Esalq: estudo analisa técnicas para aumentar produtividade dos agricultores

Trabalho de doutoranda da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz aborda o melhoramento genético na produção

sex, 27/07/2018 - 14h54 | Do Portal do Governo

Uma pesquisa em desenvolvimento no programa de Genética e Melhoramento de Plantas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP), pode ampliar a produtividade no campo, por meio das técnicas de análise genômica e bioinformática. O estudo tem a capacidade de fornecer dados precisos que possam auxiliar as decisões dos agricultores.

O trabalho é conduzido pela melhorista e geneticista Júlia Silva Morosini, doutoranda no programa da USP, que desenvolve ferramentas ligadas à predição genômica para fazer o melhoramento genético de milho. No segundo semestre, deve ser realizada uma série de análises com foco em tornar o uso de nitrogênio mais eficiente.

“Na minha pesquisa, temos informações dos marcadores para estimar quanto uma planta ou população produzirá ou qual será o desempenho de uma dada característica, com base em dados moleculares, antes mesmo da planta ir para o campo”, explica a geneticista. “Nosso objetivo é selecionar uma planta que seja capaz de demandar a metade do nitrogênio para ter o mesmo rendimento”, completa.

Produção

Vale destacar que, há alguns anos, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) lançou um alerta de que seria necessário duplicar a produção agrícola alimentar para uma população mundial estimada em 9 bilhões de pessoas em 2050. Desde então, uma geração de jovens pesquisadores vem se capacitando para produzir mais ocupando menor área, em tempo mais curto e de forma sustentável.

Júlia Silva Morosini é orientada pelo professor Roberto Fritsche Neto, do Departamento de Genética da Esalq. O docente coordena o Laboratório de Melhoramento de Plantas Alógamas, cujas pesquisas apresentam dois objetivos: compreender a genética de plantas e desenvolver um banco de material genético de milho tropical mais eficiente no uso de nitrogênio.

“Buscamos desenvolver modelos e métodos de predição genética, que auxiliarão no desenvolvimento de cultivares mais adaptados aos ambientes atuais e futuros. Consequentemente, aumentarão seguridade alimentar e reduzirão custos de produção”, ressalta Roberto Fritsche Neto.

Eficiência

Durante o mestrado em Engenharia de Sistemas Agrícolas na Esalq, o engenheiro agrônomo Rodrigo Gonçalves Trevisan analisou a eficiência de nitrogênio no cultivo do algodão. Agora, no doutorado na University of Illinois Urbana-Champaign, nos Estados Unidos, o cientista se aproxima das técnicas de seleção genômica, buscando aprimorar o conhecimento sobre doses, momentos e ferramentas adequadas para aplicar o nitrogênio à planta. Tudo isso com ajuda da bioinformática.

O engenheiro trabalha com experimentos instalados direto nas fazendas e utiliza sensores acoplados em drones que simulam a demanda de um insumo em cada planta. “Após a colheita, tenho a resposta com relação à dose aplicada, ao rendimento da planta, com informações que podem ser cruzadas de acordo com fatores diversos como clima, por exemplo”, explica Rodrigo Gonçalves Trevisan.

É importante frisar que, para trabalhar com informações na escala da planta, é essencial possuir equipamentos e contar com a ajuda da bioinformática. A produção científica registra ganhos sensíveis com o investimento em tecnologia. “Como um experimento ocupa uma grande área, o trabalho que antes era realizado por oito pesquisadores aqui do laboratório, durante uma semana, hoje resolvemos com o drone em apenas uma tarde. E o resultado obtido não é subjetivo, pelo contrário”, revela a geneticista Júlia Silva Morosini.

Culturas

Segundo Rodrigo Gonçalves Trevisan, tecnologias de melhoramento genético como a fenotipagem de alto rendimento já são o presente em pesquisas envolvendo culturas de alto valor agregado, como os citros, café e milho. O engenheiro entende que há oportunidades para o desenvolvimento de novas ferramentas que atendam a demanda de individualização por planta.

Entretanto, a transferência de tecnologia ao campo ainda é um obstáculo a ser vencido. Rodrigo Gonçalves Trevisan é sócio-proprietário da startup Smartagri, que emprega técnicas de inteligência artificial para tomada de decisões. Ele afirma que a automatização diminuiu os custos com repetições de análise em até 100 vezes.

“Temos um projeto de controle de plantas daninhas. Sensores instalados a cada metro de barra do pulverizador detectam a presença das daninhas a cada 20 centímetros e tomam a decisão de aplicar ou não insumos. Isso tem proporcionado economia de até 95%, já que, se não temos plantas daninhas em toda a extensão, não temos porque desperdiçar fertilizantes”, avalia.