Edusp comemora 20 anos com milésimo livro

A obra Épicos, o primeiro da Coleção Multiclássicos, será o centro das hoje na Fiesp

ter, 25/03/2008 - 12h39 | Do Portal do Governo

Um livro preciosíssimo – Épicos, o primeiro da Coleção Multiclássicos – será o centro das atenções na festa de 20 anos da Editora da Universidade de São Paulo (Edusp), realizada hoje na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

“Gostaria que o evento fosse transformado mesmo numa grande festa com foco no livro, e não nas pessoas”, diz Plínio Martins, diretor-presidente da Edusp, ao mesmo tempo em que explica a sua preferência pela palavra ‘festa’ (há anos ele está à frente da afamada Festa do Livro organizada nas dependências das USP, que reúne milhares de pessoas durante vários dias).

Segundo Plínio, a publicação de Épicos, em co-edição com a Imprensa Oficial do Estado, merece ser festejada. Não só porque marca os 20 anos de reformulação que deu origem à editora – referência entre as editoras universitárias brasileiras –, mas por ser a milésima obra, preparada com esmero, que vai  permitir ao estudante de pós-graduação ou pesquisador uma releitura de clássicos editados de forma confiável.

São eles: Prosopopéia, de Bento Teixeira; O Uruguay, de Basílio da Gama; Caramuru, de Santa Rita Durão; Vila Rica, de Cláudio Manoel da Costa; A Confederação dos Tamoios, de Gonçalves Magalhães; e I-Juca Pirama, de Gonçalves Dias. 

Para conceber e organizar Épicos, seis livros num único volume de 1,3 mil páginas, Plínio convocou Ivan Teixeira, professor de Literatura Brasileira da Escola de Comunicação e Arte da USP e da Universidade do Texas, em Austin (EUA).

 O objetivo é zelar pelo acervo de obras clássicas escritas em português, oferecendo aos pesquisadores textos com apurado rigor editorial, acompanhados de estudos que situem e relacionem as obras com as questões de seu tempo e a história da leitura. “Trata-se de resgatar, preservar e apresentar textos que nem sempre seduzem editoras privadas”. 

Há uma breve apresentação da coleção, assinada por Ivan Teixeira, seguida de um longo e sistemático estudo sobre o gênero épico, escrito por João Adolfo Hansen, da Faculdade de Letras da USP. Na seqüência, os seis poemas, cada qual antecedido por ensaios escritos por especialistas especialmente convidados. No final da publicação, há um minucioso glossário, que esclarece dificuldades vocabulares, mitológicas, históricas e geográficas. 

Nova fase – A criação do Departamento Editorial em 1988 foi o primeiro passo para reformulação da Edusp, que até então fazia apenas co-edições com editoras particulares. Esteve a cargo do professor e crítico João Alexandre Barbosa (1937-2006) e de Plínio Martins Filho, por iniciativa do reitor da época, José Goldemberg. Era o início de uma nova fase do livro universitário no Brasil.

De lá para cá, a Edusp ganhou mais de 60 prêmios Jabuti, atingiu um nível de excelência que repercutiu em outras editoras universitárias brasileiras e superou o lugar-comum de que ‘livro universitário não vende’. Hoje, um terço dos mil títulos está esgotado. “Quando a USP imprime sua marca em um livro, ela está dando seu aval e esse livro é reconhecido como produto de qualidade”, observa Martins. “Na verdade, quebramos muitos paradigmas do livro universitário ao longo desse tempo”.

José Goldemberg conta que a ação tomada em relação à Edusp se enquadrava dentro de uma tentativa geral para reerguer a própria universidade. Ele foi o primeiro reitor escolhido no regime democrático instaurado com o fim da ditadura militar. “Reerguer a USP, em todos os sentidos, significava também reerguer a Editora da USP”.

Para ele, uma editora universitária tem missão maior do que uma editora comercial. Anteriormente, ele havia se impressionado com a Editora da Universidade de Brasília, que publicava livros importantes, que não seriam publicados por uma editora puramente comercial. “Achei que a Edusp devia abandonar a idéia clássica da co-edição, que dava um ranço comercial para as atividades dela.” Hoje, a Edusp o impressiona: “O fato de ter atingido mil títulos fala por si mesmo”. 

Excelência – De acordo com o bibliófilo José Mindlin, presidente da Comissão Editorial da Edusp, o padrão de excelência foi se acentuando na vida da editora “e nisso muito contou a experiência e paixão do professor Plínio, que veio para produzir os livros da Edusp. Tem um padrão bem satisfatório, publica livros excelentes, desempenha com tranqüilidade esse papel, pode-se dizer com orgulho”.

Plínio lembra que uma das coisas “mais gritantes” era que não se publicava a produção da própria Universidade de São Paulo. “Se fosse trabalho originado de uma tese universitária, não era aprovado. Acabamos com essa idéia e adotamos o princípio de publicar o melhor da produção universitária, sempre a partir de seleção rigorosa, com pareceres de uma comissão editorial montada pelo João Alexandre”. A comissão ostenta até hoje nomes consagrados no universo editorial e livreiro, como o professor da Faculdade de Direito e presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Celso Lafer, e o bibliófilo José Mindlin.  

Parceria – Pessoas de dentro e de fora da USP, ligadas ao livro, preocupavam-se com o novo projeto, mas Plínio estava confiante. “Continuamos aceitando as parcerias para co-edições, mas a política mudou, com a divisão equânime dos custos. Hoje temos a parceria com a Imprensa Oficial, que desempenhou um papel fundamental no crescimento da editora”, afirma Plínio. Do ponto de vista das vendas, História do Brasil, de Boris Fausto, da Coleção Didática, é o maior sucesso: vende entre 10 e 15 mil exemplares por ano. Está na 12ª edição e será publicado brevemente em italiano e japonês.

Vale citar como marcos dessa nova fase a Enciclopédia da Língua de Sinais Brasileira, a Coleção Mário de Andrade, que faz parte da Coleção Uspiana Brasil 500 Anos, Coleção Artistas da USP, Edusp: Um Projeto Editorial, O Romanceiro da Inconfidência, São Paulo: Ensaios e Entreveros, A Casa de Dona Yayá. Todos em co-edição com a Imprensa Oficial. 

Mais uma fornada 

Já está em andamento o segundo volume da Multiclássicos, que conterá romances da segunda metade do século 19. Dessa vez, o foco será para os naturalistas Aluísio Azevedo (O Homem), Inglês de Souza (O Missionário), Aluísio de Azevedo (O Cortiço), Júlio Ribeiro (A Carne), Raul Pompéia (O Ateneu) e Adolfo Caminha (O Bom Crioulo), respectivamente apresentados por Paulo Rouanet, Marcelo Bulhões, da Unesp, professora Orna Levin, Leopoldo Bernucci, da Universidade da Califórnia, Ivan Teixeira e Josiana Arroyo, da Universidade do Texas.

Plínio Martins, diretor-presidente da Edusp – “A Edusp provou que o livro acadêmico bem-feito pode competir com qualquer outro na estante de uma boa livraria. Prova disso é que cerca de um terço dos mil títulos está esgotado”. 

Maria das Graças Leocadio

Da Agência Imprensa Oficial