Entrevista coletiva do governador Mário Covas, após inauguração do Espaço Rodoanel

Parte final

qui, 03/08/2000 - 19h14 | Do Portal do Governo

Parte final

CPTM

Repórter: O presidente da CPTM falou que dos R$ 3 bilhões para fazer manutenção, só vieram até agora R$ 2 bilhões. Quando vem o restante para o programa?

Covas: Eu não acredito que o presidente da CPTM tenha feito esse tipo de declaração. Saiu isso hoje no jornal?

Repórter: Saiu. Governador, mesmo com os investimentos os usuários principalmente daquelas linhas, por exemplo, da Linha A, eles reclamam …

Covas: Não faz mal. Vai vir outro Governo e isso vai ser resolvido rapidamente. O dinheiro vai aparecer, tudo vai se resolver rapidamente. Porque no meu Governo se aplicou lá o que nunca se aplicou em Governo nenhum. Por que tem acidente? Pela mesma razão que o De Gaulle fez do Concorde a maior vitória da viação francesa e, no entanto, caiu o avião. Só para não falar do Titanic, que agora é filme, não é mais desastre.

Repórter: Mas os usuários reclamam, não é só do acidente. Eles falam de atrasos constantes …

Covas: Os usuários reclamam? Vai perguntar para os usuários do ABC se eles reclamam do trem espanhol. Vai perguntar para os usuários do trecho que mais passageiros tem, que é o de Osasco até o Largo Treze de Maio. Vai perguntar para os usuários da Zona Leste, que têm o trem espanhol. Lá só estão trens reformados, não estão os trens espanhóis. Nós precisamos receber ainda os 30 trens alemães para poder levar para lá. Mas os trens que estão naquela linha são trens reformados.

Repórter: Mas eles falam… Mandaram até cartas à CPTM, que comprovam atrasos, problemas, descarrilamento.

Covas: Quem mandou?

Repórter: Um leitor da Folha.

Covas: Ah, um leitor da Folha. Bem, então aí não dá para responder…

Repórter: Não, mas ele mandou primeiro a carta à CPTM.

Repórter: E o Rodoanel?

Covas: Não eu acho que o assunto está bom. Vamos falar de CPTM aqui. Vamos lá. O que mais vocês têm a reclamar da CPTM?

Repórter: No dia do acidente eles tiveram de descer, desembarcar de um trem para o outro, no meio do trilho, no escuro, o maquinista teve de…

Covas: Mas é daí? Você queria que instalassem luz na hora de descer? Mas eu não entendo isso? O trem encrencou no meio do caminho: o que aconteceu? Desceu todo mundo, acionou-se o Paesi – que é uma operação existente desde que eu estava na Prefeitura – que é uma operação de articulação para em casos de acidente os outros tipos de transportes prestar socorro. E passou a funcionar assim. Quem vinha até Jaraguá, ali desce, pega o ônibus e vai até …
Engraçado que eu não vi uma palavra de vocês a respeito do fato de que um recorde mundial aconteceu: o desastre aconteceu na madrugada de sábado e segunda-feira a linha estava recomposta e o trem estava rodando. Nenhum de vocês foi capaz de falar uma palavra a respeito disso. Nenhum jornal foi capaz de dizer isso. E isso é recorde mundial, mundial. Eu quando fui lá vocês me perguntaram: quanto tempo vai demorar para fazer isso? Eu falei: de 10 a 12 dias, na certeza que 12 dias depois e nenhum minuto a mais vocês iriam me cobrar isso. Pois em dois dias estava funcionando de novo, dois dias. Mas isso não vale nada. Não vale nada.
Para política é preciso ter paciência, assim como tem o Maluf, sabe? É preciso ter paciência, porque ele, provavelmente, teve as suas compensações. Eu como não tenho as minhas e nem quero ter, não tenho mais paciência… Não vai fazer falta, mas em compensação, vou viver muito mais tranqüilo.

