Entrevista coletiva do governador Mário Covas após reunião com o prefeito Celso Pitta

Parte III

qua, 09/02/2000 - 15h01 | Do Portal do Governo

Entrevista coletiva do governador Mário Covas concedida após a reunião com o prefeito Celso Pitta no Palácio dos Bandeirantes

Banespa

REPÓRTER – Estão sendo apontados ilicitudes no processo de venda do banco….

COVAS – O Suplicy fala nisso há bastante tempo, mas não há nenhuma ilicitude.

REPÓRTER – São onze procuradores que estão fazendo…

COVAS – É; eles receberam a procuração do Suplicy, eu sei.

REPÓRTER – O senhor acha que é infundado, isso?

COVAS – Se eu acho? Não, eu tenho certeza. Mas, a mim, nunca foi dada muita chance, no Banespa. Ao contrário. A intervenção foi feita para sanear o banco… Mas você sabe que eles não tinham acertado as contas com a prefeitura? Não tinham, em cinco anos, acertado as contas com a prefeitura.

REPÓRTER – E acertaram, agora?

COVAS – Acertaram porque senão não podiam acertar as coisas com a gente.

REPÓRTER – O senhor conversou com o Piunti depois das denúncias?

COVAS – Não, não conversei. Nem teria porquê conversar com ele depois das denúncias.

REPÓRTER – O senhor vai entrar com alguma medida, em relação a guerra fiscal?

COVAS – Eu vou entrar com várias medidas.

REPÓRTER – Quais?

COVAS – Mas não anuncio para vocês. Não vou dizer. Espião não escreve na testa: ‘Espião’. Você vai fazer uma briga e enuncia primeiro a estratégia? Parece o Wanderley Luxemburgo.

REPÓRTER – E se a reforma tributária não passar?

COVAS – Não sei se depois dessa discussão, não sei se ela não consolida a guerra fiscal. Como ela foi aprovada na Câmara, excluía a guerra fiscal. Mas as alterações são capazes de perenizar a guerra fiscal.

REPÓRTER – Qual alteração específica?

COVAS – A que eu tenho conhecimento é que vão pagar as empresas que receberam benefício. Quem paga é o fundo criado entre os próprios estados. Bom, mas se eles receberem isso fica perenizado. A empresa fica com essa vantagem para o resto da vida.

REPÓRTER – E aí o governo de São Paulo vai chiar?

COVAS – Vai, sim. Vivem dizendo que eu sou chorão, chia até demais. Por isso que eu fui a Brasília, ontem.

REPÓRTER – O senhor volta para Brasília hoje?

COVAS – Volto.

REPÓRTER – O que o senhor vai falar sobre guerra fiscal?

COVAS – Ah, eu vou fazer um discurso comprido, dizendo que é desvantajoso para o País. É absolutamente proibido, por lei. Na realidade, o que existe é quem cumpre a lei e que não cumpre. São Paulo tem cumprido.

REPÓRTER – É isso que o senhor vai expor, hoje?

COVAS – É, mas isso não é uma exposição tão rápida quanto a que eu acabei de fazer.

REPÓRTER – Ainda com relação ao Banespa, os procuradores dizem que ele só poderia ser federalizado com uma lei federal.

COVAS – Mas eles fizeram uma lei federal.

REPÓRTER – Sim, mas isso foi posterior.

COVAS – Do quê? Não, filha, eles estão enganados.

REPÓRTER – Eles estão alegando isso, que podem anular o processo de federalização…

COVAS – Pois então que anulem, e voltem com o banco para o Estado de São Paulo. Eu não vou achar ruim, não.

REPÓRTER – O senhor aceita o banco de volta?

COVAS – Claro. Eu acho que o banco deveria estar aqui. E estaria consertado como a Caixa, que estava na mesma situação que o Banespa.

REPÓRTER – E por que o senhor abriu mão?

COVAS – Mas que mão, que eu abri? A intervenção no Banespa foi feita no dia 30 de dezembro de 1994, e eu ainda não era governador. Vocês correram atrás de mim seis meses, me enchendo, perguntando para mim por que eu estava brigando para o Banespa ficar em São Paulo. Cansei de ler editorial dizendo ‘esse governador é um teimoso, quer que o Banespa fique em São Paulo..’ Moral da história: ficaram cinco anos com o Banespa e tomaram uma multa de R$ 2, 8 bilhões, dada em cima da administração do Banco Central e do Ministério da Fazenda. E vocês perguntam por que eu não resolvi. Eu podia pagar a dívida, de R$ 9 bilhões. Mas me deixaram somente R$ 36 milhões e aí fica difícil. A Caixa, que é uma empresa muito menor que o Banespa, mas que hoje é o sétimo banco do Brasil. A Caixa já é o sétimo banco do Brasil! Minha idéia é vender 49% das ações para o povo. Eu te aconselho a comprar, por que vai crescer muito, o valor da Caixa. Você ou qualquer outro, Por isso que eu quero vender para povo, não quero vender para empresa nenhuma.

REPÓRTER – Nem banco nacional?

COVAS – Não para pessoa jurídica, é para pessoa física. Vender para o povo. O Estado continua com maioria, 51%, mas dispensa 49% das ações. Não precisa disso.

REPÓRTER – É um projeto ainda para este ano, governador?

COVAS – Não sei se pra esse ano vai dar. Se não der pra esse ano, será no ano que vem. Mas até o final do ano que vem estará feito. E foi possível consertar a Caixa. A Caixa recorria diariamente a 500 milhões de reais pra fechar o seu caixa no Banco Central. Está dando dividendos bem razoáveis ao Estado.

REPÓRTER – Voltando à reunião que o Sr. deve ter hoje, o que o Sr. espera do Senado?

COVAS – Não sei. O presidente da Comissão me ligou na quinta-feira, quando viajava. Estava no interior e recebi a notícia. Do interior fui a Curitiba. Quando cheguei na sexta, no final da tarde, telefonei e não o encontrei. Na segunda nos falamos e ele me convidou pra depor sobre Guerra Fiscal. Ele está interessado em que a Comissão de Assuntos Econômicos tente formular alguma coisa a esse respeito. Aliás, pelas declarações que eu li, ele dizia que até não tem nenhuma regra a respeito. A regra tem ,sim. A regra não é seguida, mas ela existe.

REPÓRTER – O Sr. não tem nenhuma expectativa que São Paulo seja apoiado?

COVAS – Eles devem ouvir vários governadores, presumo…

REPÓRTER – E a reunião de ontem, parece que o Sr. ficou um pouco frustrado?

COVAS – Não, não fiquei frustrado, não! Eu até sai de lá com a certeza de que aquilo que eu falei durante cinco anos é verdadeiro. Ou seja, que a Lei Kandir não foi feita pra devolver ao Estado a totalidade que eles perderam. Porque ontem isso foi afirmado.