Especial D.O.: Pesquisa inédita vai avaliar a ocorrência de doenças mentais na população de rua

Universo da investigação, coordenada pelo Instituto de Psiquiatria do HC, será a cidade de São Paulo

qua, 13/09/2006 - 12h10 | Do Portal do Governo

Pela primeira vez no Brasil será feita pesquisa com moradores de rua para avaliação da existência de doenças mentais nessa população. Convênio entre o Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e a prefeitura de São Paulo (secretarias municipais de Assistência e Desenvolvimento Social e de Saúde) possibilitou ao psiquiatra Wang Yan Pang colocar em prática o seu Projeto Moradores de Rua, que prevê mapeamento abrangente da saúde mental dessas pessoas. O intuito é traçar um diagnóstico do problema, principalmente entre a população acima de 18 anos, para a elaboração de estratégias de prevenção e intervenção.

Segundo dados de 2005, há cerca de 12 mil pessoas em situação de rua na cidade de São Paulo, entre as quais 8 mil albergados. O trabalho que será realizado é inédito, porque abrange as pessoas que estão sem assistência. De acordo com o psiquiatra, foram feitas pesquisas desse tipo em Juiz de Fora e no Rio de Janeiro, mas apenas com albergados. O projeto, que recebeu aprovação e financiamento parcial da Organização Pan-Americana de Saúde, está programado para ser concluído entre janeiro e fevereiro de 2007.

Alcoolismo e drogas

O trabalho de campo será realizado por duas equipes: Uma se encarregará de entrevistar as pessoas que dormem na rua e a outra, as que utilizam os albergues.Por isso, ocorrerá sempre à noite. No caso da rua, a entrevistas serão feitas no centro expandido, dividido por quarteirões. Isso porque, segundo Pang, foi constatado que é o local escolhido pela maioria para passar a noite, em virtude da grande concentração de equipamentos de serviços sociais na região.

As entrevistas seguirão um roteiro de perguntas comparável internacionalmente, o Cidi, questionário estruturado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que, uma vez aplicado por um entrevistador treinado, fornece diagnóstico segundo os critérios da Classificação Internacional de Doenças (CID), referente à saúde mental. Serão feitas por universitários.

O trabalhou ouvirá 500 pessoas, 160 nas ruas e 340 nos albergues, a mesma proporção da ocorrência, já que, do total dessa população, 2/3 utilizam os albergues. A amostragem é de quase 5% do número contabilizado de moradores de rua.

De acordo com Pang, serão necessários mais dois meses, após essa etapa, para a análise da pesquisa. Ele ressalta que as principais preocupações da avaliação são determinar as causas mais comuns que levam uma pessoa a se tornar moradora de rua, se há grande ocorrência de histórico de violência e vitimização na infância entre os que apresentam distúrbios, a freqüência de suicídio, as características relacionadas ao consumo de álcool (que tipo de bebida é mais utilizado, com que freqüência e como é obtida) e a classificação dessa população por padrões ou tipos de pessoas.

“A partir disso poderemos elaborar estratégias de saúde pública para a prevenção dessa situação e a intervenção junto à população existente nas ruas, ou seja, tentar impedir que as pessoas cheguem a esse estágio e promover ressocialização e tratamento para as que estão nele”, explica o médico.

Na população da cidade de São Paulo, de acordo com estimativas da prefeitura, de 60% a 80% das pessoas apresentam algum tipo de transtorno psiquiátrico, sendo que o alcoolismo e o uso de drogas respondem por mais de 50% dos casos, seguido das psicoses (10% nos homens e 20% nas mulheres) e depressão (18%).

Simone de Marco – Da Agência Imprensa Oficial

 

(AM)