Entrevista do governador Mário Covas após abertura da 16ª Convenção da APAS

Parte 1

seg, 15/05/2000 - 14h22 | Do Portal do Governo

Parte I

ABASTECIMENTO DE ÁGUA

Repórter – Vai começar o rodízio no abastecimento de água no dia 1º próximo. Em 1995, no início de seu governo, o senhor tinha prometido acabar…

Covas – E acabei. Não posso acabar é com a falta de chuva. Isso não dá para eu acabar. Você sabe disso. Cinco milhões de pessoas deixaram de ter rodízio aqui, na Região Metropolitana. Agora, os reservatórios daqui de São Paulo baixaram por falta d’água.
Nós estamos com uma situação que se repete a cada cem anos. E só ir lá no reservatório e vir que o reservatório baixou. Portanto, a gente tem que prevenir a população. Não falta obra, não. É o que você quer dizer. As obras foram todas feitas. As pessoas tomaram água. Não é possível que elas tenham tomado água para acabar com a água. Não tiveram rodízio. O rodízio foi terminado. Isto aborrece algumas pessoas, eu sei. Mas, agora, o quê que eu vou fazer? Parou de chover. Este ano não choveu. Choveu alguns dias de janeiro. Chegamos a uma situação que a cada cem anos ocorre e, portanto, nós vamos ter que tomar uma providência para que a gente possa distribuir o ônus razoavelmente.

Repórter – Esta situação não poderia ser prevista?

Covas – Não, não. No nosso governo nós não conseguimos ninguém que tivesse esta mágica de ver o futuro, não.

FEBEM

Repórter – Governador, que informação o senhor tem de Franco da Rocha?

Covas – Não foi uma rebelião. Foi uma fuga de cinco rapazes.

Repórter – Vinte.

Covas – Vinte? Me disseram cinco agora mesmo.

Assessor – Seis.

Covas – Seis?

Repórter – A informação que eu tenho da minha redação é que são vinte.

Repórter – Da minha redação, também.

Covas – Bom, há uma coincidência, nisso. Logo após uma visita da qual participaram o promotor público, Ebenezer, o padre Lancelotti, o deputado da
Comissão de Direitos Humanos, logo depois que eles saíram seis, vinte meninos fugiram. É uma mera coincidência. Mas é o que aconteceu.

(….)

MENDONÇA DE BARROS

Repórter – Governador, o senhor ficou sentido com a saída do Mendonça de Barros da vice-presidência do PSDB?

Covas – Eu não sabia que ele tinha saído.

Repórter – Pelo menos, é o que o Painel da Folha de S. Paulo está publicando hoje.

Covas – Eu não sabia que ele tinha saído. Mas é evidente que isso é uma decisão muito pessoal. É bem provável que ele esteja fazendo alguma coisa hoje que o impeça de ter essa atividade. Se é que ele saiu. Eu nem sei se ele saiu. Mas se saiu, eu acho que é uma perda.

RENOVAÇÃO DE FROTA

Governador – Na época da negociação da renovação da frota, o senhor mencionou que se o Governo Federal não fizesse a renovação da frota, o
Governo Estadual faria assim mesmo. O que o senhor tem a dizer sobre isso?

Covas – Não posso ter mencionado isso. Pela simples razão de que se o Governo Estadual, sozinho, der a parte dele, ninguém faz a renovação de frota. A parte do Governo Estadual é uma parte do ICMS, uma parte do IPVA. Portanto, essa é muito pequena para que você possa ter renovação de frota. Preciso de uma participação de empresas, montadoras, precisa ter a participação do Governo Federal. Se não tiver isso, fica inviabilizado. Você precisa ter um certo valor mínimo para se tornar atraente para quem tem o carro velho para trocar pelo menos por um modelo um pouco mais novo.
Eu não gostaria que você assim. Eu não gostaria que isso virasse uma escadinha de tal maneira que, no fim, você começa a ter um mercado secundário de papel. Não gostaria. Mas no mundo inteiro é feito dessa maneira e é difícil você pensar que alguém que tenha um carro que você pode vender por R$ 3 mil vá ter a possibilidade de comprar um carro zero quilômetro. Vai comprar um carro melhor do que aquele. Aquele que tinha aquele carro vai comprar um carro melhor. Este circuito redunda, no final, em maiores vendas.

ETIQUETAGEM DE PREÇOS EM SUPERMERCADOS

Repórter – Sobre a etiquetagem de preços nos próprios produtos, qual foi a lei que o senhor sancionou e que o presidente fez menção?

Covas – Qual o número da lei? Não sei.

Repórter – O que diz esta lei?

Covas – Esta lei? Mas você quer que eu repita aqui o que diz a lei? Você tem cada uma.

Repórter – (inaudível) por determinação do Ministério da Justiça, os atacadistas são obrigados a etiquetar os preços nos próprios produtos. O senhor faz uma lei que contradiz esta determinação. É isto que eu gostaria de saber. Contradiz mesmo?

Covas – Não sei se contradiz. Mas o que está feito, está feito.

Repórter – Mas por que o senhor defende que não seja etiquetado?

Covas – Porque eu quero que se faça coisa mais moderna; que se use o que existe de mais moderno em matéria de tecnologia no que se refere à venda. Eu quero o consumidor satisfeito, as operações feitas com rapidez. Nós estamos no século XXI ou pelo menos estamos próximos dele e, portanto, a gente tem que adotar o que temos de mais moderno.

Repórter – Mas uma determinação do Ministério da Justiça não se sobrepõe à uma lei estadual?

Covas – Depende. Se ela disser que eu tenho que dar um tiro na cabeça, pode ser. Quer dizer, em certas situações não se sobrepõe.

ABASTECIMENTO DE ÁGUA

Repórter – O senhor disse que o rodízio acabou, mas ele vai voltar.

Covas – Não, ele acabou. Você pode dizer que vai haver um outro rodízio. Aquele que eu falei, valeu. Aquilo que eu falei, aconteceu. Você pode escrever o que você quiser. Você pode fazer a pergunta que você quiser. Mas você não vai poder dizer que não aconteceu. Você está fazendo a pergunta pela terceira vez. Enquanto você não encontrar um jeito de colocar no seu jornal, o rodízio vai continuar, você não fica satisfeito. Você vai ter rodízio hoje por uma razão que não tem nada a ver com o rodízio que se tinha antes. Antigamente, você não tinha serviço feito. Não tinha rede neste lugar, não tinha o abastecimento, não tinha estações elevatórias, não tinha nada disso. Bem, isso tudo foi feito.
Cinco milhões de pessoas que não tinham água, passaram a ter. Agora, não. Falta água, não é equipamento. Falta água, por que não choveu. E nisso, mesmo que eu gostasse, eu não manda aí.

FEBEM

Repórter – Governador, eu não entendi sobre a coincidência hoje da visita da comissão…

Covas – Eu também não entendi.

Repórter – Há alguma relação entre a visita deles e a fuga da Febem agora de vinte menores?

Covas – Não sei. Presumo que não.

Repórter – Mas, por que uma coincidência?

Covas – É uma coincidência. Foi logo depois que eles tiveram lá. É claro que quando se vai o Ministério Público, mais o padre, você imagina que eles foram lá exatamente para tranqüilizar os jovens etc. E que depois de uma visita dessas, você não vai ter rebelião. A coincidência é que aconteceu depois que eles foram lá. Não é que eles tenham feito qualquer coisa para acontecer.