Toda vez que saía de sua casa, na Capital, o taxista Gandi Átila tapava o nariz com um lenço. O gesto, repetido por quase todos que passavam pela rua Antônio de Campos Machado, deixava claro o motivo: o córrego Tenente Rocha estava morto, repleto de esgoto, cheirava mal. Átila não agüentava mais e já tinha decidido mudar-se para outro imóvel quando foi surpreendido pela visita de alguns técnicos de uniforme que lhe garantiam: o desconforto estava com os dias contados. Em poucos meses, com as ações do Programa Córrego Limpo, o Tenente Rocha voltou à vida e Átila viu sua casa se valorizar como nunca.
A presença constante de garças e pássaros ao longo do leito do rio da Vila Bianca, no birro de Santana, ilustra o tamanho do sucesso da iniciativa da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo). “Agora a vida está voltando, contar com a natureza na porta de casa não tem preço”, festeja Átila, que se espantou com a velocidade com que os profissionais da companhia deram nova cara ao lugar onde vive. Em menos de um ano, mapeamento, delimitação, vistoria e ações corretivas saíram do papel, ganharam as ruas e mostraram que não é obra de ficção olhar para as águas de um rio paulistano e encontrar peixes em abundância.
Apesar da fauna pluvial não ser própria para consumo humano, sua presença dá sinais claros de que a parceria entre Secretaria Estadual de Saneamento e Energia, Sabesp e as Secretarias Municipais de Coordenação das Subprefeituras, de Infra-Estrutura Urbana e Obras e do Verde e Meio Ambiente dá prioridade ao bem-estar da população e à preservação dos recursos hídricos. A quantidade de órgãos envolvidos se traduz na grandeza dos números: nesta primeira etapa já estão em curso investimentos da ordem de R$ 200 milhões para recuperar 40 córregos – o que envolve ações em 195 quilômetros quadrados da Capital, beneficiando 2,35 milhões de pessoas.
Como definido pela Sabesp, o Programa Córrego Limpo prevê o aprimoramento dos sistemas de esgotamento sanitário no entorno dos córregos. Para isso, uma força-tarefa da companhia está executando obras de prolongamento de redes, coletores e interceptores, além de trabalhar para aumentar o número de ligações domiciliares de esgotos. Cabe ainda à empresa realizar o monitoramento e a manutenção das ligações já existentes.
A população pôde conferir o primeiro balanço do Programa Córrego Limpo no dia 14 de junho, quando os números foram apresentados pelo governador José Serra e o presidente da Sabesp, Gesner Oliveira, às margens do córrego Sapateiro, no Parque do Ibirapuera. Quatro córregos já foram totalmente recuperados: além do Tenente Rocha, aquele do taxista Gandi Átila, estão nesta lista o Carandiru/Carajás, o Horto Florestal – Ciclovia e o Charles de Gaulle. As ações iniciais beneficiaram quase 130 mil moradores ao custo de R$ 13,25 milhões.
Interligações de rede, ligações de esgoto, limpeza das margens e do leito do córrego. O trabalho é grande e sempre imprevisível. “Não é possível determinar o tempo de despoluição de um córrego porque cada um possui particularidades específicas”, observa Gilmar Massone, especialista em engenharia de saneamento básico da Sabesp.
Assim, explica ele, quanto menor a bacia hidrográfica, mais rápido é o trabalho. Para se ter uma idéia, foram necessários três meses para fazer o diagnóstico da rede da bacia hidrográfica do Mandaqui, que conta com 400 mil pessoas, três mil bocas de lobo e 300 quilômetros de linha pluvial. Agora, técnicos da Sabesp estão executando as ações corretivas e, em breve, a comunidade vai poder conferir os resultados: mais saúde, qualidade de vida e beleza natural.
Confira a seguir o balanço do programa córrego a córrego:
CARANDIRU/CARAJÁS
Região: Norte – Carandiru/Santana
Área: 8,14 quilômetros quadrados
População: 75 mil pessoas
Investimentos: R$ 9,7 milhões
Principais ações realizadas
– 3,2 mil metros de redes executadas
– 56 interligações de rede executadas
– 141 ligações de esgoto executadas
– Limpeza manual das margens e leito do córrego
– Monitoramento semanal da qualidade da água
Índice de DBO*
Setembro de 2004 193 mg/l
Junho de 2007 9 mg/l
TENENTE ROCHA
Região: Norte – Santana
Área: 3,96 quilômetros quadrados
População: 40 mil pessoas
Investimentos: R$ 3,3 milhões
Principais ações realizadas
– 15 interligações de rede executadas
– Limpeza manual das margens e leito do córrego
– Monitoramento quinzenal da qualidade da água
– Reunião com a comunidade de Vila Bianca para sensibilização e envolvimento da com o programa
Índice de DBO*
Maio de 2006 101 mg/l
Junho de 2007 20 mg/l
HORTO FLORESTAL – CICLOVIA
Região: Norte – Vila Amélia
Área: 1 quilômetro quadrado
População: 5,2 mil pessoas
Investimentos: R$ 200 mil
Principais ações realizadas
– 2 ligações coletivas executadas
– Ações de manutenção e otimização do sistema de coleta de esgotos
– Limpeza manual das margens e leito do córrego
– Monitoramento quinzenal da qualidade da água
Índice de DBO*
Outubro de 2006 167 mg/l
Junho de 2007 4 mg/l
CHARLES DE GAULLE
Região: Norte – Parque São Domingos
Área: 0,75 quilômetro quadrado
População: 8,5 mil pessoas
Investimentos: R$ 50 mil
Principais ações realizadas
– 102 ligações coletivas de esgoto executadas
– Manutenção e capinação das margens do córrego
– Início dos trabalhos de limpeza das galerias e do leito do córrego
– Instalação de 180 m2 de passeio
– Monitoramento quinzenal da qualidade da água
Índice de DBO *
Março de 2007 183 mg/l
Junho de 2007 22 mg/l
* Índice DBO – A Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) é usada para determinar a quantidade de material orgânico (ou seja, esgoto) presente na água. Quanto maior o índice, mais matéria orgânica. Valores acima de 70 mg/l servem de parâmetro para dizer que o córrego está poluído.
Manoel Schlindwein