Repórter: Governador, ninguém está falando que não houve investimentos. Mas o senhor acha, por exemplo, que algumas linhas, alguns trechos foram privilegiados nesses investimentos? Porque, por exemplo, esse trecho da linha Oeste, que as pessoas reclamam bastante que existem outras …

Covas: Não, eles reclamam de uma única coisa. Eles reclamam da freqüência, que não pode ser aumentada. A freqüência é de 16 minutos. É só disso que eles reclamam, todos eles reconhecem e eu não falo por ouvir de vocês. Eu vou lá no meio do povo, vocês não são capazes de entender isso. Todos vocês vivem dizendo que eu estou discutindo com o povo, eu não estou discutindo e eu estou conversando com o povo. Estou ouvindo reclamação e dando a minha resposta. Mas aqui, governador é para ficar sentadinho no gabinete e povo é para ficar lá adiante. E vocês no meio dizendo como é que devem ser as coisas.
Eu fui lá, fui lá na hora que tinha 20 mil pessoas lá em volta daquele acidente. Eu fui lá e não saí escondido. Eu saí e entrei pelo mesmo lugar: no meio do povo. E escutei…

Repórter: E eles reclamaram?

Covas: Todos eles reconheceram que melhorou e melhorou muito. Todos eles reconheceram. E olha vocês estavam com o gravador lá e ouviram todos reconhecendo que está muito melhor hoje do que estava antes. É engraçado que na minha história nunca li nada a respeito da CPTM. Olha, na CPTM morriam 200 pessoas por ano fazendo surf nos trens. Hoje não tem surfista na CPTM. Aliás, ontem tinha uma menina da Folha lá em São Bernardo que me disse que sairia uma publicidade hoje, mostrando os caras pendurados nos trens. Mas não vi isso aí não. Não vi isso aí. Porque hoje não tem ninguém em cima do trem. Hoje o trem não anda se tiver qualquer pessoa pendurada para fora. Morreram duas pessoas em três anos. Antes, morriam 200 por ano. Duzentas pessoas é quase 20 vezes o que, pela graça de Deus, limitou-se a morrer lá no desastre. Porque pelo desastre que aconteceu lá poderia morrer mais gente. Morreram nove ainda porque providências foram tomadas. Mas se alguém chegasse lá e dissesse: corre tudo do trem porque vem outro para cá despencando! E desse pânico, hoje vocês estariam perguntando: não era melhor ter avisado os usuários com cuidado, para não dar pânico? Era o que vocês estariam cobrando hoje. Mas enfim…

Repórter: Podemos mudar de assunto?

Covas: Podemos mudar, mas que seja um assunto que me mantenha o ânimo. Se não… Um assunto que me deixe bem bravo, caso contrário não vale a pena.

TRT

Repórter: Como o senhor avalia a proposta do governador Itamar Franco, de fazer uma acareação com o presidente Fernando Henrique, por causa da liberação de verbas ao TRT de São Paulo?

Covas: Uma acareação? Quem vai fazer, ele?

Repórter: Uma acareação no Congresso Nacional, para ver quem liberou o que, quanto? O governador Itamar Franco, quando foi presidente, liberou no seu último dia de mandato R$ 800 mil para o prédio …

Covas: O Itamar Franco? Que nada! Pensei que era só o EJ que fazia isso! Que, aliás, virou EJ para lembrar o PC. É de uma maldade isso, que é uma coisa impressionante. Como teve o PC inventaram o EJ. E agora ainda me botaram no negócio. Ainda teve uma revista safada, que se chama Isto É, que botou lá na capa “as safadezas do EJ atingem Covas”. Atingem em que? Não vale a pena mais não. Se eu nascer de novo e se vier a ser governador numa outra vida, vou ser um governador completamente diferente do que sou hoje. Completamente diferente.

Repórter: Como o senhor vai ser?

Covas: Não vou dizer a vocês como, porque é outra vida! Eu espero que vocês não estejam presentes, que sejam outros jornalistas. Mas eu vou ser completamente diferente. Não vale a pena ser desse jeito, não vale.

