Especial do D.O.: Museu interativo de ciências estimula aprendizado com projetos itinerantes

Nanoaventura e Oficina Desafio são as primeiras realizações da iniciativa da Unicamp; proposta é estreitar a relação dos jovens com a ciência

ter, 19/09/2006 - 14h33 | Do Portal do Governo

Um grupo de professores da Unicamp iniciou há três anos um projeto que pretende mudar a relação dos jovens com a ciência. A iniciativa surgiu da vontade comum de criar um espaço de lazer com conteúdo científico e resultou no primeiro museu interativo da Unicamp: o Museu Exploratório de Ciências de Campinas. Ainda não foi instalado fisicamente porque não foram concluídas as obras do prédio que o abrigará. Mas, em abril de 2005, já ocorreu a inauguração dos trabalhos com a estréia de um projeto itinerante inédito, montado sob tenda de lona plástica e aço: a NanoAventura.

A atração, criada e desenvolvida por equipe multidisciplinar de professores da universidade, foi inaugurada oficialmente em Campinas, mas começou a funcionar efetivamente bem longe dos 40 mil metros quadrados reservados ao Museu dentro do câmpus. Suas primeiras atividades foram no Rio de Janeiro, durante o 4º Congresso Mundial de Centros de Ciência. “A idéia, ao se criar a estrutura itinerante, era a de ter condições de levar a NanoAventura para onde fosse preciso”, explica o professor de física e coordenador da ação, Marcelo Knobel. Para ele, o fato de o primeiro grande projeto do Museu Exploratório de Ciências de Campinas ser itinerante torna a idéia ainda mais inovadora. “Permite, num país tão grande como o Brasil, que uma mesma exposição percorra diversas partes, inclusive regiões distantes dos grandes centros urbanos, com pouco acesso a museus”, destaca.

Em seguida, o circo de ciências voltou para Campinas e se instalou em vários lugares em São Paulo. O retorno à universidade para uma temporada por tempo indeterminado foi no dia 1º de setembro, durante a realização da Unicamp Portas Abertas (UPA). O evento anual, de um fim-de-semana, é promovido para que alunos do ensino médio de todo o País conheçam o que a universidade oferece. A estimativa é de que mais de 60 mil estudantes tenham comparecido este ano, a maioria transportada em 1,8 mil ônibus.

Mundo da Nanociência – A NanoAventura foi concebida quase simultaneamente ao surgimento da idéia da criação de um museu interativo de ciências. O grupo de trabalho encontrou na nanociência o tema ideal para o primeiro projeto da instituição: “Por ser uma ciência que está nascendo, de grande importância e na qual a Unicamp tem destaque”, conta Knobel. Considerada iniciativa inédita de abordagem do tema, inclusive no âmbito internacional, o projeto foi financiado pela linha de crédito de ensino público da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pela Fundação Vitae, além de receber recursos da Unicamp, do Laboratório Nacional de Luz de Síncroton e do Instituto Sangari. Foram investidos R$ 2 milhões.

Trata-se de um laboratório itinerante planejado para despertar nos estudantes, de 9 a 13 anos, o interesse científico e a curiosidade para o mundo da nanociência, que estuda átomos, moléculas, partículas e estruturas de dimensões nanométricas (um nanômetro corresponde a um bilionésimo de um metro), e da nanotecnologia, a engenharia de materiais a partir de átomos e moléculas.

Montado sob tenda de lona plástica com estrutura de aço de nove metros de altura e 19 de diâmetro, lembra um circo quando visto de fora. Mas, internamente, utiliza recursos de tecnologia avançada, como jogos eletrônicos, cinema em três dimensões, teatro, música e animação, que remetem a um ambiente futurista, também propiciado pela iluminação com efeitos especiais. Tudo é feito para ser visto e manipulado. Os conteúdos são baseados nos resultados de pesquisas no campo da nanociência e foram elaborados com apoio científico-pedagógico. Partem de temas do cotidiano e se valem de exemplos e indicações que pertencem ao universo de contato do público-alvo.

Segundo Knobel, a intenção da atração é tornar as noções básicas do nanomundo como o conceito de escala e medida, e a observação e manipulação de átomos e moléculas, mais acessíveis para o público. “Os visitantes encontram novos elementos para entender e discutir a importância desse campo científico-tecnológico para a sociedade, além de conhecer algumas iniciativas de pesquisa e desenvolvimento realizadas no Brasil nesta área”, explica.

Ciência e diversão – O roteiro de visitação (grupos de até 48 pessoas) dura uma hora. Os grupos são divididos em quatro equipes, identificadas pelas cores dos aventais que recebem na entrada. Iniciam a “aventura” numa sessão de vídeo de 20 minutos, com imagens e depoimentos que abrangem uma introdução ao assunto. Em seguida, percorrem circuito de quatro jogos eletrônicos, em sistema de revezamento: Laboratório Virtual, NanoCircuito, NanoMedicamentos e Preparação de Amostras.

O Laboratório Virtual simula a exploração por meio de um trem fictício no Pólo de Alta Tecnologia de Campinas, de laboratórios de nanociência (incluindo o Laboratório Nacional de Luz Síncroton e da Unicamp), para passeio pelas instalações e interação com cientistas. No Nanocircuito, a proposta é manipular partículas nanoscópicas, com microscópios de alta tecnologia), e construir novos materiais, usados para fabricar roupas que não molham, chips para comutadores, carros e até aviões.

