Especial D.O.: Música instrumental une crianças e idosos no Projeto Viver e Conviver

Pessoas da melhor idade ensinam alunos do ensino fundamental a tocar violão na EE Reverendo Tércio Moraes Pereira, na zona leste

ter, 30/05/2006 - 12h55 | Do Portal do Governo

“É na sola da bota, É na palma da mão, É na sola da bota, É na palma da mão, Bote um sorriso na cara, E mande embora a solidão”. Na Sola da Bota, de Rio Negro e Solimões, é uma das canções que pessoas de diferentes gerações aprendem a tocar no violão na Escola Estadual Reverendo Tércio Moraes Pereira, na Vila Rosália, em São Miguel Paulista, na zona leste. Iniciadas no mês passado, as aulas ocorrem todas as quartas-feiras, das 16 horas às 17h30. Idosos e crianças se integram e dividem carinho, respeito e atenção.

“É gostoso ver o amor e a candura no olhar que os alunos do ensino fundamental transmitem às pessoas da terceira idade”, comemora a professora Ivani Ferreira Lopes, coordenadora do Projeto Viver e Conviver. Os mais velhos, participantes da oficina, vêm da comunidade e do Centro de Referência do Idoso (CRI), de São Miguel Paulista.

A experiência de dona Luci Helena de Freitas, 47 anos, ilustra bem a energia positiva que o curso de violão proporciona às pessoas. Trabalha na Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor (Febem) há 19 anos. Desde 2004 está afastada da instituição por problemas de saúde. Por meio da  filha Victoria, 10 anos, e da neta Brenda, de 8, que estudam na EE Reverendo Tércio, dona Luci ficou sabendo das aulas. “Faço tratamento psiquiátrico e minha médica disse que é bom praticar uma atividade, como essa, para reduzir minhas crises de depressão”, informa.

Faltam violões 

A avó Luci conta que em casa, quando a doença se manifesta, lembra-se das notas musicais aprendidas com o arte-terapeuta Paulo Guedes, professor voluntário no treinamento. Logo, pega o violão para se exercitar e distrair: “Ainda tenho dificuldades, mas estou me esforçando para superá-las. Os violeiros do CRI pedem que eu tenha calma. Se pudesse, gostaria de participar também das atividades de lazer do centro, mas não tenho idade (permitidas só para maiores de 60 anos)”. Apesar dos resultados positivos, o projeto enfrenta algumas dificuldades. “Muitos alunos não têm violão. As famílias são carentes e não podem comprá-lo, mas querem participar”, relata a professora Ivani.

A coordenadora conta que um laboratório dentário e uma gráfica do bairro se dispuseram a ajudar, mas até agora não houve resultados. A escola precisa da doação de dez violões para integrar os escolares que desejam aprender a tmanejar o instrumento. Outro problema é o transporte dos idosos do CRI à escola, que precisa recorrer à colaboração voluntária dos motoristas das vans escolares. As aulas são abertas às crianças e aos idosos da comunidade. Para participar, o único critério é ter um violão.

Presente de aniversário 

“Estou adorando trabalhar com os idosos porque são legais. Ele (Sebastião Pereira de Souza, 72 anos) está me ensinando a tocar Chalana (de Mário Zan), diz a garotinha Brenda de Freitas da Silva, 8 anos. “Gosto de estar no meio das crianças. Apesar de ter essa idade, considero-me muito criança”, avalia o senhor Sebastião. Dona Rosa Vieira Martins de Azevedo, 64, instrui Rayane Bellini Lorente, 10, com os primeiros movimentos dos dedos nas cordas do violão. Depois, deixa a menina descansar e passa exercícios de alongamento para mãos e dedos.

Desde pequena, Rayane queria aprender a tocar. Dia 6 de março, seu aniversário, foi presenteada com um violão. “Estou indo devagarzinho porque às vezes enrosco em algumas notas”, observa a garota. “Tô gostando da Rayane. Ela presta atenção. Estamos na dupla desde a primeira aula”, afirma dona Rosa.

Busca pela diversidade 

Pedro de Paulo Israel, 64 anos, instrui o garoto Victor Hugo Rosendo, 9, e opina a importância da atividade: “Maravilhosa. Ajuda a abrir a mente das crianças. Passo minhas experiências para elas e me mantenho útil na escola”. O professor de violão Paulo Guedes conta que as aulas são práticas: “Trago acordes, dou dicas de como utilizar as mãos e treino o ouvido alunos”. Guedes e sua equipe auxiliam a garotada e dão aulas de violão popular. Na busca pela diversidade, mescla músicas dos tempos antigos, como Na Sola da Bota, Mulher Chorona e Chalana. Para os mais jovens, seleciona canções do Skank e de Ivete Sangalo.

“Com esse projeto, estamos construindo para nossos netos o mundo que um dia talvez tenhamos desejado para nós”, afirma o arte-terapeuta. As duas gerações convivem com as diferenças. Guedes conta que alguns dos jovens senhores, maioria acima de 60 anos, apresenta dificuldades motoras – articulações e cognitivas. Outros sofreram derrame e têm deficiência cognitiva e raciocínio mais lento. “Já para a garotada, entre 8 e 12 anos, a assimilação é mais fácil. Um ajuda o outro. Com a atividade, buscamos essa interação”, afirma.

SERVIÇO

Quem quiser doar violões deve procurar a EE Reverendo Tércio Moraes Pereira

Rua Pedro Soares de Andrade, 775 – São Miguel Paulista

Telefone (11) 6297-8467

Viviane Gomes

Da Agência Imprensa Oficial