Entrevista coletiva do governador Mário Covas após reunião com o prefeito Celso Pitta

Parte Final

qua, 09/02/2000 - 16h11 | Do Portal do Governo

REPÓRTER – (incompreensível)

COVAS – As coisas relativas à lei fiscal, que aliás até agravam a austeridade da lei – nós não fomos pedir pra diminuir a austeridade, ao contrário – o que pedimos agrava a austeridade da lei. Uma das coisas ele concordou de imediato. A outra coisa que a gente precisa discutir é a lei do Congresso, vai ter que discutir dentro do Congresso. Agora vão criar também…enquanto na área federal estão tirando as vinculações, na área estadual querem criar mais uma vinculação…o Estado vai ter que arcar com mais 12% à Saúde. Então, quando vocês vierem no futuro, olhem pra mim com uma certa cara de penalidade, porque vai ter que ter 30% pra Educação, 12% pra Saúde, 13,5% pra pagar dívida com o Governo Federal, 6 bilhões de reais por ano pra pagar aposentado, fora a parte que vai aos municípios, etc. De forma que, quando gritarem: “ precisa ter mais polícia, precisa ter mais segurança, precisa ter mais estrada, fazer concessão é estupidez…”, olhem com um pouco mais de pena do Governo do Estado e veja em que camisa de força ele está metido.

REPÓRTER – Essa vinculação na Educação está mostrando que houve avanço, que a população, os eleitores querem…

COVAS – Só que aqui em São Paulo não são 25%, mas 30%. Que a legislação estadual, a Constituição Estadual, determinou que sejam 30%. Mas por que vai fazer vinculação também na área da Saúde? Acho que aqui pra São Paulo não altera muito…

REPÓRTER – O Serra falou…

COVAS – Ah…o Serra falou que estava ótimo! Não é ele quem paga, somos nós!

REPÓRTER – Isso tira a liberdade do governador, do prefeito?

COVAS – Tira toda a liberdade. De repente você tem uma enchente desastrosa, que arrebenta 40, 50, 80 cidades, mas se o teu orçamento estiver absolutamente engessado, como você faz? Tira dinheiro da Saúde, da Educação? Mas o pior é que a tendência do Governo Federal, em relação a si próprio é desvincular tudo. Agora inventaram uma vinculação, mas ao Estado…Enfim, tudo bem!

REPÓRTER – Em relação à fibra ótica. Existe alguma definição? Parece que as Secretarias estavam negociando com as concessionárias…

COVAS – A Secretaria está começando a tratar do assunto. É um assunto a que nós não temos direito. O contrato não prevê isso…

REPÓRTER – Mas isso não foi uma falha no contrato, governador?

COVAS – Não…o que o contrato fechou é obrigar a colocar aquilo, porque é uma coisa que interessa ao País e ao Estado…Agora, eles colocaram, ampliaram a colocação, fizeram vários condutos e, portanto, vão oferecer a uma porção de pessoas. Talvez você pudesse fazer, se a tua obrigação fosse maior que aquela, poderia ter renda adicional do que aquilo que você tem. Em compensação teria que pagar mais…

REPÓRTER – O Dr.Malan parece que está incluído entre os presidenciáveis e está com toda a bola. O que o Sr. acha disso?

COVAS – O Dr. Malan? Acho muito bom o candidato, mas não tem o meu voto.

REPÓRTER – Por quê?

COVAS – Porque não acho o Malan um homem com afinidades com as coisas que eu penso, nem com o meu partido. Acho ele um bom burocrata, um cara sério, sem dúvida nenhuma. Alguém que tem tentado exercer a sua função, mas ser candidato à Presidência da República tem que ser alguém em que você acredita no seu discurso, na sua prática política, mas não tem nada de pessoal nisso. Não seria o meu candidato.

REPÓRTER – Qual a principal divergência administrativa que o Sr. tem?

COVAS – Administrativa acho que em cada ocasião já falei. Ai não está se tratando de divergência administrativa, mas divergência política. Não reconheço nele alguém pra representar a Social Democracia.

REPÓRTER – Ele não representaria o PSDB?

