Entrevista do governador Mário Covas após abertura da 16ª Convenção da APAS

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seg, 15/05/2000 - 14h45 | Do Portal do Governo

PRÓXIMAS ELEIÇÕES

Repórter – Eu gostaria de perguntar isto neste momento, porque o senhor acabou de se reeleger. (inaudível) está dizendo que suas pretensões políticas vão muito além do que o senado nas próximas eleições.

Covas – Nas próximas eleições? Bom, vão muito além. Vão para casa. (risos) Bom, vocês vão me perguntar isto a vida inteira e depois vão escrever: “ele também falou antes que não era candidato”. Mas para que essa pergunta?

Repórter – Perguntar a gente tem que perguntar.

Covas – Mas eu já respondi isto tantas vezes. Eu não sou candidato a nada e não vou ser mesmo. No dia 1º de janeiro de 2003, eu vou para casa. Não é porque eu esteja aborrecido, não. O que eu fiz na minha vida política eu faria novamente tudo igual. Mas, eu acho que já fiz o que podia fazer. Eu já fiz a minha parte. Agora, é gente mais nova. O menino ali do Estadão, por exemplo.

ABASTECIMENTO DE ÁGUA

Repórter – Eu moro em Pirituba há vinte anos, e a respeito da pergunta dele, eu não tenho percebido falta d’água. Eu estou satisfeito onde eu estou morando, tranqüilo…

Covas – Mas não chega? Por que onde você está tendo um grande problema é no reservatório do Guarapiranga. Vai pegar mais a Zona Sul da cidade. Eu até preferia que não fosse assim. Eu vou perguntar ao secretário sobre isso hoje porque eu acho que o melhor possível é tentar distribuir ao máximo o ônus. Não é justo você fazer que apenas uma parte da cidade sofra com isso.

REFORMA TRIBUTÁRIA

Repórter – Governador, o senhor tem uma reforma bem marcante sobre a reforma tributária.

Covas – Mas também não é a primeira vez que eu digo. (…) O que estou falando, aliás, não é novidade. Eu estava numa discussão com os governadores lá em Alagoas, porque o único que era a favor da reforma tributária era eu. E São Paulo perde R$ 1,8 bilhão. E o único que defendia era eu. Naquele mesmo dia, o ministro e o Everardo (Maciel) estavam juntos e baixaram um documento – primeiro o Everardo, depois o ministro – contrário à votação da reforma tributária.

Repórter – Como é que o Governo de São Paulo pode forçar a fazer esta votação?

Covas – Olha, para forçar, não se consegue forçar ninguém. Eu dou minha opinião. Eu torno pública minha opinião. É uma opinião de alguém que defende o Governo; então, não é uma opinião de oposição, não. Eu defendo o governo e até por defender o Governo, eu tenho por obrigação falar o que eu penso.

Repórter – Já defendeu mais.

Covas – Depende do ponto de vista. Eu creio que você acha um exagero o que eu faço. De modo que não tem muita razão para você falar isso. Mais alguma pergunta?

ABASTECIMENTO DE ÁGUA

Repórter – O senhor investiu em equipamentos para melhorar o abastecimento R$ 3 bilhões …

Covas – Para dizer a verdade, US$ 3 bilhões. Isto não foi só na cidade de São Paulo. Nos primeiros quatro anos de governo: US$ 3 bilhões. Nunca ninguém fez isso. Você vai pôr isso aí? Que nunca ninguém fez isso?

Repórter – O sindicato dos trabalhadores em água…

Covas – Sintaema

Repórter – …. ele informou que dos 572 contratos que a Sabesp tinha no ano passado, ela suspendeu 284.

Covas – Não, ela tinha um pouco mais de contratos do que isso. E não foi ela que suspendeu. Fui eu que suspendi.

Repórter – Por quê?

Covas – Porque de repente se criou uma crise nacional e nós fomos obrigados a honrar US$ 1,2 bilhão e honramos. Como eu não costumo fazer dívida para os outros pagarem, eu suspendo a obra. Enquanto não acertar a situação, não volta a fazer a obra. Parei duzentas obras, é verdade. Mas não foi a Sabesp que parou, fui eu.
O Sintaema sabe disso. É por isso que eles receberam salário. Se eu não tivesse parado, nem salários eles teriam para receber. A não ser que eu deixasse de pagar quem está a favor da obra. Mas, aí você tinha que decidir onde é que punha o dinheiro.
Quem mandou parar, fui eu. E se acontecer de novo, eu mando parar de novo. Se acontecer com estrada, eu mando parar as obras de estrada.
Eu não deixo para o futuro. Eu sei o quanto me doeu ter que consertar São Paulo. Me dói até hoje. Eu pago o preço do que não fiz. Não tem nenhuma importância. Mas eu não quero que venha depois, que tenha que passar pelo mesmo arranjo que eu tive que passar.