Especial do D.O.: Descubra a Orquestra promove eventos para formação de público jovem

Concertos proporcionam a crianças e adolescentes a oportunidade de conhecer e apreciar música erudita ao vivo

ter, 11/07/2006 - 13h44 | Do Portal do Governo

A segunda-feira, 12 de junho, começou animada na Sala São Paulo. Passava pouco das 9 horas, quando cerca de 1,3 mil crianças terminaram de se acomodar, ocupando quase todos os espaços reservados à platéia na imponente sala de espetáculos. Os pequeninos não se comportavam com a austeridade habitual dos adultos enquanto esperavam o início do show, mas a apresentação a que assistiriam também seria diferenciada.

O repertório era de música clássica, e reunia mais de 30 melodias para serem executadas num curto espaço de tempo. “São fragmentos de canções que a humanidade tem ouvido há cerca de 300 anos e, por isso, diferem de muitas que saem de moda rapidinho”, define o maestro Carlos Moreno, regente titular da Orquestra Sinfônica da Universidade de São Paulo (Osusp), a atração do dia.

Essa e outras informações sobre composições clássicas e orquestra foram passadas ao público durante o concerto, organizado por meio do Programa Descubra a Orquestra, criado em 2001 pela Coordenadoria de Programas Educacionais da Fundação Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo), da Secretaria da Cultura. A iniciativa tem a finalidade de ampliar o universo cultural e pedagógico em música e educação musical, para formar público para as apresentações eruditas, principalmente crianças, adolescentes e jovens.

O espetáculo é resultado de uma das ações do programa, chamada Formação de Público. Ela oferece eventos didáticos a escolas, realizados pela Osesp e pelas orquestras parceiras: a Sinfônica da USP, a Filarmônica de São Caetano do Sul, a Sinfônica de Santo André e a orquestra da Associação para Crianças e Adolescentes com Tumor Cerebral (Tucca). Foram programados para este ano 32 concertos e ensaios nesses moldes, divididos em quatro séries, de acordo com a faixa etária dos alunos participantes.

Música presente – O público para a apresentação da Osusp foi formado por alunos da pré-escola à 4a série do ensino fundamental de escolas públicas e privadas. Eram, na maioria, crianças com idades entre cinco e dez anos. Dispersas, a princípio, voltaram os olhos rapidamente quando a apresentadora entrou no palco. A agitação deu lugar a grande curiosidade, recompensada por explicações sobre a sala, a orquestra e o tipo de espetáculo, tudo de forma bem simples. No momento da entrada dos 35 artistas, muitas delas trocaram comentários entre si, provavelmente sobre os instrumentos que carregavam.

Os primeiros acordes as paralisaram novamente. O comando do concerto ficou a cargo do regente convidado, Juliano Suzuki, que teve um parceiro em cena: vestido de palhaço, um ator invadiu o palco e passou a fazer parte do espetáculo. Expulso pelo maestro, voltou, resolveu ensinar regência a Suzuki, com uma batuta molenga, e arrancou gargalhadas do jovem público, que aparentemente não esperava por isso. “Tenho cara de quem faz bagunça?”, perguntou, ao levar bronca do regente. Depois da escapada de um sim, a resposta em coro e convicta foi um sonoro não, em seu apoio.

Entre muitos vai-e-vem, descontraiu o ambiente e exerceu a função de professor. Além dos músicos, apresentou à platéia as famílias de instrumentos (o nome de cada um, suas sonoridades), entre outras curiosidades características do espetáculo. Sob o ritmo de melodias imortais como Danúbio Azul, de Strauss, Para Elisa, de Beethoven, As Quatro Estações, de Vivaldi, Bolero, de Ravel, Cavalaria Ligeira, de Suppé, Pedro e o Lobo (Op. 67), de Prokofiev, e outras, o concerto prosseguiu, interpretado também pelo ator que, por intermédio de suas brincadeiras, evocou referências populares às obras clássicas. “Tudo é feito com o intuito de mostrar para a criançada que a música erudita está mais presente no dia-a-dia das pessoas que eles podem supor”, explicou depois Wellington Nogueira, o ator em cena.

Num desses momentos, embalado pela melodia da Marcha Nupcial, de Mendelssohn, convidou uma professora para representar com ele a cena de uma cerimônia de casamento. Brincou, ainda, com um fantoche de vaquinha, com bolinhas de sabão e com outros acessórios, sempre preocupado em chamar a atenção para aspectos sonoros da melodia executada. “A idéia é passar a experiência emocional da música, de forma divertida, e apresentar imagens que ela sugere para despertar uma sensação de intimidade”, completa.

Além de se apresentar com a Osusp em concertos didáticos desde 2001, é coordenador do programa Doutores da Alegria, que criou em 1988 com o objetivo de levar felicidade às crianças internadas em hospitais por meio da arte do palhaço. “Quando surgiu a oportunidade de aliar essa forma de expressão à musica clássica, achei ótimo”, conta. “Isso é comum em orquestras estrangeiras”, explica.