Repórter: O senhor acha que o Governo é mal interpretado pela imprensa?

Covas: Eu não acho nada, nem quero dizer nada. Outro dia saiu um artigo ou um editorial assim: “Covas diz que é perseguido”. Não sou perseguido por ninguém, até porque eu troco chumbo. Vocês podem falar o que quiser e eu também posso falar o que quiser. Então não tem importância, como eu não tenho o rabo preso, falo o que eu tenho que falar.

Repórter: O que o senhor achou da Fiesp não ter apoiado o manifesto pró Fernando Henrique, já que são empresários paulistas?

Covas: Bom, porque são empresários paulistas deveriam aprovar o presidente? Bem, isso é um problema de foro íntimo. Cada um assina como acha. Se houvesse um manifesto a respeito da idoneidade do presidente Fernando Henrique, eu assinaria com a maior facilidade. E acho que vocês que estão aqui também assinariam, todos vocês assinariam.

Reforma tributária

Repórter: É por conta da reforma tributária?

Covas: Ah, pode ser. Isso pode ser. A reforma tributária que o Everardo mandou para o Congresso é um desastre, quer dizer para São Paulo é um desastre. Eu estou falando isso e sei que os efeitos não vão ocorrer no meu Governo, vão ocorrer depois.

Repórter: Mas o Governo não vai tentar barrar, enfim, fazer alguma coisa para contra essa proposta?

Covas: Eu? Tem o que se possa fazer. Eu me manifestei muito a favor da reforma tributária e, sobretudo, com base no que estava originalmente no Congresso Nacional (daquilo que tinha sido aprovado). Mas tudo aquilo foi sendo mudado com o passar do tempo. E tudo que foi mudado pega São Paulo de uma maneira horrorosa. Sabe, vocês já ouviram falar em guerra fiscal? Sabe quem vai pagar a dívida que os caras criaram, fazendo uma coisa que é proibida por lei? É São Paulo. Quem iria pagar, já era erroneamente, um fundinho. O fundinho era constituído assim: cada Estado bota o saldo líquido das suas exportações menos as suas importações internas. Ou seja, o que ele vende para os outros Estados, pelo qual se credita de ICMS, e o que ele recebe dos outros Estados, pelo qual ele se debita de ICMS. Iria por neste fundo a diferença disso. E depois esse fundo iria pagar, durante 15 anos, o que esses Estados que fizeram a guerra fiscal prometeram para as empresas. Não era o Estado que iria pagar. Agora mudaram, não é mais fundinho é um fundão. O que significa fundão? Não é mais o saldo, o que vai pagar agora é o total das exportações. Ou seja, praticamente quem vai pagar toda essa dívida é São Paulo, que é o grande Estado exportador. Isso nos tira R$ 800 milhões por mês. A mudança da origem para o destino nos tira R$ 1,8 bilhão. Garantiram por 15 anos às empresas que receberam favor fiscal. Isso significa que você vai ter um grupo de empresas no Brasil favorecidas fiscalmente e que nunca vão poder ter concorrência de outra favorecida. Sim, porque daqui para frente não pode fazer mais. Então você vai ter empresas que vão quebrar outras, porque elas não pagam impostos e as demais pagam. E estão garantidas agora, constitucionalmente, se isso passar. Esse é o preço para provar a única coisa que o empresariado queria. O que mais o empresariado queria era que acabassem os impostos cumulativos – impostos que se cobra em cascata – como é CPMF, PIS, Cofins etc. Sabe o que diz a proposta? Que durante três anos fica garantida a situação atual, ou seja, ao invés de acabar, garantiu-se a continuação. E depois de três anos, pode ser mudado por uma lei complementar. Se vai ser mudado ou não, ninguém sabe.

Repórter: O senhor não acha que essa proposta então foi feita para não ser aprovada? Ela vai ser discutida no Congresso, com tudo isso …

Covas: Não, não, não. Eu não tenho tanta certeza de que ela não vai ser aprovada, não. Acho até que está mais fácil aprovar hoje do que como ela estava no começo.

