Entrevista coletiva do governador Mário Covas após inauguração do Banco do Povo em Itapevi

Parte I

ter, 09/05/2000 - 16h09 | Do Portal do Governo


Banco do Povo

Pergunta – Governador, o senhor parece bem orgulhoso com esse Banco do Povo.

Covas – É um projeto social que me agrada sim. Muito. Mexe muito comigo. Acho que esse é rigorosamente um projeto voltado para quem mais precisa. Isso deixa a gente satisfeito. Nós já fizemos em 40 municípios e a gente pretende chegar a 100 até o fim do ano. Eu acho que a gente está dando um avanço danado. Quando a gente visita em segunda oportunidade, em que os empréstimos já foram dados e você vê os resultados do trabalho, é muito gratificante.

Febem

Pergunta – Governador, falando em Febem, a sua declaração hoje, nos jornais, significa que o senhor está no limite com essas rebeliões, com tudo que está acontecendo. O fato de que se os menores queimarem os colchões vão ficar sem.

Covas – Acabaram de mudar para uma unidade que acabou de ser construída e que custou R$ 6 milhões. E que tem bastante comodidade. Primeiro você nunca ouviu falar mal, reclamar da comida da Febem, que é uma comida bastante boa. Aliás, em todas estas coisas nunca se falou nisso. Em segundo lugar a unidade é novinha. Dos oito módulos que tem lá, os dois últimos módulos estavam prontos, eu até resisti, quando seis dias sucessivos de rebeliões no quadrilátero obrigaram o secretário, a dois dias antes da data de entrega já levar algumas crianças para lá. No primeiro dia que chegaram já arrebentaram algumas coisas. No segundo dia da chegada arrebentaram mais coisas. Está bem, se preferem arrebentado vai ficar arrebentado. Eu não quero que fique arrebentado, entreguei direitinho. Agora, parece que sempre é o estado que oprime as crianças, muito bem, vamos deixar a operação e daqui a um mês vamos ver como está aquilo. Certamente não foi feito por quem trabalha na Febem, certamente não foi feito pela polícia. Portanto, vamos ver daqui um mês como é que ficam aquelas instalações. Eu não tomo atitudes com o meu dinheiro, eu tomo atitudes com o dinheiro do povo. Nós estamos gastando em instalações da Febem este ano R$ 87 milhões, para ampliar novas instalações. Não dá para você começar uma instalação e no dia seguinte estar tudo arrebentado, não dá. O problema é ainda estar pagando isto.

Pergunta: O senhor acredita que eles quebrando e o Estado indo lá botando tudo novo, eles fazem rebelião, isto vai virar um círculo vicioso, e já virou?

Covas: Isto é um círculo vicioso hoje. No quadrilátero durante seis dias sucessivos fizeram rebelião. E fizeram rebelião, diz o padre Lancellotti que é figura muito creditada na área, que fizeram por conta do fato de que a Justiça tomou uma decisão numa liminar. Quer dizer, então a Justiça me determina que mantenha os adolescentes em regime de privação de liberdade, e em seguida estes adolescentes fazem rebelião, adolescentes que estão em regime de privação de liberdade, porque a Justiça determinou por sua vontade que uma liminar fosse cumprida. E, o padre todo santo dia diz nos jornais que isto acontece por causa da liminar. Ou seja, quem está condenado a perda, a privação de sua liberdade está por outro lado fazendo uma rebelião por conta de uma decisão que a Justiça tomou. Isso é dito pelo padre e cada vez que sai no jornal tem uma nova rebelião, por conta de eventualidade de serem transferidos para todas estas unidades novas.
A penitenciária de Parelheiros serve como desculpa para isso, não é só para os meninos, serve como desculpa para uma porção de gente. Pois bem, a penitenciária de Parelheiros, era bom que quem critica fosse ver. Ela tem quarto de seis ou oito adolescentes, todos com banheiro próprio, tem a prateleira para cada um deles diante de cada cama, tem duas piscinas, porque são dois módulos, tem dois campos de futebol, tem uma quadra poliesportiva, aliás duas (inaudível) para separar os dois blocos, tem lugar para criação de animais, tem lugar para plantio, tem sala para todos os tipos de atividades pedagógicas de trabalho. Bem, por que não serve, porque chamou penitenciária um dia? Isto desqualifica? Imediatamente algumas pessoas estão dizendo, não isso desqualifica.
Como é que eu privo a criança de liberdade, o adolescente, que a Justiça me mandou privar. Não fui eu que decidi. A Justiça me determinou, o senhor faça o favor de privar a liberdade dessa criança, como é que eu faço? Você conhece alguém que fique em privação de liberdade sem ter limitação na sua entrada e saída, sem ter portas trancadas? Eu não conheço.

