Especial do D.O.: Corpo Musical da Polícia Militar oferece entretenimento e cultura à população

Há quase 150 anos surgiu a primeira banda da corporação; hoje atuam na Banda Sinfônica, Jazz Band, Coral e Camerata

qua, 12/07/2006 - 12h04 | Do Portal do Governo

Era Dia das Crianças, 12 de outubro de 1992, em Osasco, na Grande São Paulo. Os integrantes da Banda Sinfônica, uniformizados, afinavam as clarinetas, saxofones, contrabaixo, teclados, flautas, trompetes, trompas e trombones, entre outros instrumentos.Atenta e com olhos arregalados, uma senhora da platéia observava a orquestra executar as peças eruditas e populares. A espectadora parecia encantada com o som.“Perguntei se gostaria de reger a banda”, relembra o maestro Jonas Vicente de Oliveira. Ela acenou que sim, subiu ao palco e assumiu o comando. “Ofereci-lhe a batuta e dei sinal para a Sinfônica iniciar a exibição”, conta.A harmonia das notas musicais e a vestimenta dos músicos despertaram a curiosidade e a atenção da mulher. O espanto explica-se:a Banda Sinfônica é um dos conjuntos do Corpo Musical da Polícia Militar (PM) do Estado de São Paulo.

Muitos desconhecem, mas tem tradição secular: foi criada em 7 de abril de 1857. Na época, tinha 17 integrantes e um sargento mestre, que entretinha a corporação nos quartéis.Com o passar dos tempos, as execuções se estenderam à comunidade. A banda participou da inauguração do Viaduto do Chá, no centro da cidade, em 6 de novembro de 1892, da Avenida Paulista e do Teatro Municipal.

De Carlos Gomes a Offenbach – Atualmente, 173 músicos atuam na Banda Sinfônica, Jazz Band, Coral, Camerata e duas Seções de Banda.Apresentam-se nos principais eventos militares de São Paulo, festividades cívicas e feriados, entre eles o Dia da Revolução Constitucionalista de 1932 (9 de julho), Dia da Independência (7 de setembro) e aniversário de fundação da PM (15 de dezembro). A Banda Sinfônica prestigiou a abertura do 13 o Festival de Inverno Acordes na Serra, em Cunha, no Vale do Paraíba, no dia 1º de julho. Cinqüenta músicos da banda exibiram obras do compositor italiano Rossini Gioacchino, do austríaco Franz Von Suppé, do francês Jacques Offenbach e dos brasileiros Antônio Carlos Gomes, Ernesto Nazareth e José Barbosa de Brito (soldado falecido da PM e arranjador de músicas).A corporação usa fardamento e metodologia de ensino baseada no modelo francês. “Homenageamos o centenário da missão francesa da PM e oferecemos feliz protofonia (combinação de sons) de elevação ao folclore do país”, informa o maestro Oliveira, que também é comandante do Corpo Musical da PM.

Erudito e popular –Para entreter à população e disseminar a cultura, a banda apresentou canções populares com arranjos do tenente da reserva Alberto Dias Júnior, entre elas Exaltação à Bahia, Brasil Moreno, Aquarela Brasileira e Canta Brasil.O coral masculino atua desde o dia 8 de dezembro de 1962 – na época pertencia à extinta Guarda Civil de São Paulo. Os coralistas interpretam canções cívicas, religiosas, folclóricas e populares.Ocoral participa de inúmeros eventos de importância histórica e se apresenta, em média,25 vezes por mês. É considerado patrimônio da cultura musical brasileira.A Camerata tem sete integrantes que tocam violino (três), flauta (uma), oboé (um), baixo acústico (um), teclado (um), coma coordenação de um oficial músico. O pequeno grupo musical é adequado a ambientes fechados, como hospitais, casas de repouso, estabelecimentos de ensino e estações de Metrô.