Repórter: Por que ela pune tanto São Paulo?

Covas: O porquê eu já lhe dei a resposta. O Governo Federal inventou até uma nome novo: “intervenção no domínio econômico”, quer dizer, imposto de outra coisa. No começo, o ITR vinha para os Estados, agora o ITR fica na União e ele pode criar um imposto adicional.

Repórter: O senhor acha que o Everardo Maciel tem alguma coisa contra o Estado, governador?

Covas: Não, eu acho que ele tem alguma coisa a favor das idéias dele. Todo mês aumenta a receita, aumenta o imposto, aumenta a receita. Eu quero ver aumentar a receita, diminuindo o imposto – é o que aconteceu aqui em São Paulo. Agora, é muito duro você passar dois anos consertando essa desgraça, pagar R$ 250 milhões por mês para amortizar uma dívida e, ainda assim, fazerem isso. Mas enfim, quem vai pagar por isso é quem vier depois. Como eu não estarei mais aqui …

Repórter: Governador, o senhor chegou a falar tudo isso que o senhor está pensando como o presidente Fernando Henrique?

Covas: Eu estou com uma carta pronta para entregá-lo.

Repórter: Eu estou falando sério, governador …

Covas: Alguma vez eu falei alguma coisa para vocês que não fosse sério.

Repórter: Qual o teor dessa carta, governador?

Covas: Eu preparei uma carta para o presidente, vou dizer para vocês o que tem nela? Ou vocês querem que eu faça que nem o juiz fez, manda para o Ministério Público e o Ministério, como tem um jornalista muito ligado, publica primeiro e a gente, que está envolvido no processo, só sabe porque ele publicou.

Repórter: Fala mais um pouquinho da carta?

Covas: A carta é uma análise da área técnica. É uma coisa absolutamente séria. A análise que estamos fazendo aqui é absolutamente imparcial sobre as conseqüências da reforma, tal qual ela foi mandada agora. E olha, houve um instante que o único governador de Estado que defendia a reforma tributária era eu. Ainda defendo, nos termos que ela foi posta originalmente.

Repórter: É um protesto esta carta, governador?

Covas: Não, não. Não pretendo que seja um protesto. Pretendo que ela seja um esclarecimento.

Repórter: Quando ela vai ser enviada?

Covas: Eu sei lá quando ela vai ser enviada, quanto paga de selo. Nada disso eu sei. Se puder até não vou enviar, vou pedir para alguém levar lá.

Repórter: O senhor não vai conversar pessoalmente com o presidente?

Covas: Eu já conversei, vocês que não perceberam. Vocês engoliram bola, não viram. Ainda publicaram e me deixaram mal lá com o Antônio Carlos Magalhães, ele saiu batendo em mim, porque vocês publicaram que tinha acontecido uma coisa que não ocorreu.

Rodoanel

Repórter: Mudando um pouco de assunto, existe a possibilidade da iniciativa privada participar da finalização do Rodoanel nos outros trechos?

Covas: É possível. Não há estudo … Nós estamos preocupados em terminar esse trecho. Queremos terminá-lo ou, pelo menos … o prazo para esse trecho é julho ou setembro de 2001. A gente espera, se tudo ocorrer como a gente espera, ter esse trecho pronto. Esse trecho junta cinco grandes estradas de São Paulo e grande parte do movimento que tem aqui chega pela Anhanguera e pela Bandeirantes.

Repórter: Como seria a participação da iniciativa privada?

Covas: Não, isso não está pensado não. Mas se for preciso dinheiro para fazer a outra parte, não vejo nenhum inconveniente em fazer por meio da iniciativa privada. Essa obra é muito cara, são R$ 3 bilhões, isso equivale a arrecadação de dois meses do Estado de São Paulo. É para você não gastar um tostão em mais nada e botar todo dinheiro arrecadado para fazer a obra. Não é brinquedo isso.

