Ensino médio púbico voltará a ter aulas de Sociologia

Docentes de Ciências Sociais terão jornada mínima de 20 horas semanais

qua, 23/04/2008 - 9h45 | Do Portal do Governo

A partir do ano que vem, Sociologia voltará a fazer parte da grade curricular da rede estadual de ensino. Alunos do ensino médio passarão a ter duas aulas semanais da disciplina, conforme carta de compromisso assinada entre o governo do Estado e o Sindicato dos Sociólogos do Estado de São Paulo. A notícia foi recebida com satisfação pelas entidades representativas, tanto dos sociólogos como dos professores da rede pública, que há alguns anos lutam pela reintrodução da disciplina no currículo.

Os professores de Ciências Sociais terão jornada mínima de 20 horas por semana, o que garantirá que pelo menos uma das três séries do ensino médio público tenha aulas da disciplina. Para auxiliar na adoção da medida, a secretaria criará um setor exclusivo na Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas (Cenp). Atualmente, apenas estabelecimentos municipais de ensino médio, escolas técnicas e algumas instituições privadas mantêm o ensino de Sociologia no currículo.

A vice-presidente da Sociedade Brasileira de Sociologia, professora Heloísa Martins, destaca a importância da disciplina na formação escolar do jovem e acredita que não deveria ter deixado de fazer parte do currículo. “O estudo da Sociologia se propõe a fornecer elementos para a pessoa conhecer a sociedade, situar-se nela e compreender que os problemas sociais e econômicos não a comprometem individualmente, mas de forma coletiva”. 

Formação do aluno – O presidente do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), Carlos Ramiro de Castro, lembra que nos últimos anos tem-se observado um processo de redução do número de disciplinas, com a eliminação, sobretudo, daquelas pertencentes à área de ciências humanas, como Psicologia, Sociologia, Filosofia e até mesmo História e Geografia. “O resultado foi uma alta concentração de aulas de Matemática e Língua Portuguesa, mais ou menos como se aprender a ler, a escrever e a fazer as quatro operações fosse o bastante”. Castro considera imprescindível o estudo de disciplinas como Sociologia e Filosofia para a formação integral de jovens e crianças, porque permite desenvolver suas capacidades intelectuais, orientando-os para o futuro profissional e o exercício da cidadania.

Heloísa concorda, ao afirmar que o ensino de Ciências Sociais ajuda o jovem a se reconhecer como parte da sociedade e cita como exemplos o desemprego e a falta de perspectivas, que fazem parte da realidade da maioria dos jovens brasileiros. “A Sociologia tem o papel de fazer compreender, nesse caso, o que significa para o indivíduo estar desempregado, e que esta não é uma questão individual, mas social”.

A redução gradual de aulas de Sociologia no Estado levou a professora Fátima Aparecida de Carvalho a se transferir para Campo Grande (MS). Depois de 11 anos lecionando na rede estadual de São Paulo, viu-se, de repente, com poucas aulas, trabalhando como professora eventual, lecionando também Filosofia e História. Decidiu, então, em dezembro de 2007, mudar-se para Mato Grosso do Sul, onde a disciplina é obrigatória e, por isso mesmo, a procura por professores habilitados é maior. “Como sempre optei por trabalhar com Sociologia, e minha proposta é com a educação pública, encontrei aqui um cenário muito favorável, com ambiente de discussão extremamente próspero sobre currículo, metodologia e matriz curricular, além da questão de formação do professor, porque aqui a universidade federal oferece o bacharelado em Ciências Sociais, mas não a licenciatura”. 

Interação – É por esse motivo que o professor de Metodologia do Ensino de Ciências Sociais da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), Amaury Moraes, espera que a assinatura do compromisso influa positivamente na formação dos futuros professores da disciplina, que, a partir de 2009, poderão cumprir suas horas destinadas à prática em qualquer escola estadual. “Atualmente, tem sido muito difícil fazer o estágio, porque pouquíssimas instituições oferecem a disciplina”. Recorda que, entre as escolas particulares, é raro encontrar alguma que tenha Sociologia, sendo a Filosofia um pouco mais freqüente, em especial nas instituições católicas.

Moraes acredita que a Sociologia preenche uma lacuna no aprendizado do aluno do ensino médio, quanto ao entendimento de questões que fazem parte do seu cotidiano. “A escolha da metodologia de ensino pode favorecer muito, como uso de filmes, referências literárias, leitura de jornais, recursos que, em associação com temas do interesse deles, podem aproximá-los do questionamento e da informação”. O professor vai além na defesa do ensino de Sociologia nas escolas ao afirmar que, em associação com as demais disciplinas, pode auxiliar no desenvolvimento da chamada competência lingüística – capacidade de usar conscientemente as diversas estruturas do idioma.

Fátima também aposta no dinamismo das aulas como forma de promover a interação entre o jovem e a Sociologia. “O aluno vem de um universo concreto, onde tudo é objetivo, observável, mensurável, então o seu dia-a-dia deve servir de referência para o entendimento da teoria sociológica – é a prática cotidiana exemplificando a teoria”, declara a professora, que trabalha como técnica pedagógica de Sociologia na Coordenadoria da Educação Básica e Profissionalizante, da Secretaria da Educação de Mato Grosso do Sul. 

Demanda – Quanto ao aumento da demanda a partir do próximo ano, todos acreditam que haja docentes habilitados em quantidade suficiente. “Há professores efetivos de Sociologia nas escolas estaduais desde 1994 aproximadamente. O que ocorre é que muitos acabaram ficando sem função, em geral, a serviço das delegacias de ensino”, afirma Heloísa. Segundo Fátima, além de professores de Sociologia, há aqueles com complementação ou especialização na disciplina, que também podem assumir as aulas até que haja uma acomodação da demanda. “Na opinião de Moraes, falta, talvez, incentivo para os profissionais assumirem aulas na rede pública, já que muitos trabalham em instituições particulares”. De acordo com dados da Secretaria da Educação, a pasta conta com 119 professores efetivos de Ciências Sociais e estuda a abertura de concurso público, caso haja necessidade, para o próximo ano. 

Roseane Barreiros

Da Agência Imprensa Oficial