Empresas juniores da Unicamp incubam líderes empreendedores

Empresas da Universidade abrigam alunos que apostam na inovação e assumem posição de liderança nacional no setor

qua, 30/05/2007 - 9h04 | Do Portal do Governo

O Grupo de Estudos e Projetos em Engenharia de Alimentos (Gepea), primeira empresa júnior da Unicamp, surgiu em 1990. De lá para cá, outras 17 se instalaram no campus. Mais que desenvolver fornadas de projetos inovadores e preparar estudantes para o mercado de trabalho, essa massa de empresas, conhecidas pela sigla de EJs, forjou uma geração de empreendedores que, de uns anos para cá, assumiu a liderança do Movimento de Empresas Juniores (MEJ) no país.

Duas das entidades mais representativas do setor, a Confederação Brasileira de Empresas Juniores (Brasil Júnior) e a Federação das Empresas Juniores de São Paulo (Fejesp), vêm sendo sucessivamente comandadas por alunos da Unicamp. Juntas, contam com cerca de 140 federadas. O MEJ movimentou, em 2005, cerca de R$ 4,5 milhões.

“Não resta dúvida de que uma parcela significativa do ideário que sustenta hoje o MEJ nasceu na Unicamp. Sem a contribuição de seus alunos, o movimento estaria certamente num patamar inferior”, observa Daniel Junqueira, que preside a Fejesp e o Conselho da Brasil Júnior. Das seis empresas fundadoras da Fejesp, duas são da Unicamp. “Minha visão pode estar contaminada, e é complicado falar do protagonismo da Unicamp em detrimento de outras instituições, mas é inegável sua importância nos novos rumos do MEJ no país”.

O peso da Universidade pode ser mensurado por outros indicadores. As EJS da Unicamp são responsáveis por cerca de 45% do faturamento das 30 empresas da federação estadual, calcula Junqueira, que ingressou em 2004 no curso de Mecatrônica. No mesmo ano, o estudante deu os primeiros passos no empreendedorismo no departamento de projetos da Mecatron, empresa júnior da unidade, para chegar em seguida à presidência do Conselho Deliberativo da Fejesp. Atualmente, ocupa o cargo de presidente executivo da Federação.

A receita das EJs vem de clientes – de microempresas a multinacionais. Os projetos desenvolvidos pelos alunos, em sua maioria supervisionados por docentes, trazem a chancela das pesquisas desenvolvidas nas unidades da Unicamp. Angariam reconhecimento nos mais importantes certames do setor.

No ano passado, por exemplo, projetos nascidos nas EJs da Unicamp conquistaram quatro das cinco categorias do Prêmio de Qualidade Fejesp, considerado o “Oscar” do gênero. Os projetos foram analisados por uma banca de jurados independentes, todos profissionais experientes nas respectivas áreas.

Ambiente – “Tudo isso tem a ver com a estrutura voltada para a inovação oferecida pela Unicamp. Trata-se de uma universidade mais jovem e empreendedora. Não é à toa que a Agência de Inovação Inova Unicamp passou a ser referência no Brasil”, avalia Junqueira.

Na opinião do presidente da Fejesp, a proximidade das unidades e o perfil multidisciplinar dos cursos favorecem a troca de idéias entre representantes das várias instâncias da Universidade, inclusive a institucional. “Colegas de outras escolas ficam surpresos quando digo que, na Unicamp, você conversa com o reitor em eventos, além de conseguir agendar uma reunião caso seja necessário”.

A opinião de Junqueira é corroborada por Danilo Herrero Macedo, diretor administrativo do Núcleo das Empresas Juniores da Unicamp. Para o estudante, membro da empresa júnior Mecatron, a Unicamp oferece todo o suporte e o ambiente necessários para o desenvolvimento da educação empresarial, do empreendedorismo e da geração de novos negócios, três das principais missões do MEJ.

“A qualidade acadêmica faz da Unicamp um celeiro diferenciado. Inovação e empreendedorismo andam juntos. Prova disso é o grande número de ‘empresas filhas’, muitas das quais comandadas por ex-membros de EJs da Universidade. A maioria delas tem ‘sacadas’ inovadoras, aplicando, no mercado, tecnologia gerada na Universidade”, observa Herrero, aluno do curso de Engenharia Mecatrônica, onde ingressou em 2006.

“Vi uma grande oportunidade de aprendizado, sobretudo na área de gestão comercial e empresarial, ao entrar no movimento”, revela o estudante, que assumiu em 2006 o cargo diretivo no Núcleo, além de ser o coordenador geral do “i – inovação e tecnologia”, evento que ocorre de 28 de maio a 1 de junho na Unicamp.

