Escolas com média acima de 6 mostram receita de sucesso

Papa Paulo VI, Coronel Pontes Gestal e Eugênio Franco receberam notas 6,21, 6,89 e 6,93

qua, 11/06/2008 - 8h59 | Do Portal do Governo

Muita leitura com boa oferta de oficinas e de atividades diferenciadas, generosa quantidade de envolvimento e comprometimento da equipe de ensino com os alunos e, por fim, professores antigos e efetivos. Foi essa receita que levou três colégios a conquistar as maiores notas de toda a rede estadual de ensino de São Paulo, contam, sem mistério, as diretoras. “Não existe caldeirão mágico”, afirma Mirtes de Fátima Machado, diretora da Escola Estadual Papa Paulo VI. Há, sim, uma série de ações feitas ao longo de muitos anos de trabalho árduo e de exercício contínuo da criatividade, justifica.

A Papa Paulo VI, localizada na periferia de Santo André, é a escola que tem o melhor ensino médio do Estado, de acordo com o Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado (Idesp). Mesmo com 60% do prédio interditado para reforma por causa de infiltrações, com salas superlotadas (52 alunos) e convivendo com outras dificuldades, obteve índice 6,21. A meta estipulada pela Secretaria da Educação é que todas cheguem em 5, até 2030. Apenas outra escola de ensino médio conseguiu atingir a meta. A Papa Paulo VI também recebeu a maior nota no Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp).

Uma das cinco escolas de 5ª a 8ª série que alcançaram a meta 6, a Coronel Pontes Gestal, tirou nota 6,89. Situada no município de Pontes Gestal, noroeste do Estado (cidade com 2,5 mil habitantes), adotou o ensino em período integral. Das 7 às 16h10, os 300 alunos aprendem as disciplinas tradicionais e as complementares, como aula de espanhol, filosofia e informática e realizam atividades artísticas, esportivas e motoras (além de educação artística e educação física). Ainda recebem orientação de saúde e qualidade de vida.

Livros nas mãos – A leitura de textos pelos professores é a primeira atividade em sala de aula de todos os 837 estudantes da Escola Eugênio Franco, em São Carlos. Instalada em prédio centenário e tombado, obteve a maior nota (6,93) do Estado. Mas não alcançou a meta: para os estudantes de 1ª a 4ª série do ensino fundamental, a nota é 7. A diretora, Marta Foschini de Lima, diz que a marca da escola é o ensino tradicional mesclado às novidades. “Não abandonamos o que dá certo e incorporamos os métodos ditos mais modernos”, garante.

Conta que os alunos fazem fila, cantam o Hino Nacional e têm dever de casa todos os dias, exceto às sextas-feiras, quando levam um livro para ler. Além do acervo da biblioteca, os estudantes de São Carlos trazem de 20 a 30 obras no começo do ano para circular na sala. É esse o método que permite a grande variedade e quantidade de leitura, relata Marta. Em Pontes Gestal, os jovens tomam gosto pelos livros na Hora da Leitura, momento em que os professores lêem para os alunos, contam histórias e discutem a respeito do assunto tratado. É uma atividade corriqueira, que faz parte da grade complementar, salienta a diretora Antônia Maria Vicente Melero.

No colégio de Santo André, a atividade é incentivada pela liberdade de os alunos escolherem no Cantinho da Leitura o que querem ler e levar para casa sem prazo de entrega e nem assinar documentos. “Não controlamos porque o importante é que eles leiam. Mesmo assim, as perdas e os descuidos foram poucos nesses cinco anos que estou aqui. Nosso olhar é para o que ganhamos”, destaca Mirtes. Ela lembra que a primeira vez que viu alunos com copos de café-com-leite numa mão e o livro na outra ficou preocupada. Mas, ao observar a “postura de leitores”, decidiu não intervir.

Acompanhamento – Por conta da reforma, os estudantes têm acesso somente a 300 volumes, pois a biblioteca (com 4 mil exemplares) está fechada. Nem mesmo a prateleira perto da diretoria em conseqüência de infiltração nos corredores intimida os alunos. “Aqui há aproximação com o estudante desde o primeiro contato. Eles ficam tão à-vontade com a direção da escola que quase todos os dias chegam listas de pedidos. É o preço da liberdade, ainda que vigiada, que damos aos nossos educandos”.

Nas três escolas, os professores conhecem os alunos e os acompanham por muitos anos. Na Paulo VI, o reconhecimento ocorre pela aproximação contínua em todos os ambientes da unidade escolar. Por onde a diretora caminha, troca uma palavra com os estudantes e todos a conhecem e cumprimentam com respeito. Na Eugênio Franco, muitos pais são ex-alunos. Mantêm contato com a instituição e são participativos nas reuniões, no conteúdo pedagógico e no aprendizado dos filhos.

Em Pontes Gestal, todos se conhecem porque a cidade é pequena e grande parte dos pais estudou lá. Mais da metade deles se dedica à agropecuária. Com a chegada de duas usinas de açúcar e álcool na região, muitos estão migrando para o novo ramo de atividade. A familiaridade e a proximidade ajudam a intervir rapidamente nos momentos em que o aluno encontra dificuldade em acompanhar o ensino, quando falta ou se tem algum problema pessoal, explicam as diretoras.

Reforços, provas – Telefonemas para os responsáveis e bilhetes entregues aos colegas de classe são os meios mais usados para resolver as questões. “Se não conseguimos solucionar o problema por esse caminho, buscamos auxílio no Conselho Tutelar”, diz Mirtes. Esse fator é responsável, também, segundo as diretoras, pela baixa evasão escolar e pelos poucos estudantes com defasagem entre idade e série. Além dessas dificuldades, Mirtes conta que faz o possível para convencer os pais a deixá-los concluir o ensino médio e orienta a encaminhá-los para a faculdade.