Presidente da Febem

Pergunta: Como fica a direção da Febem, o presidente Benedito Duarte teria colocado seu cargo a disposição?

Covas: Não sei. Se colocou não vou aceitar.

Pergunta: Ele responde na Justiça por um processo…

Covas: Grande coisa, a alguma lei que proíba que ele seja.

Pergunta: O senhor acha que isso não implica em nada e ele continua na Febem?

Covas: Não sei tem uma porção de gente que implica na Justiça. É engraçado, o Maluf está aí na rua, não vejo ninguém reclamar disso. Pitta está aí na rua, e não vejo ninguém reclamar disso. Agora um cara que era diretor de um banco, do qual ele não era nem acionista, nem proprietário, de repente o banco entrou sob processo de intervenção, quando isso acontece todo mundo que era diretor fica com os bens indisponíveis. Ele era diretor de recursos humanos, ou seja, tratava de funcionalismo. Está com os bens indisponíveis, talvez eu nem sabia. Mas, não é por isso não. Se eu soubesse não faria a menor diferença para mim, não é o único cara na minha administração que está com os bens indisponíveis. Isso é para compensar o Maluf que não tem, é para compensar o Pitta que não tem. É para compensar o Quércia que não tem. Todo este povo está aí solto, e você vem me falar em alguém que está com os bens indisponíveis, nem julgado foi ainda, mas que não devia ser presidente da Febem? Olha se eu soubesse, aí é que ele ia ser.
Que mania que a gente tem de desqualificar as pessoas, vocês deviam ter vivido na ditadura. Porque agora é assim, você aponta um dedo para um cara e aquele cara precisa ser execrado. Isso se fazia no tempo dos militares, não é agora. É incrível isso, vocês chegam para a gente querendo o fígado do cara.
Olha eu já vivi este tempo, vocês são todas muito mocinhas e é bom que continuem assim, para ver o que era essa época. Nem se transmite isso em livro, nem isso dá para fazer, só vivendo. Só você entrando numa cadeia, ou melhor num quartel, onde eu fiquei preso e vendo meninos lá endoidarem. Por quê? Porque eram estudantes, faziam o que todo estudante faz. Naquele tempo tinha uma tal de lei de segurança, tinha uma série de coisas que já deviam estar aposentadas.
Agora, de repente nós voltamos a fazer este tipo de conduta, a achar que qualquer coisa apontasse o dedo. O fulano está com os bens bloqueados, você acha que isso já não é coisa suficiente para quem não teve culpa provada? Não, mas ele não pode trabalhar. Não pode trabalhar.
É um bom presidente, é até um presidente tranquilão. É um presidente que tem um enorme apreço, um enorme carinho com todos os adolescentes. E vai continuar lá, não tem nenhuma razão para sair de lá.
Eu vejo tanta gente, mas tanta gente, situadas em boas posições e que todo mundo sabe dos defeitos que tem. Agora, alguém porque foi diretor de um banco, diretor da área de recursos humanos, que não tem nenhuma ingerência nos negócios do banco. Quando você faz intervenção e liquida o banco, você deixa os bens indisponíveis de todos os diretores, inclusive o dele. Bom, essa cara tem que ser condenado a morrer de fome, não pode trabalhar mais. Se ele ainda tivesse roubado lá, tudo bem, ainda dava para quebrar o galho. Mas, não roubou. Eu nem sabia disso, aliás como as pessoas me conhecem nem acharam necessário me contar isso. Se me contassem eu era capaz de dar uma bronca em quem contou.