Pólo – Na opinião do empresário júnior, o evento sintetiza a posição de liderança da Unicamp. “Além de trazer o que de mais inovador temos no mundo, ele vai mostrar porque a região é o maior pólo tecnológico do país e refletirá, nesse contexto, o papel da Universidade, que não por acaso é líder nacional em número de patentes”.

Pelas contas de Herrero, cerca de 600 alunos da Unicamp estão envolvidos diretamente no MEJ. A adesão e um maior envolvimento de pessoas com o movimento, segundo ele, tendem a aumentar graças à oficialização do Núcleo. Fundado em 1993 e faturando mais de R$ 600 mil anuais, o centro carecia de formalização legal.

No ano passado, o órgão foi legalizado e ganhou uma sede, cedida pela Reitoria, no Ciclo Básico. “Sem o apoio institucional, não conseguiríamos trabalhar”, reconhece o dirigente. A próxima meta, revela Herrero, é consolidar a estrutura gerencial do Núcleo a partir da centralização de trabalhos e da criação de um ambiente desenvolvedor. “Queremos que os alunos não façam parte apenas de suas respectivas EJs, mas que também interajam com o Núcleo”.

Herrero evita falar em números, mas a expectativa é de um grande aumento no faturamento das 18 EJs, em trabalho escorado na estruturação e no planejamento estratégico que ele e seus colegas pretendem desenvolver na atual gestão. “Juntas, as EJs têm um potencial incrível. O alinhamento otimizará a geração de projetos, empregos e, conseqüentemente, causará mais impacto no mercado”.

Tradição – Na opinião do reitor da Unicamp, José Tadeu Jorge, a força do empreendedorismo da Unicamp tem raízes históricas, que remetem à criação da Universidade. Tadeu lembra que Zeferino Vaz, fundador e reitor por doze anos, não ignorou o fato de que, com a industrialização, havia no Brasil, a partir da década de 50, uma nova demanda pela formação de pessoal qualificado na área da pesquisa científica e tecnológica.

Emergiu, a partir da criação da Unicamp, segundo o reitor, uma categoria vinculada com o setor de produção de bens e serviços. “Até então, o ensino superior tinha-se ocupado de formar majoritariamente profissionais liberais solicitados pelo processo de urbanização”.

Ademais, lembra Tadeu, muitos dos cursos tecnológicos, sobretudo nas engenharias, foram desenhados a partir de sugestões feitas por empresários da região em reuniões promovidas por Zeferino. Não raro, os executivos opinavam sobre os currículos, apontando as áreas emergentes. A região de Campinas já era, à época, o principal pólo econômico e industrial do interior paulista.

Três outros fatores contribuíram para este quadro: política agressiva de captação de recursos para a pesquisa, o fortalecimento das agências nacionais de fomento e a arregimentação, por Zeferino, de centenas de cientistas renomados. “Desde os seus primórdios a Unicamp se firmou como um centro emergente de investigação científica e tecnológica”. Estava consolidada, segundo Tadeu, a base do empreendedorismo e, mais recentemente, da inovação. A ênfase na pós-graduação, prossegue o reitor, daria contornos definitivos às diretrizes.

Na opinião de Tadeu, as raízes da cultura do empreendedorismo e da inovação foram plantadas, em muitos casos, nos processos de aprendizagem e na atividade extracurricular dos alunos de graduação. “Enquanto os estudantes mais afeitos à pesquisa são atraídos para o programa de iniciação científica que a universidade mantém, com um investimento de aproximadamente R$ 20 milhões anuais em assistência estudantil, os jovens vocacionados para o empreendedorismo integram-se à malha de empresas juniores existente na instituição”.

Foram justamente essas condições que atraíram Aleandro Ricardo Oliveira dos Anjos, diretor de relações institucionais da Mecatron, empresa que gerencia atualmente 14 projetos nas mais diversas áreas da engenharia de controle e automação. Paraense, o aluno ingressou em 2006 no curso de Mecatrônica. Sempre teve interesse em participar do MEJ, mesmo antes de entrar na Universidade.

Aleandro encontrou, na Unicamp, as condições para levar adiante suas ambições no movimento. “Aprendi muito, em apenas um ano. Além de conhecer projetos inovadores, tive a oportunidade de dominar ferramentas administrativas e de gestão”. Na opinião de Aleandro, o estudante da Universidade tem à disposição condições de estudo e de trabalho raras de serem encontradas em outras instituições de ensino superior do país.

“A qualidade dos cursos reflete diretamente nos projetos desenvolvidos pelas EJs. É comum, por exemplo, a pesquisa nascida na iniciação científica ser adaptada para o mercado, atingindo clientes e causando impacto econômico”, observa o estudante. “A meta mais ambiciosa do MEJ é mudar a cara do Brasil. Queremos difundir valores e competências para criar um país mais justo. E isso está sintonizado com o que faz a Unicamp’.

Do Jornal da Unicamp

(R.A.)