Engenharia: Software desenvolvido na Poli simula movimentos navais

Objetivo é reduzir riscos de navios que realizam manobras em águas rasas e restritas

qui, 18/01/2007 - 22h00 | Do Portal do Governo

Para facilitar os trabalhos – e reduzir riscos – de navios que realizam manobras em águas rasas e restritas, pesquisadores do Departamento de Engenharia Naval da Escola Politécnica (Poli) da USP desenvolveram um software que simula, através de cálculos, os impactos de cada movimento planejado para ser executado pelo navio.

Analisando dentro de um plano, o simulador verifica impactos do movimento do navio em três variantes: avanço (movimentos para a frente e para trás), deriva (para os lados) e guinada (quando o navio gira em seu próprio eixo).

  “O objetivo maior do programa é a resolução de problemas”, explica o professor Jessé de Rebello de Souza Júnior, um dos coordenadores do estudo. Ele aponta que esses problemas, no caso da engenharia naval, podem se traduzir em diversas fontes: verificar se um barco grande pode ou não entrar em um determinado cais, se um porto pode receber navios com maré alta, se é necessário que o porto passe por reformas para que mais navios transitem por ele, e outras situações.

Operacionalização

O professor enfatiza que o software não é semelhante a outros simuladores utilizados especificamente para treinamento e aprendizado de comandantes de embarcações – quando o ambiente marinho é reproduzido, com simulação de sons, vibrações, elementos visuais e outros.

  No caso do programa desenvolvido pela Poli – que não tem um nome oficial, por “não se tratar de um produto comercial”, como explica Souza Júnior – a utilização não é feita no ambiente real dos navios, e sim pelos pesquisadores da Universidade, numa espécie de consultoria. “Somos procurados pelos clientes que têm determinado problema. Avaliamos todos os componentes da situação e com isso utilizamos o programa, para obter as respostas para a dúvida inicial”, afirma o professor.

  Por “todos os componentes”, Souza Júnior refere-se a uma lista ampla. O programa não estuda apenas o tamanho do navio e sua capacidade de desenvolver as manobras. São avaliadas inúmeras variáveis, como marés, ventos, dimensões do navio e até questões mais ligadas a caráter econômico. “O cliente pode querer saber se ele pode receber navios grandes com um ou dois rebocadores, por exemplo. Será que ele precisa ‘rejeitar’ um navio durante a maré agitada ou ele pode fazê-lo utilizando mais rebocadores do que o habitual? É esse tipo de questão que procuramos responder”, explica.

  Souza Júnior destaca que o trabalho com navios é um processo delicado e que envolve, em geral, custos demasiadamente altos. E é nesse ponto que o software atua, na prevenção de danos e na definição de um planejamento antecipado.

Histórico

O interesse do professor pela área nasceu em 1989, na época em que ele cursava o mestrado na Poli. Sua dissertação foi um estudo sobre uma situação vivida no terminal naval de Alemoa, na cidade de Santos (SP). No local, para evitar acidentes, só era permitido o atracamento de navios quando a maré estivesse em seu nível máximo – no “estofo da maré”, no termo usado.

  A medida garantia a segurança, mas trazia prejuízos econômicos ao terminal. Afinal, operar só quando a maré está cheia implica numa grande ociosidade na maior parte do tempo. O professor, então, desenvolveu uma série de cálculos sobre as correntes marinhas ali e verificou que a Alemoa poderia receber um acréscimo de 30% na quantidade de navios.

  “Aquele estudo foi o embrião do programa que desenvolvemos hoje”, explica o professor.

  Desafios

Uma das maiores aplicações do software ocorreu em 2004. A Poli foi procurada pela mineradora Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), que queria estudar a possibilidade de utilizar no porto de Vitória (ES) cargueiros maiores do que os navios que habitualmente trafegavam pelo local. Através de estudo detalhado das variantes e de cálculos desenvolvidos pelo software, os pesquisadores da Poli concluíram que seria possível que o grande cargueiro entrasse no porto.

  Souza Júnior não sabe dizer se o software é único no mundo; mas acredita que, com as características do atual projeto, não há programas similares no Brasil. Além dele, atuam diretamente no programa o professor Hélio Morishita e o pesquisador Eduardo Tannuri.

Olavo Soares

Da USP Online