Flautas/flautins, clarinetes, saxofones (alto e tenor), trompetes, trompas, bombardinos, trombones, tubas e percussão são instrumentos das Seções de Banda.O repertório é eclético e abrange músicas populares brasileiras e internacionais, dobrados (músicas militares) e marchas militares, hinos pátrios de quase todas as nações e pequenas peças eruditas.Os 60 músicos atuam em duas seções.Realizam apresentações e desfiles em aniversários de municípios, entidades de ensino municipal e estadual, praças públicas, estádios de futebol, retretas (concertos populares) em pontos turísticos da cidade de São Paulo, além de exibições direcionadas à cultura militar.Em média, as Seções de Banda fazem 150 exibições mensais.O Jazz Band originou-se em 1914, quando músicos da Banda Sinfônica propuseram a formação de conjunto que empregasse repertório específico de jazz. Em 1991, foi restabelecida, com repertório eclético, do erudito à MPB.

Teste de aptidão seleciona integrantes dos grupos

O primeiro passo para integrar o Corpo Musical é participar de concurso de ingresso na PM. Depois do curso de formação, os aprovados são designados para um dos setores da corporação. PMs das graduações de soldado a sargento com conhecimentos musicais (de médio a superior), que queiram entrar no Corpo Musical, devem se manifestar. Passam por teste de aptidão musical, e os aprovados se tornam os novos músicos.Duas vezes por ano, a PM divulga aos soldados a abertura de vagas, variáveis de acordo com o número de instrumentos disponíveis nas bandas.

Em geral, 10% dos novos integrantes não se adaptam às atividades do Corpo Musical e pedem mudança para outros setores. “As bandas são profissionais e o nível musical é de excelência. O Corpo Musical é o cartão de visitas da Polícia Militar”, analisa o comandante Jonas Vicente de Oliveira. Desde dezembro de 2005, os músicos deixaram de dedicar-se exclusivamente à arte. Pela chamada operação combinada de presença, dividem-se em duas equipes que se revezam durante a semana. Cada grupo atua um dia no policiamento e outro nos ensaios musicais.

Onze discos –São 40 horas semanais de trabalho, 20 delas orientadas à atuação em 20 locais predeterminados nas estações de Metrô e CPTM, terminais de ônibus urbanos e intermunicipais. Os soldados atendem a ocorrências de flagrante delito, mal súbito, auxílio ao público e apoio ao policiamento da região.“Antes, o policiamento era representativo– só atuava durante apresentações dos conjuntos”, recorda Oliveira.A história do maestro é exemplo de antiga paixão com a música da corporação, que começou há 26 anos: “Quando fiz escola de formação de soldado, em 1980, assisti a uma apresentação da Banda Sinfônica que me despertou muito interesse”. Depois disso, Oliveira conheceu a sede da instituição, ao lado do Metrô Tiradentes. No mesmo ano, aprovado no teste de aptidão,entrou no Corpo Musical.

No cargo desde o dia 15 de março, o comandante é formado em flauta transversal e tem conhecimentos sobre os demais instrumentos. Diz acreditar no poder da música de “mudar a intenção das pessoas”. Exemplo disso é o relato do tenente Antônio Ferreira Menezes, relações públicas do Corpo Musical e maestro da Seção de Bandas. Há dois anos, numa exibição na região da Luz, ele observou um senhor oriental na platéia que chorava desesperadamente. Ao final, esse homem disse: “Vocês salvaram minha vida. Descobri que não preciso morrer”. A pessoa havia desistido de cometer o suicídio.

Além dos convites freqüentes para apresentações, os músicos planejam exibições espontâneas em favelas, asilos, hospitais, casas de caridade e creches. O intuito é levar música a pessoas carentes e impossibilitadas de freqüentar espaços culturais.A Banda Sinfônica e o Coral produziram 11 discos, patrocinados pela própria Polícia, banco, prefeituras do interior, empresas públicas e institutos.Em 2004, o Corpo Musical dedicou disco aos 450 anos da cidade de São Paulo. O repertório inclui músicas populares, como Carinhoso (Pixinguinha e João de Barro), Trem das Onze (Adoniran Barbosa) e Canta Brasil (Alcir Pires Vermelho e David Nasser). Teve participações especiais de Agnaldo Rayol, Demônios da Garoa, Inezita Barroso, Mario Zan e outros.

Viviane Gomes – Da Agência Imprensa Oficial

 

(AM)