COVAS – Não o perfil dele não é ideologicamente identificado pelo partido, mas não tem nada a ver com o mérito pessoal dele. Ele tem a favor dele um fato significativo, por ter sido um dos dois negociadores da dívida externa, e com muita competência. E o Brasil deu muita sorte nisso. O Jorge abriu a picada e ele preparou o terreno e tivemos uma negociação de dívida externa bastante tranquila. Mas não é o homem que do ponto de vista político possa ser…

REPÓRTER – Quem é o seu candidato?

COVAS – O meu candidato é o candidato do PSDB.

REPÓRTER – Que perfil seria ideal?

COVAS – Alguém que faça e acredite no que está escrito no programa.

REPÓRTER – O Sr., por exemplo?

COVAS – Não. Eu não sou, por outras razões candidato. Mas se fosse, eu interpretava. Intepretava os sentimentos do PSDB, como estou fazendo aqui. Mas eu sou carta fora do baralho.

REPÓRTER – Por quê?

COVAS – Porque a imprensa pergunta demais e eu estou velho demais pra ter paciência pra isso…

REPÓRTER – Agora o presidente FHC está interpretando o pedido do PSDB, não? Porque se ele tem um ministro da Fazenda que não interpreta…

COVAS – Tem ministro do PPB, do PFL, do PMDB, até ministro originário do PT, o Weffort…Isso é outra coisa. É um governo que tem o apoio de várias correntes e, portanto, compõe, politicamente…

REPÓRTER – Política econômica segue mais a linha do PFL?

COVAS – Não sei de quem ele segue. Só sei que não é do meu agrado.

REPÓRTER – Voltando à questão dos perueiros…

COVAS -…( o governador chama o Secretário da Segurança Marco Vinicio e pede dados sobre o que a polícia fez durante esse período: quantas peruas foram presas, quando a polícia interveio, etc). E disse: Até cidadão que fez ameaça por jornal a polícia prendeu! A polícia continua fazendo a sua responsabilidade…Vocês é que entraram nessa, que dizem que não.

REPÓRTER – o Sr.acha que 50 homens são suficientes pra fiscalizar 16 mil perueiros?

COVAS – Mas eu não sou a pessoa indicada pra dizer isso…

REPÓRTER – E se a Prefeitura tivesse pedido 100 homens?

COVAS – Sugira ao Pitta pra pedir 100 da próxima vez e você saberá a resposta.

REPÓRTER – A Prefeitura pediu mais coisa?

COVAS – Não. Queria que o CPtran inteiro funcionasse nisso, mas disse que com 50 homens resolvia.

REPÓRTER – São quantos homens o CPtran?

COVAS – Dois mil e pouco…A sua função não é só com perua…é com todos os veículos. Esses 50 homens vão ficar sob o comando da Secretaria Municipal de Transportes. Se daqui pra frente não der jeito, não venham cobrar de mim.

REPÓRTER – São zonas específicas de atuação?

COVAS – Não. Eles ficam à disposição da Prefeitura.

REPÓRTER – A participação do Governo se resume a isso?

COVAS – Não senhora! A Polícia continua fazendo, inclusive com eles, a mesma coisa que sempre fez. Qualquer crime que cometerem a polícia age. Mas quando você pergunta isso quer dizer o quê? Que nós vamos substituir os fiscais da Prefeitura? É isso?

REPÓRTER – É…por exemplo!

COVAS – Não. E não conheço o problema tão bem como a Prefeitura. Estou atendendo a Prefeitura no que me pediu. Ou nessa altura você ainda quer que eu diga a ele que o que está pedindo é pouco e, portanto, oferecer mais? Eu não acho nada, quem está achando é você. O prefeito me telefonou – aliás ele nunca teve problemas pra vir aqui – acho que é a décima vez que vem tratar de assuntos em comum. Nem sempre eles prosperaram. O Rodoanel não prosperou, por exemplo.
Ele não tem necessidade nem de intermediário pra vir aqui. Isso foi segunda-feira, no fim da tarde, e só não marquei ontem porque eu estava em Brasília. E marquei pra hoje. Na realidade, nós cumprimos com nossa tarefa e sofremos acusação.

REPÓRTER – Como vai funcionar a hot line?

COVAS – Ela já existe em relação aos dois secretários. O que vai estabelecer são outros tipos de ligação que sejam diretas com…você está lá em Capela do Socorro e não vai telefonar ao Gabinete do Secretário, vai ligar ao comando lá, portanto a ação é mais rápida. A ação é mais rápida. Descentralizar o contato.