Muitas famílias precisam da ajuda financeira dos filhos, principalmente as que moram em favelas e as que dependem da coleta seletiva de lixo, já que há uma cooperativa de catadores na região, relata a diretora. “É a realidade dessas pessoas. Fazemos o possível para conciliar o estudo com o trabalho, quando não há outro jeito. Temos convênio com o Centro de Integração Empresa-Escola (Ciee)”. Outro diferencial é que a escola discute em aula, de forma interdisciplinar, os problemas educacionais ou pessoais, tão logo sejam notados. A diretora recorda que havia problema sério de álcool, em 2000, agora já sanado. “Tínhamos alunos chegando bêbados logo pela manhã”.

As três escolas adotam a prática de aulas de reforço e atividades complementares direcionadas aos estudantes com dificuldades em alguma disciplina. “Xadrez, dama, dominó e banco imobiliário são jogos utilizados no aprimoramento do raciocínio”, enumera Mirtes. Visitas ao cinema, teatro, exposições, excursões e museus costumam ocorrer no ano letivo. Seis violões, flautas e gaitas estão à disposição de todos na hora do recreio “para que conheçam outras realidades”.

Outra prática comum entre as três unidades de ensino é a adoção de provas regulares. “Aplicamos avaliações e concursos estudantis desde 2004 para que se familiarizem com a estrutura das perguntas e aprendem a fazer testes de avaliação pedagógica”, informa Mirtes. “Nossas provas (com seis tipos de textos) são bem-feitas e longas. Durante quatro horas os alunos respondem às questões. Então, não há quase nada no Saresp que não tenha sido ensinado na sala de aula”, observa Marta. Nas instituições mais bem avaliadas pelo Idesp, os professores recebem motivação, orientação e treinamento e pouco faltam às aulas.

Alunos da escola Papa Paulo VI

Ananda Buta, 17 anos, diz que a conquista do Saresp e do Idesp “mostra que a gente é capaz”. Conta que os professores “pegam no pé” e ensinam quantas vezes forem necessárias. Eles esclarecem dúvidas e explicam as lições. No recreio, a jovem costuma ler no Cantinho da Leitura. Confessa que gostava muito das aulas de handeball, mas agora a quadra coberta está interditada. Cobra a troca de mobiliário (bem antigo), melhora na estrutura, conclusão da reforma para voltar a praticar esporte, reativação da sala de computador, da biblioteca e das demais dependências. Em casa, recebe incentivo dos pais e dos irmãos, principalmente do caçula. Quer ser administradora de empresa.

Renan Gustavo de Oliveira, 17 anos, afirma que o mais importante é que a visibilidade conquistada pela escola permitirá melhorar cada vez mais e deverá acelerar a reforma da sua estrutura. “Teremos mais recursos e material para reformar carteiras, quadras e pintar a escola. Nossos problemas também ficaram mais visíveis”. Os responsáveis pelo mérito são os bons professores, alunos e o trabalho em conjunto. “Se o aluno não quer nada com nada, não adianta. Se o professor não ensina, também não adianta”. Renan lê o guia do estudante e estuda interpretação de textos para o vestibular. Sonha cursar Engenharia na Universidade Federal do ABC. Tanto o pai como a mãe e a irmã mais velha, aluna de Engenharia, incentivam o adolescente a estudar cada vez mais. Gustavo também freqüenta o curso de eletricista de manutenção no Senai. Assim que terminar o colégio e o curso, assegura que vai trabalhar para ajudar no orçamento familiar.

O que é o Idesp

O Idesp é formado a partir do desempenho dos alunos no Saresp e do fluxo escolar, tempo que eles passam para concluir cada ciclo de ensino (defasagem entre idade e ensino) e porcentual de evasão. A escala vai de 0 a 10. Até 2030, o Estado espera que as escolas atinjam as seguintes metas ideais: notas 7 (para 1ª a 4ª  séries); 6 (de 5ª a 8ª séries); e 5 (ensino médio). Esses números decrescentes ao longo do período escolar acompanham padrões de países desenvolvidos. Apenas sete escolas estaduais alcançaram as metais ideais. Cinco do ensino fundamental (5ª a 8ª séries) e duas do ensino médio. Nas séries iniciais, nenhuma conseguiu nota suficiente.

Resultados do Idesp

Escolas de 1ª a 4ª séries – meta ideal: 7

Melhor nota: 6,93 – Escola Eugênio Franco, de São Carlos

Pior nota: 0,44 – Escola Professor Sérgio da Costa, de São Paulo

Média: 3,23Escolas de 5ª a 8ª séries – meta ideal: 6

Melhor nota: 6,89 – Escola Coronel Pontes Gestal, de Pontes Gestal

Pior nota: 0,26 – Escola Conde do Pinhal, de São Carlos

Média: 2,54Escolas de ensino médio – meta ideal: 5

Melhor nota: 6,21 – Escola Papa Paulo VI, de Santo André

Pior nota: 0,16 – Escola Paulo Virgínio, de Cachoeira Paulista

Média: 1,41

Entenda o Saresp

Realizado pela Secretaria da Educação, o Saresp avalia o ensino das 5.207 escolas da rede estadual. Em 2007, foram avaliados os estudantes das 1ª, 2ª, 4ª, 6ª e 8ª séries do ensino fundamental e da 3ª série do ensino médio. Os jovens fazem provas de língua portuguesa e de redação e de matemática. Ao todo, 1,8 milhão de alunos participaram do exame. Classifica o desempenho em quatro níveis (abaixo do básico, básico, adequado e avançado), com pontuações que variam de 150 a 400.

Da Agência Imprensa Oficial

(M.C.)