Especial D.O.: Programa desenvolvido na Poli ajuda navios a atracarem com segurança

Simulador avalia capacidade dos portos para receber grandes embarcações

seg, 29/01/2007 - 14h15 | Do Portal do Governo

Pesquisadores do Departamento de Engenharia Naval e Oceânica da Escola Politécnica (Poli) da USP desenvolveram um software que verifica, por meio de cálculos, os impactos do movimento de um navio em águas rasas e restritas. Isso possibilita saber, por exemplo, se uma grande embarcação pode ou não entrar em determinado cais, ou se um porto pode receber navios com maré subindo ou descendo.

Trata-se de um simulador que analisa três formas de movimentação realizadas pela embarcação: avanço (movimentos para frente e para trás), deriva (para os lados) e guinada (quando o navio gira em seu próprio eixo). “O programa não estuda apenas as dimensões do navio e sua capacidade de desenvolver manobras. São avaliadas inúmeras variáveis, como marés, ventos e até fatores ligados à questão econômica”, explica o professor Jessé Rebello de Souza Júnior, um dos coordenadores do estudo que levou ao software.

Recentemente, o programa passou por alterações que exigiram dois meses de trabalho. “Em essência, o simulador é um conjunto de modelos matemáticos (equações) que representam os fenômenos físicos de forma adequada à sua reprodução em um computador. No caso de a superfície ser o fundo do canal ou bacia de evolução, esse fenômeno é chamado ‘efeito de águas rasas’. Quando se tratar de superfície lateral, como a margem ou uma outra embarcação, denominamos ‘efeito de águas restritas’. A mais recente evolução do simulador foi a incorporação desses efeitos, ou seja, de novas equações matemáticas representando esses fenômenos”, ressalta o professor Jessé.Consultoria – “Avaliamos todos os componentes de determinada situação e utilizamos o programa para obter respostas para as dúvidas recorrentes”, conta o professor. O programa só pode ser utilizado no ambiente real dos navios, diferentemente dos simuladores utilizados para treinamento e aprendizado de comandantes de embarcações. “Não temos interesse em comercializar o simulador. Queremos que seja utilizado pelos pesquisadores da USP, numa espécie de consultoria e/ou prestação de serviços”, afirma.

O pesquisador diz que um estudo desenvolvido para o terminal portuário de Alemoa (Santos), em 1989, foi o embrião do atual programa. “Tudo começou quando fiz um levantamento sobre a situação de Alemoa”, lembra. Para evitar acidentes no local, só era permitida a atracação das embarcações quando a maré estivesse em seu nível máximo. A partir de cálculos sobre a correnteza de maré, o professor verificou que o terminal tinha capacidade para receber 30% a mais de embarcações em seu cais. “O relatório final do projeto, que também resultou na minha dissertação de mestrado na Poli, foi utilizado pela Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) para negociar o aumento dos horários permitidos de manobra”, ressalta.

O professor cita outra ocorrência em que o software foi utilizado e solucionou um problema de alta complexidade. Em 2004, a Poli foi procurada pela Companhia Vale do Rio Doce para que os pesquisadores estudassem a possibilidade de utilizar, no Porto de Vitória (ES), cargueiros maiores, em lugar dos habituais navios que atracavam no local. Por meio de cálculos desenvolvidos pelo programa e com o estudo detalhado das variantes, a equipe da Poli concluiu que seria possível que grandes cargueiros entrassem no porto.

“Os técnicos da empresa queriam saber se era possível atracar uma embarcação de 250 metros de comprimento. A princípio, achava-se que o navio passaria muito perto do fundo do canal, o que poderia inviabilizar as manobras, mas as modelagens do simulador comprovaram a viabilidade técnica do procedimento”, descreve Jessé.Procedimentos – O programa cruza informações coletadas em situações reais de atracação, tais como dimensões, forma e peso do casco do navio, posição de acionamento do leme, direção e velocidade do vento e da correnteza, potência dos motores e distâncias das margens e do fundo do canal. “A partir dessas variáveis, o software utiliza modelos matemáticos para fazer cálculos exatos da reprodução da trajetória do navio na prática. O resultado é a apresentação de recomendações técnicas dos procedimentos a serem seguidos para que a embarcação entre com segurança no porto.

“O trabalho com navios é um processo delicado e envolve altos custos. É nesse ponto que o software atua, na prevenção de danos e definição de um planejamento antecipado. O programa só pode ser utilizado com base em uma metodologia de estudo, definida caso a caso”, afirma o professor. “Acredito que, com as características do atual projeto, não há programas similares no Brasil”, orgulha-se.

O Simulador de Manobras de Navios em Águas Rasas e Restritas foi apresentado à comunidade acadêmica e empresarial no 21o Congresso Nacional de Transportes Marítimos, Construção Naval e Offshore, realizado no fim do ano passado, no Rio de Janeiro.

Da Agência Imprensa Oficial