TRT

Repórter: O novo presidente do TRT, que foi eleito ontem, disse que vai dar continuidade às obras do Fórum Trabalhista. O que o senhor acha disso?

Covas: Não acho nada, não é meu problema. Se vocês quiserem saber de São Paulo, vão ver o Fórum Criminal, que eu inaugurei metade e o resto vai ser inaugurado em setembro. Ali é uma obra do Estado, essa aí eu não sei.

Repórter: O senhor acha que uma obra com tantas denúncias deveria ter continuidade?

Covas: Escuta, o que se faz com uma obra quando ela está no meio do caminho? Quanta obra eu peguei no meio do caminho e fui negociar o contrato a redução do contrato! Você não pode deixar as coisas apodrecerem. Eu não sei em que pé está aquilo, não sei quanto… O problema não é continuar a obra, o problema é por na cadeia quem roubou. Esse é o problema básico e tentar recuperar, se não a totalidade, ao menos uma parte do dinheiro. Daí para frente, com seriedade, tem que se tocar o resto. Não dá para deixar uma coisa pendurada na brocha. A obra não carrega a marca do que foi feito errado nela. Agora, quem fez de errado tem que responder pelo que fez.

Repórter: A avaliação é que a continuidade da obra consuma mais R$ 40 milhões.

Covas: Não sei. Eu nem me interessei em saber, não estou a par. É a Justiça Trabalhista, Federal. Nós fazemos as obras aqui, a pedido do Tribunal de Justiça Estadual, essa nós fazemos. Estamos fazendo lá o Fórum Criminal, inauguramos a metade e agora em setembro deve ser inaugurado a outra metade. Todas as Varas vão para lá, o Tribunal de Juri, vai tudo para lá. Metade já está funcionando.

CPTM

Repórter: Às duas o senhor vai ter um reunião com quem? Com o pessoal da CPTM?

Covas: Eu não sei se esta informação esta disponível. Eu quero esses números, tim, tim por tim, tim. Quero saber quanto nós fizemos de investimentos em cada coisa e agora, quero confirmar a sua informação de que falta R$1 bilhão de investimentos. O Governo não tem só a CPTM para tratar, mas se eu tivesse que tratar custo benefício, a coisa que mais me empolga, é exatamente o trem de subúrbio, porque pega o povo mais pobre. Por isso, não tem nenhuma outra atividade do Estado que tenha tido tanto investimento quanto a CPTM.

Repórter: A reunião vai ser no Palácio, governador?

Covas: Não, senhora. Vai ser em lugar incerto e ignorado para vocês não saberem.

Verbas do Governo Estadual

Repórter: Vai ser em Lins?

Covas: É isso aí, vai ser em Lins, que é sede do PT, que recebeu R$ 5 por habitante contra R$ 5 mil por habitante que recebeu uma cidade do PSDB. E botaram três caras para fazer essa notícias, babaridade! A notícia está assinada por três pessoas: “o governador deu R$ 5 por habitante numa cidade administrada pelo PT e deu R$ 5 mil para uma cidade administrada pelo PSDB” Aí verificaram que tinham feito conta de dividir errado. Três caras, hein! Mas está lá, uma baita de uma reportagem. E durante uma semana levaram para conferir as contas. Aí quando conferiram, publicaram um ‘desmentidozinho’, mas quem leu aquilo está achando até hoje que foi assim.
Eu tenho uma declaração do prefeito de Franca, que é do PT, e num jornal de Franca – dizendo que para ele nunca houve nenhuma discriminação. Não sei se foi a que mais recebeu verba per capita, não sei se foi mais do que Santo André, do que Mauá, do que Ribeirão Pires – cidade da qual gosto bastante da prefeita. Acho ela uma boa prefeita e é do PT. Acho também uma boa prefeita a de Lins, e é do PT. A única coisa que eu não posso ser acusado é disso: discriminação. Tratei todos os prefeitos de forma igual.

CPTM

Repórter: Vai ser duas horas a reunião então. É lá no Palácio?

