Entrevista coletiva do governador Mário Covas após reunião com o prefeito Celso Pitta

Parte II

qua, 09/02/2000 - 14h06 | Do Portal do Governo

Entrevista coletiva do governador Mário Covas concedida após a reunião com o prefeito Celso Pitta no Palácio dos Bandeirantes

TRECHO II

GUERRA FISCAL

Covas – ….. aquele tipo de empresa, aquele tipo de produto tem tais vantagens que ele arrebenta os do outro estado. Portanto, no conjunto você só perde. Quem levou não tem imposto. O consumidor continua pagando. Só quem ganha é a empresa e você ainda arrebenta as empresas do Estado-origem. Então, para o país isto não é vantagem.
A guerra fiscal é uma insânia em relação ao País.

Repórter – O senhor ainda está descrente em relação à reforma tributária? O ministro Pedro Malan ….

Covas – Muito descrente.

Repórter – …. diz que está empenhado.

Covas – Não, não acha que esteja não.

Repórter – (incompreensível)

Covas – Então é a primeira vez que ele fala isso. Porque a última vez que ele falou sobre a reforma tributária, ele paralisou a votação na Câmara. No dia da votação, ele emitiu um comunicado – parece que quem emitiu primeiro foi o Everardo Maciel – e ele em seguida emitiu um outro assinado. O primeiro não tinha assinatura. Sem assinatura compromete menos como você sabe. O segundo tinha assinatura.
A Secretaria, o Ministério da Fazenda disse que aquilo era horroroso para o governo, etc. Tanto isto é verdade que em vez de continuar o processo no Congresso, o que aconteceu que paralisou para discutirem cinco membros do Executivo, cinco membros do Legislativo, cinco secretários da Fazenda. E eles estão discutindo até hoje.

Repórter – O senhor vai a Brasília hoje?

Covas – (incompreensível) Eu não estou torcendo para não ter. Estou torcendo para ter.

CDHU

Repórter – O que o senhor acha da atitude do Lázaro Piunti – tucano de carteirinha – que saiu do governo agora atirando. Ontem, ele foi prestar depoimento …

Covas – Eu não acho nada e peço a Deus em favor dele que ele esteja certo no que está falando. Se ele estiver errado, ele vai pagar um preço por isso.

Repórter – Governador, por que esta contra-ofensiva ….

Covas – Que contra-ofensiva…. Não sei te dizer, não foi da minha lavra, não saiu da minha mão. Provavelmente a própria bancada é que coletou este documento. Eu li hoje no jornal que apresentaram este documento que eu não sei nem a origem da coleta. Eu, neste instante, não agiria nunca contra ele? Porque eu daria um palanque adicional a ele. De forma que eu não agiria contra ele. Eu espero que ele tenha razão no que ele vem fazendo. Por que não se faz acusação desse tipo que não sejam verdadeiras. De forma que se elas não forem verdadeiras, ele vai pagar um preço grande. Se elas forem verdadeiras ….

Repórter – Que preço é esse?

Covas – Você tem interesse, você é advogado? Você vai advogar para ele ou para nós?

Repórter – Não.

Covas – Então não precisa saber qual será o preço.

(incompreensível)

Covas – Imagina que o Partido resolvesse expulsá-lo.

Repórter – Agora ele diz que todas as acusações o senhor estava ciente já delas.

Covas – O quê?

Repórter – Piunti diz que todas as acusações já tinham sido avisadas para o senhor.

Covas – Eu não li isso não. Eu li é que ele tentou falar comigo. Se ele tentou falar comigo eu não tinha conhecimento. Bom, e se tivesse conhecimento?

Repórter – Ele pediu demissão?

Covas – O quê?

Repórter – Três vezes?

Covas – Não senhora, não pediu demissão, nada. Pede para ele me dar a cópia da carta em que ele pediu demissão.

Repórter – A Justiça já deu decisão em caráter preliminar em alguns processos contra o Goro Hama, não deu?