O jogo Nanomedicamentos desafia o participante a curar uma célula microscópica, injetando nela remédios, a exemplo do que fazem nanocientistas especializados em estudar seres vivos e que usam essa ciência para produzir novos medicamentos. Preparação de Amostra permite o uso de um poderoso microscópio virtual, de força atômica, para limpar uma superfície nanoscópica, manipulando átomo por átomo, como fazem os cientistas em pesquisas que pretendem a obtenção de materiais mais puros e resistentes. Todas as etapas são acompanhadas por monitores, quatro ao todo. Ao final, é apresentado um vídeo em 3D de três minutos.

Maria Paula Ito, 18 anos, é integrante de um grupo de estudantes de Araçatuba que participou da UPA. Ela aproveitou a ocasião para conhecer a Nanoaventura e achou a iniciativa mais interessante do que as que considera tradicionais. “Por ser interativo, o museu é mais atrativo do que outros e desperta a curiosidade para o assunto”, conta.

As monitoras do museu-laboratório e estudantes de fonoaudiologia, Gisleine Fonseca Batista e Renata Dias Moraes, ambas com 22 anos, contam que a maioria dos visitantes participa das atividades propostas com grande interesse, independente da idade. “Os mais velhos se atrapalham um pouco com os jogos, por serem eletrônicos, mas mesmo assim querem interagir”, observa Gisleine, que começou a estudar um pouco de física depois que se tornou monitora. Para Renata, o contato com o público foi o que mais a interessou ao se candidatar para a função. “Os adolescentes participam bastante animados e eu tento contribuir para que se divirtam”, afirma.

Desde sua inauguração, a NanoAventura recebeu mais de 25 mil visitantes.O atendimento preferencial é para escolas públicas, com acesso gratuito. São fornecidos materiais de apoio complementares para atividades em sala de aula, além de um portal na Internet com referências e outras atividades (ver serviço). Há ainda oportunidade para os professores participarem de oficinas previas à visitação, para contextualizar em sala de aula os temas abordados na experiência.

Escolas particulares e público em geral também têm acesso ao circo de ciências interativo, porém mediante pagamento de ingresso. As visitas devem ser agendadas pelo site ou telefone (ver serviço). Além das temporadas em Campinas, a proposta é de que ele percorra quatro cidades diferentes por ano. Durante a UPA, dias 1º e 2 desse mês, a atração ficou aberta à visitação gratuita.

Oficina Desafio: quem topa? – “Senti-me desafiado”, resumiu André Goulart, 15 anos, ao ser questionado sobre o porquê de estar tão interessado em participar da sessão de atividades do jogo itinerante Oficina Desafio.O garoto, que chegou um pouco atrasado e pedindo com vontade para entrar na brincadeira, respondeu a pergunta sem desgrudar os olhos da monitora Érica Fernandes Formighieri, de 25 anos, enquanto ela avaliava qual das equipes ele poderia integrar.

A resposta do jovem vai ao encontro do raciocínio do professor de matemática e coordenador da oficina, Marcelo Firer. “Quando se desafia as pessoas, dando condições para acharem uma solução, ocorre grande envolvimento”, explica. A segunda atração criada para o Museu Exploratório de Ciências foi baseada nessa idéia. Inaugurada em agosto de 2005, a oficina é composta de um caminhão equipado com ferramentas diversas, como serra tico-tico e elétrica, furadeira, lixadeira, máquina de solda, esmerilhador, compressor, além de recursos elétricos, peças variadas para bricolagem, entre outros recursos. No veículo, há cabine para os monitores, com computador, também utilizada como escritório.

A ferramenta é utilizada para dar vazão à criatividade dos jovens, que são desafiados a apresentar soluções para problemas propostos no jogo. Os participantes são divididos em equipes, diferenciadas por cores, e contam com a orientação dos monitores para elaborarem suas engenhocas. Na rodada em que André participou, o desafio foi a criação de uma máquina para coleta de lixo entre sessões de cinema. “Acho melhor ver primeiro o que a gente tem”, propôs o jovem aos colegas do grupo. Depois da apresentação do vasto material pela monitora, Gustavo Abreu, 16 anos, desenha sua idéia que foi aceita por todos.

“Gosto disso”, diz o aluno do segundo colegial, que não tem a intenção de fazer engenharia, nem nada parecido. “Talvez direito”, diz, concentrado para tornar viável sua idéia e adaptá-la às propostas dos companheiros de equipe. De onde a tirou? “Eu vi uma coisa desse tipo e lembrei agora do mecanismo”, conta. Segundo Firer, “as pessoas têm conhecimento prático e intuitivo, que devem ser estimulados, para poder construir o conhecimento formal. Por isso as equipes sempre chegam a soluções para o problema, independente de já terem mexido com esse tipo de coisa”, afirma.

Cada sessão da Oficina Desafio demora em torno de quatro horas. Ao final, são apresentados os trabalhos um a um. “É incrível observar a diversidade de soluções que aparecem para cada tema apresentado. Sempre surgem respostas a partir de princípios novos”, diz o coordenador. “É um projeto que estimula a criatividade e cria motivação para o estudo da ciência. Todos ficam superfelizes ao encontrar a solução”, completa a monitora.

A estudante de biologia, Michelle Cândida dos Santos, de 25 anos, também monitora, avalia que não adianta ter contato com o conhecimento apenas na teoria. “A prática é fundamental, pois com essa experiência deixa de ser um mero espectador”, analisa. A participação efetiva na Oficina, diz, faz muita diferença para a formação, tanto para mim que quero atuar na educação como para os participantes.

Simone de Marco – Da Agência Imprensa Oficial

 

(AM)