esse equipamento verificam-se as composições químicas das amostras antes e depois dos tiros para detectar exatamente a munição usada”, informa o perito Negrini. Com o instrumento HR-ICPMS, os estudiosos descobriram elementos específicos da munição ecológica, que não são identificados nos métodos convencionais de balística. Eles dizem que obtiveram a “assinatura química” da munição ecológica.

“Se eu disser quais são esses elementos, darei pistas para pessoas mal-intencionadas fraudarem a nossa descoberta”, frisa Negrini.

Em sua rotina, a polícia científica emprega microscópio eletrônico ou processo químico para a análise das amostras coletadas do teste residuográfico. Para sucesso nessas técnicas, a coleta do vestígio pode ser feita até cinco horas após o disparo, desde que as partículas analisadas sejam visíveis nos equipamentos.

Já a precisão de resultados com o instrumento HR-ICPMS é garantida quando verificada até 12 horas depois do teste. “A sensibilidade do aparelho é tão grande que aumenta a probabilidade de identificação de inocentes e criminosos”, destaca Negrini.

O estudo descrito acima é o sexto do Ceap que saiu publicado na revista americana. Na opinião do perito, a divulgação significa que a Polícia Científica de São Paulo ganha renome e reconhecimento internacional na área forense, pois a maioria dos laboratórios de criminalística do mundo assina a revista Forensic Science International.

Da Agência Imprensa Oficial

 

(AM)