Retorno imediato – A Emei Professora Tereza de Carvalho, da zona leste da capital, participou do evento com 70 alunos, do jardim e pré-primário. Segundo a professora Inez Angelina da Fonseca, as crianças foram preparadas durante um mês com audições, atividades de expressão corporal e de identificação dos instrumentos.

No final do espetáculo, Nicole Eustáquio Felipe, cinco anos, elegeu seu instrumento predileto. “É o contrabaixo”, afirmou. As amigas Daniele, Camila e Ruhama também o escolheram e, com exceção de Camila, querem repetir o programa. “Gostei das músicas e do palhaço”, contou Daniele. Guilherme Ferreira da Silva, de apenas 4 anos, foi além. “Gostei do piano e quero aprender a tocar”, planeja.

Os músicos também se divertiram durante o concerto descontraído. Alguns, na primeira oportunidade que encontraram de desviar o olhar da partitura, do maestro e do instrumento, viravam-se para observar o personagem em palco. “É bacana. Ele leva a música mais perto das crianças”, avalia o violoncelista Sérgio Freitas. Para o músico, esse tipo de iniciativa é importante por despertar o interesse infantil pelo erudito. “Além do mais, é muito gostoso observar a reação da garotada”, conta.

Sua colega de instrumento, Teresa Cristina Rodrigues, considera a iniciativa importante, bem programada e muito gratificante. “A gente sente o retorno imediatamente. É um prazer para todos”, diz a violoncelista. O regente convidado concorda. Após a sua terceira parceria com Wellington, define esse tipo de apresentação como uma versão leve do concerto, que proporciona uma troca prazerosa com os músicos e com a platéia.

Evolução das atividades – O Programa Descubra a Orquestra oferece atividades educativo-musicais por meio de três subprogramas. Além do Formação de Público, as ações Formação de Professores e Atividades na Osesp também objetivam ampliar e fortalecer o desenvolvimento cultural e musical de diferentes públicos (crianças, adolescentes e professores). As três atividades são aplicadas de forma integrada.

Inicialmente, havia apenas o Formação de Professores, em parceria com as Diretorias de Ensino Norte 1 e Centro. Esse subprograma promove cursos de aperfeiçoamento sobre música orquestral para educadores, com o intuito de oferecer subsídios para o trabalho com música em sala de aula. Ministradas por mestres e doutores no tema, vindos de todo o Brasil, as aulas são destinadas tanto a professores com formação musical quanto a leigos, e dispõem de acompanhamento a distância via Internet. Contam ainda com um site, criado em parceria pela Coordenadoria de Programas Educacionais da Osesp e o Laboratório de Sistemas Integráveis da Escola Politécnica da USP, para buscar atividades a serem aplicadas.

Com o passar do tempo, o subprograma passou a ser realizado em conjunto com os eventos didáticos para crianças. De acordo com a coordenadora de programas educacionais da Osesp, Susana Ester Kruger, antes eles eram paralelos e tinham apenas alguns aspectos em comum, como o fato de os professores inscritos poderem trazer eventualmente suas escolas para os concertos didáticos.

“No decorrer do trabalho, foram criados workshops específicos para os educadores participantes do Formação de Público e, em 2005, as atividades foram oficialmente integradas”, explica. “Agora os cursos de Formação de Professores, muito disputados e reconhecidos pelos participantes, somente podem ser freqüentados pelos educadores das escolas inscritas”, afirma a coordenadora.

A integração se deu com a incorporação do Descubra a Orquestra ao programa Caminho das Artes, da Secretaria da Educação, que se tornou a sua principal parceira e incentivadora. Entre os co-patrocinadores, estão a BV Financeira, a Camargo Corrêa, a Credicard, os bancos Nossa Caixa e Unibanco. Essas instituições patrocinam as séries de Concerto da Osesp por meio das leis de incentivo à cultura do governo federal. Outro apoiador é o Serviço de Voluntários da Fundação Osesp, cujos integrantes colaboram na organização das atividades, além dos próprios músicos, que participam de algumas atividades com crianças e adolescentes da ação Atividades na Osesp.

Nesse subprograma, os jovens têm oportunidade de se envolver diretamente com a prática musical. Para isso, são apresentadas iniciativas de execução, composição e apreciação de repertório orquestral. São oferecidos dois conjuntos de eventos para alunos de 7 a 11 anos da rede estadual de ensino: Fazendo Música na Osesp e Gincanas Musicais.

 

SERVIÇO

Programa Descubra a Orquestra

Escolas podem inscrever-se para os eventos do segundosemestre

até o dia 14 de julho pelo

site www.osesp.art.br/educacionais

Mais informações, pelo telefone (11) 3351-8229

Simone de Marco – Da Agência Imprensa Oficial