Equipamentos utilizados na medicina podem ser mais sustentáveis

Físico do Ipen estuda como construir equipamentos eletrônicos sem prejudicar o meio ambiente ou diminuir danos

qui, 22/04/2010 - 10h00 | Do Portal do Governo

O Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) está pesquisando formas de tornar os equipamentos eletromédicos mais sustentáveis. Equipamentos eletromédicos são dispositivos eletroeletrônicos utilizados pelos médicos para colaborar no diagnóstico, tratamento ou monitoramento de seus pacientes.

O estudo é desenvolvido pelo físico Leandro Pidone, em sua dissertação de mestrado no Ipen. O objetivo é propor um modelo para adequar os equipamentos eletromédicos nacionais às diretivas européias: RoHS e WEEE . “São duas regulamentações europeias sobre como se deve construir equipamentos eletrônicos sem prejudicar o meio ambiente ou diminuindo os danos”, explica o físico.

A RoHS, que vem da sigla em inglês para Restrição de Certas Substâncias Perigosas, é um conjunto de orientações para restringir o uso de substâncias com potencial de risco ambiental. Já a WEEE, sigla em inglês para Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos, descreve como esses materiais devem ser descartados.

Segundo Sônia Mello Castanho, pesquisadora do Ipen e orientadora de Pidone, as diretivas já são usadas na Europa para equipamentos eletrônicos, principalmente eletrodomésticos, mas os equipamentos médicos ainda não foram considerados.

O trabalho de Pidone segue todas as orientações das diretivas. “O objetivo é pegar um equipamento que é vendido no mercado, examiná-lo, ver o que ele tem de prejudicial ao meio ambiente e propor uma solução economicamente viável para substituição”, descreve o físico.

Pidone exemplifica com os materiais que possuem sistema de soldagem de liga de chumbo e estanho. A liga possui um metal prejudicial ao meio ambiente, que é o chumbo. Segundo o pesquisador, essa liga poderia ser substituída por uma de prata, que, se descartada, não causaria os mesmos danos que o chumbo e é mais fácil de se reaproveitar. Apesar de a prata ser mais cara, o físico lembra que “atualmente já é viável no mercado, mas ainda não a utilizam nos equipamentos médicos”.

Sônia lembra ainda que esses equipamentos possuem componentes como ímãs, eletroímãs, eletrodos que podem possuir metais pesados em suas constituições. As ações da medicina estão cada vez mais baseadas no uso da eletrônica e este fato já justifica um grande volume de equipamentos eletromédicos descartados e, pior, sem controle. O que é preocupante, em termos ambientais.”

Análise dos equipamentos

No momento, Pidone está catalogando os componentes dos equipamentos, verificando como eles são montados e se seus constituintes são prejudiciais ao meio ambiente. Depois, o físico estuda quais materiais podem substituí-los.

Uma forma de seleção desses materiais é feita pela separação de metais que podem ser descartados. Ele cita o exemplo do estimulador neuromuscular, um aparelho que produz uma corrente elétrica e é utilizado para terapias e alívio de dor. Ele atua por um fluxo de corrente elétrica, gerando contrações musculares.

“Para ligar o equipamento no braço de um paciente, há um cabeamento, muitas vezes constituído de uma liga de cobre, que deve ter alta condutividade. Por isso, o cobre não é o mesmo que se compra na rua, é um cobre diferenciado”, comenta o físico, que complementa dizendo que esse cobre pode ser reaproveitado, da mesma forma como reaproveitam cabos que são feitos a base de ouro.

Segundo Pidone, o reaproveitamento não é feito como produto reciclável, mas os componentes dos equipamentos podem ser desmontados e reutilizados, tanto integralmente, como os modificando para se tornar um produto novo. Contudo, o físico ressalva que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proíbe equipamentos médicos remanufaturados. Desse modo, um equipamento não pode ser reconstruído a partir do reuso dos componentes, como acontece com a latinha de alumínio.

Do Ipen