Entrevista coletiva do governador Mário Covas após posse do novo presidente do Tribunal de Contas

Parte II

qui, 27/01/2000 - 19h26 | Do Portal do Governo

LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL

REPÓRTER – Em relação à lei de responsabilidade fiscal, o senhor não entende um período de transição, como estão pedindo os prefeitos …

COVAS – Para mim tanto faz. Eu até acho que era bom ter isso imediatamente.

REPÓRTER – Por que?

COVAS – Porque quanto mais cedo se puser ordem nisso, em todos os níveis, inclusive no nível federal, qualquer coisa que aponte na linha do padrão austero, no sentido das contas pública, é bom.

REPÓRTER – E essa articulação do prefeito Pitta e do prefeito Imbassaí (Salvador) de tentar conversar com o senador Antônio Carlos para ver esse período de transição. Como o senhor está analisando isso?

COVAS – Eu não comando nem o prefeito Imbassaí, nem o prefeito Pitta.

REPÓRTER – Mas eu queria saber se o senhor entende essa como uma saída eleitoral para a lei.

COVAS – Amanhã você vai dizer na tua rádio, como disseram ontem, que eu estou batendo boca com ele. Ele faz o que achar, é maior de idade, foi eleito, é prefeito de São Paulo. Se ele achar que deve procurar o presidente do Senado, que procure. Se procurar a mim, eu darei uma resposta a ele, mas não está me procurando, ele está procurando o presidente do Senado, o problema é dele.

ENCHENTES

REPÓRTER – Governador, o senhor acha que a curto ou médio prazo é possível que haja obras que amenizem essas enchentes que assolam a capital?

COVAS – Olha, eu inaugurei uma no feriado do dia 25, que até com surpresa minha, com pouquíssima gente lá. Uma obra que custou R$ 113 milhões, uma obra de saneamento que atravessa o rio Pinheiros e que tira 40% da poluição do rio, custou R$ 113 milhões. Nós gastamos neste ano R$ 450 milhões com obras contra enchentes, R$ 450 milhões. Duas obras a montante de São Paulo, que são as barragens (que completam as cinco), que são Biritiba e …, a canalização do rio Cabuçu e o trecho de aprofundamento da calha do rio Tietê, aumentando de 800 m3/segundo para 1.200 a 1.400 m3/segundo, desde o cebolão até a Barragem Edgard de Souza. Isso foi feito a um preço tão barato, para desgosto de muitos, que o dinheiro que tínhamos de empréstimos dos japoneses dá para fazer o resto, basta que eles nos autorizem, porque sobrou dinheiro da primeira etapa.

REPÓRTER – Sobraram R$ 300 milhões?

COVAS – É R$ 300 milhões.

REPÓRTER – Como é que está essa negociação para fazer o trecho da Capital?

COVAS – Está complicado, eu achava que estava fácil, mas está complicado. Porque não depende da gente, depende do órgão financiador. Nós não estamos pedindo nenhum tostão, estamos pedindo simplesmente que o órgão financiador nos permita, com o dinheiro que sobrou, fazer o restante da obra, que vai do Cebolão até a Barragem da Penha.

REPÓRTER – A curto prazo não é possível que se prometa, que daqui a um mês …

COVAS – Olha, o projeto de aprofundamento da calha do Tietê na cidade de São Paulo, no que se refere ao Cebolão até a barragem Edgar de Souza, um trecho está terminado e os outros dois estão praticamente no fim. Até fevereiro/março estará terminado o trecho inteiro.

REPÓRTER – Governador, com relação às enchentes, isso é um problema do estado e dos municípios. O senhor acha que tem havido cooperação entre os dois para que se resolva isso?

COVAS – A cooperação passa por obras que são diferentes. A obra básica do Governo do Estado tem a ver com o Tietê, que é um rio que percorre vários municípios. A obra da prefeitura, são internas, são córregos, a microdrenagem. Quando eu estava na prefeitura, eu detectei naquela época, 600 pontos de enchentes em São Paulo, decorrentes de microdrenagem, e não de enchentes do rio Tietê. Se você ficar na marginal em um dia de chuva, você vai ver que existem três pontos na marginal que têm um gabarito baixo. Com isso, se forma uma canoa embaixo por onde a água entra e não tem como sair. E São Paulo tem coisas que são irrecuperáveis. Por exemplo: você não tem várzea, a várzea foi toda tomada pelo rio, então, é preciso operar com o que temos. E o que temos, o projeto tradicional, é para aumentar o fluxo, a vazão do rio de 800 metros cúbicos/segundos para 1.400 metros cúbicos/segundos. E isso, naquele trecho, já está feito. Se nos autorizarem, em dois anos, faremos um outro trecho; se não nos derem o dinheiro, então não sei, aí vamos ter de reequacionar financeiramente o projeto.

REPÓRTER – Então, porque o projeto não começou pela Capital, que é o que sempre traz problemas de enchentes para a população?

COVAS – Eu vou tentar exemplificar: Imagine que aqui na frente você ficasse com uma pequena cessão e aqui atrás com uma grande cessão, a água passava? O contrário sim, seria o certo. Você vai aprofundando lá da barragem para cá.

REPÓRTER – tecnicamente, a obra tem de ser feita do fim para o começo?

COVAS – É lógico.