Covas: Seja onde for está proibida a entrada da imprensa, seja onde for. Com a imprensa eu já conversei, já sei a opinião de vocês. Para que vocês precisam participar de reunião. Vocês todos já me deram opinião: “deveriam ter avisado os usuários com mais tempo, deveriam não ter feito correria, o maquinista não sabe funcionar, a empresa …” Para que vocês querem saber mais coisas, vocês já sabem tudo?

Repórter: E sobre a Comissão de Sindicância?

Covas: A Comissão de Sindicância vai trabalhar, paralelamente, vai fazer o seu trabalho e eu nem vou ouvi-la porque aí eu crio constrangimento. Se eu tiver presente e tiver uma pessoa depondo, eu crio constrangimento para essa pessoas. Então eu não vou fazer nada. Estou interessado nos dados numéricos. Estou interessado em contar para vocês quanto é que se aplicava antes e quanto é que se aplica hoje.

Repórter: Vai ser discutido o problema de atrasos e problemas técnicos que têm na linha, conforme diz a carta do senhor Oscar?

Covas: Se houver problemas técnicos a gente tenta. Aliás, se tem problemas técnicos ou nós somos idiotas completos ou a tentativa de acabar já se faz há tempo. Por que há de ter problemas técnicos e a gente não está tentando acabar? O que nós somos? O presidente da empresa é uma cara que trabalha na área desde que eu nasci. Quando se fala em ferrovia aqui não há quem não mencione o Oliver, que é um nome ligado a ferrovia. Ele é o presidente da área. O secretário é uma das melhores cabeças que eu conheço. O Cláudio é de uma criatividade enorme. Bem, trabalhou no Metrô a vida inteira. Mesmo no tempo que ele era meio hippe, contestador, ele andava de cabelo preso, sandálias, até hoje. Foi presidente do Metrô no Rio, trabalhou como diretor do Metrô aqui em São Paulo e portanto é gente que conhece a área. Portanto, analfabeto eles não são, até pelo contrário. Então se têm problemas e são sérios, a culpa é minha – que ao invés de dar dinheiro para lá, dei dinheiro para outros lugares, publicidade por exemplo. Gastei uma fortuna em publicidade, quanto foi? R$ 2 milhões e pouco? E o cara ainda foi camarada contigo (fala ao secretário Osvaldo Martins), só mandou pagar um terço. Acha que é para eu pagar o outro um terço e o secretário Marco Vinicio a outra parte.

Repórter: O senhor vai trocar de carreira, agora então. Vai largar a política e ser jornalista?

Covas: Não vou largar. Vou completar o meu mandato e vou completar bem. Já tenho nesses cinco anos mais do que em qualquer Governo anterior, em qualquer área que vocês queiram. Na CPTM então é disparado.

Repórter: Não dá para acreditar que o senhor vai desistir, vai largar a política?

Covas: Tá bom, tudo bem. Eu não estou pedindo para ninguém acreditar, quem não quiser acreditar não acredita. Para eu largar a política não preciso que vocês acreditem. Só é preciso que minha mulher acredite, meus filhos e meu neto acreditem e, sobretudo, que eu próprio acredite. E eu…

Repórter: O senhor acredita que vai largar?

Covas: Não eu não acredito, eu vou largar. Se vocês me deixarem vivo até lá. Qualquer hora vocês me dão um outro infarto aí. Mas se vocês me deixarem vivo até lá… Dia primeiro de janeiro de 2003, vou passar uns três meses gozando da vida… Aí eu vou fazer política sem a responsabilidade da eleição.

Repórter: Como?

Covas: Se for política do partido, quanta gente tem que milita em partido aí que não tem cargo?

Repórter: O senhor vai disputar a presidência do partido?

Covas: Eu não vou disputar nada. Nunca mais disputo nenhuma eleição, nem de clube de futebol – que aliás era meu sonho. Sonho da minha vida quando eu era… quando eu comecei minha vida era ser presidente do Santos. Depois desisti.