Em dez anos, taxa de incidência de Aids em SP tem queda de 31,3%

Programa Estadual DST/Aids é referência no setor; próximo sábado (1º) marca celebração do dia mundial de combate à doença

sex, 30/11/2018 - 13h39 | Do Portal do Governo

Todos os anos, desde 1988, o Dia Mundial de Luta contra a Aids é celebrado em 1º de dezembro. A data foi instituída pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização Mundial de Saúde (OMS). Em razão da importância do tema, o Governo do Estado promove uma série de ações ligadas às políticas públicas no combate à doença.

Pioneiro nas ações de combate ao HIV no Brasil, o Programa Estadual DST/Aids de São Paulo comemorou, no mês de outubro, 35 anos de atuação com recordes históricos. Vale destacar que as conquistas incluem a ampliação do acesso a métodos preventivos e diagnósticos, além da queda na mortalidade pela doença nas últimas décadas.

“Em 1983, ano de criação do Programa Estadual, muitos profissionais não queriam trabalhar em serviços que atendiam pacientes com quadro suspeito da doença. Na época, não se conhecia o agente causador nem todas as formas de transmissão”, enfatiza Artur Kalichman, coordenador do Programa Estadual DST/Aids de São Paulo. “Abrir novos serviços era um trabalho árduo. Aos poucos, as barreiras foram vencidas e tivemos muitos avanços, em especial na prevenção e tratamento antirretroviral”, acrescenta.

Balanço

De acordo com o Balanço do Programa Estadual de DST/Aids de São Paulo, a taxa de incidência da doença em território paulista teve queda de 31,3% na última década. Em 2017, a taxa foi de 14,9 casos por 100 mil habitantes, contra 21,7 casos dez anos atrás. Em números absolutos, foram 8.763 casos em 2008, e 6.505 casos em 2017.

Além disso, a queda da taxa da mortalidade foi ainda mais expressiva (39,3%), por causa do acesso ao tratamento antirretroviral (ARV). Em 2017, o patamar chegou a 4,8 óbitos por 100 mil habitantes, com o total de 2.146 mortes, em números absolutos. Dez anos atrás, a taxa foi de 7,9 óbitos por 100 mil habitantes, com de 3.227 mortes. Ainda assim, no ano passado, seis pessoas morreram diariamente por Aids em São Paulo.

“Trabalhamos muito ao longo dos anos, em conjunto com as regionais de saúde, áreas técnicas e outros programas da Secretaria da Saúde do Estado, secretarias municipais e outras pastas de Governo, sempre acompanhados pelo ativismo da sociedade civil organizada e das pessoas vivendo com HIV/Aids”, salienta Rosa de Alencar Souza, coordenadora do Programa Estadual DST/Aids de São Paulo.

Números

De acordo com a Secretaria da Saúde, pela primeira vez na década, o número de novos casos de HIV apresenta declínio: caiu de 9.185 registros em 2016 para 8.536, no ano passado, uma redução de 8%. No sexo masculino, a taxa de detecção diminuiu de 42 para 39,1 novas infecções por 100 mil habitantes nos dois últimos anos. Entre mulheres, o índice foi de 10,1 para 8,9 infecções por 100 mil habitantes. Os dados são preliminares e estão sujeitos a alterações.

Embora as notificações de Aids estejam diminuindo nessa década, o número de casos novos notificados pelo HIV (vírus da imunodeficiência humana, causador da Aids) cresceu 3,5 vezes entre homens jovens que fazem sexo com homens em São Paulo. A cada 100 mil homens, o salto foi de 17,8 em 2008 para 39,1 em 2017. A maior concentração é entre jovens de 20 a 24 anos, com 88,3 novas infecções por 100 mil habitantes, no ano passado.

“Em todo o território paulista, estimamos em mais de 10 mil o número de profissionais de saúde que trabalham direta ou indiretamente no campo da Aids. Eles oferecem assistência aos cidadãos e trabalham na vigilância epidemiológica, além de participarem de ações de prevenção, diagnóstico precoce, pesquisa, gestão e articulação com a sociedade civil”, explica Maria Clara Gianna, coordenadora do Programa Estadual DST/ Aids de São Paulo.

Ações

Desde 1980 até o primeiro semestre de 2018, foram notificados mais de 267 mil casos de Aids em São Paulo. Somente nos últimos dez anos, foram 82.649 casos, com 27.562 óbitos. É importante frisar que, desde 1994, mais de 1,2 bilhão de preservativos masculinos e femininos foram distribuídos no Estado, em estímulo à prevenção às Infecções Sexualmente Transmitidas (ISTs).

Além disso, a partir deste ano, com a implantação da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) no Sistema Único de Saúde (SUS), o Governo do Estado passou a distribuir o medicamento e concentra o maior número de serviços com usuários cadastrados e que recebem os remédios. O índice representa 46% do total de pessoas cadastradas no País. Desde o início do ano, o Estado triplicou o número de serviços que o disponibilizam, chegando a 49.

Desde 1994, no Estado, a notificação do caso portador de infecção pelo HIV é recomendada nos serviços de saúde. Dez anos depois, os diagnósticos passaram a ser de registro obrigatório no Brasil.

Testes

O acesso às testagens para HIV, sífilis e hepatites virais cresceu desde 2008, inclusive com a realização anual de campanhas denominadas “Fique Sabendo”. A oferta de testes rápidos em serviços fixos e com ações extramuros foi ampliada. Hoje, 94% das cidades aderiram à iniciativa, contra 58% dez anos atrás. No período, foram realizados 2,3 milhões de exames.

“É importante ressaltar que estar infectado pelo HIV não significa ter Aids. Atualmente, uma pessoa com HIV que tem acesso ao teste e ao tratamento em tempo oportuno não evoluirá para a doença”, diz Artur Kalichman.

O Estado possui uma rede extensa de serviços de assistência especializada em IST/Aids e centros de testagem, além de aconselhamento, hospitais-dia e de assistência domiciliar terapêutica descentralizados, dos quais mais de 80% ficam sob responsabilidade das administrações municipais.

“Gosto muito de dizer que não é só o sexo sem camisinha que transmite HIV. A homofobia, a desigualdade social e a questão de raça e cor, além das questões de poder e gênero, também transmitem HIV”, avalia Rico Vasconcelos, médico infectologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

“Cada vez que alguém olha feio para uma mulher transexual e faz uma piada com um homossexual ou uma pessoa que vive com HIV, o cidadão está ajudando a epidemia a se perpetuar”, completa o especialista.