Entrevista do governador Mário Covas após inauguração do Banco do Povo em São Bernardo do Campo

Parte I

sex, 19/05/2000 - 16h26 | Do Portal do Governo


PARTE I

Repórter – Governador, o que aconteceu quando o senhor chegou aqui?

Covas – Nada de extraordinário, nenhuma novidade. Na realidade algumas pessoas que estavam aqui se aproximaram gritando, xingando etc., aí eu fui ao encontro delas. Um me deu uma cacetada na cabeça, mas foi um fato menor. Tenho a impressão que ele deve estar em Carapicuíba agora, de tanto que ele correu depois disso.

Repórter – Foi uma afronta, governador?

Covas – Naturalmente a coisa foi feita com intuito de provocar mesmo, ele queria uma reação da polícia. Só que quando eu estou não deixo ninguém entrar na frente, não adianta, não deixo. Não quero polícia me cercando, não quero polícia me defendendo, não quero coisa alguma. O que eu tiver de falar, falo diretamente, e o que eu tiver de ouvir, ouço diretamente, não tem problema algum. Fora isso não aconteceu mais nada.

Repórter – Agora, disseram que o senhor teria empurrado um vereador do PT também, governador. Isso aconteceu?

Covas – Não sei, mas se eu não empurrei seria bom ter empurrado. Não me lembro de ter empurrado alguém, mas era bom ter empurrado. Não vem com essa história, não. O único agredido fui eu, até porque eles vão pagar o preço disso. Terão de me agredir todas as vezes, porque o que eles querem é o inverso: dizer que a polícia que agride.

Repórter – O senhor vai continuar enfrentando os manifestantes?

Covas – Os manifestantes são educados, os professores são educados. O direito deles de reivindicar é legítimo, não dá para fechar a cidade, isso não pode. Mas garanto que não foi por conta deles… quem me fez isso. Agora, tem meia dúzia de pessoas aí que vêm gritar, vêm mentir, vêm agredir.

Repórter – Mas o senhor vai continuar se expondo a esse tumulto?

Covas – Vou me expor quando tiver de me expor. O dia que eu não puder sair mais da minha casa vou-me embora, não serei mais governador. Onde já se viu um governador que não pode mais sair nas ruas? Se eu tiver que sair às ruas, saio mesmo.

Repórter – O senhor disse que os manifestantes não são os professores. Quem são eles na sua opinião?

Covas – Eles são gente do PSTU, gente da “falange” não sei o quê. São pessoas que não têm outra coisa para fazer. São pessoas que intervêm na coisa, aí prejudicam a negociação, prejudicam tudo. Porque o objetivo deles não é esse. Olha, logo no começo do meu Governo, a única greve que eu tive do magistério – a única em cinco anos – foi três meses após eu assumir. É um caso inédito em São Paulo, nunca aconteceu de, em cinco anos, não ter greve do magistério estadual. Mas nessa única greve, logo que eu assumi, fui em Carapicuíba, me lembro até que eu estava com o Pelé (ele era ministro dos Esportes e iria entregar uma obra lá). Eu soube que tinha havido uma reunião dos professores lá na porta da Assembléia e alguns destemperados disseram: “não, vamos lá em Carapicuíba e vamos agredir”. O senhor […] não concordou e não foi para Carapicuíba. Eu pedi ao secretário da Segurança que não mandasse nenhum policial para lá, nenhum. Porque se tivesse agressão iria ser contra mim e até foi muito engraçado, porque foi a primeira vez que eu levei um ovo no peito. Não sei se vocês lembram do prefeito de lá. Ele era craque, porque cada ovo que vinha ele desviava. Ele evitou pelo menos uns vinte, agora um pegou. E o Pelé ainda dizia assim para mim: “eu já matei muita bola no peito, agora, ovo no peito é a primeira vez que eu mato”. Olha, quem estava lá não tinha nada a ver com o magistério. Pode até ser que um ou outro seja professor, mas não tem nada a ver com o magistério. São profissionais de fazer essa coisa. Eles não têm nada a ver com a Educação.

Repórter – Eles são malufistas, governador?

Covas – São uns fascistas que nem o Maluf, não sei se são malufistas. Pode até, eventualmente, não comparecer nas eleições por esquecimento. Mas, se forem votar, acabam votando no Maluf, a identidade é total. São fascistas. Esse pessoal imagina que democracia é fazer o que quer. É você não ter o mínimo respeito pelos direitos dos outros. Democracia é exatamente a polícia que existe para garantir a lei e a ordem, e fazer que o direito de todo mundo seja respeitado e não só de alguns. Eu ainda ontem falei por telefone a um manifestante: “vocês querem o Parque Villa Lobos para manifestar? Cabe 100 mil pessoas lá? Vocês podem me xingar a vontade lá. A polícia garante isso”.

Repórter – Com quem o senhor falou?

Covas – Com um cara que me telefonou ontem.