Covas – Não, não deu não. Ele não foi condenado em coisa nenhuma. E volto a insistir. Todos aqueles contratos, as concorrências foram feitas no governo anterior. Todos os contratos, as concorrências. Grande parte dos contratos foram assinados no governo anterior. Alguns foram assinados neste governo. E, até o instante em que o Tribunal considerou que aquele tipo de contrato não poderia fazer. Não poderia fazer porque limitava a concorrência. Coisa que aliás o Governo Federal, por exemplo, não concorda. Porque ele acabou de baixar uma Medida Provisória e a Caixa Econômica Federal está fazendo – inclusive aqui em São Paulo – projetos daquele tipo.

Repórter – O deputado Walter Feldman fez uma avaliação de que as denúncias que ele agora apresenta são eleitoreiras.

Covas – Eu não faço avaliação nenhuma. O cidadão fez uma denúncia…

Repórter – (incompreensível)

Covas – Também não é por minha vontade. No começo do ano, o Walter Feldman esteve aqui coincidentemente e mostrou uma lista de 14 pedidos de CPIs. E eu disse: ‘Por mim, pode fazer todas’. Eu não tenho nenhuma restrição.

Repórter – A da CDHU também?

Covas – Todas inclui a da CDHU. Senão seria, todas menos a da CDHU.

Repórter – Ficou claro a manobra do Partido em não aceitar a CPI ontem.

Covas – Não sei, meu partido sozinho não consegue… são quinze deputados.

Repórter – Daria? Tanto é que não foi aceita.

Covas – Não foi aceita pelas lideranças todas. Mas para mim, pode ser aceita. Não faz diferença nenhuma. No meu governo, quem for capaz de me provar que tem alguma coisa errada, me faz um favor. Agora, não dá para condenar sem a pessoa ter o direito de ser julgada. Isso eu não faço, não adianta…Não basta alguém, por mais responsável que seja, Ministério Público – o que seja – acusar alguém para imediatamente eu tomar providências demitindo essa pessoa… Não tem lógica…eu fui demitido assim…sei como isso ocorre. Eu tinha um mandato que não era nem meu, era do povo. Tomaram esse mandato, sem dizer ao povo ou a mim porquê ele foi tomado.

CDHU

Repórter – o Sr. não acredita no Piunti?

Covas – Deixa o Piunti…ele está com documentos…eu nem sei como alguém vai a uma empresa e tira nove quilos de documentos de uma empresa…ele era vice-presidente nomeado por mim! Eu não sei o que o motivou e peço a Deus que ele tenha razão.

Repórter – E o caso Banespa?

Covas – Perdi de vista o Banespa. Faz cinco anos que eu não sei o que é o Banespa. Eu não acho nada. Meu partido me proibiu de falar do Banespa.

Repórter – Ontem foi impetrada uma ação no Ministério Público…

Covas – Eu não acho nada…meu partido me proibiu de falar do Banespa…

Repórter – O Ministério Público, em Brasília, impetrou ontem uma ação de improbidade administrativa acusando a sua gestão diante do banco. O que o Sr. tem a dizer sobre isso?

Covas – Eu não sei que acusação se faz sobre a minha gestão sobre o banco. Eu não sei se vocês sabem que o banco entrou em intervenção no dia 30 de dezembro de 94. E aqueles que deixaram o banco nessa situação nem são lembrados. Ninguém se lembra que o banco ficou nessa situação porque o Sr. Orestes Quércia, na véspera da eleição do Fleury, tomou US$ 640 milhões do banco emprestados. Quando eu assumi, esses US$ 640 milhões eram R$ 4 bilhões de dívidas. Ele pegou todas as dívidas de empresas estatais e transferiu essas dívidas ao Tesouro. Isso é que arrebentou o Banespa. E nem é lembrado. Aí vem alguém dizer que houve irregularidade no meu governo? É danado isso. Ninguém lembra disso. De repente o Piunti é quem tem razão…

Repórter – O Piunti pode ser expulso do partido?

Covas – Se depender de mim, não!